Dossiê Desastres

| ano 10, n. 25, 2023 |

EDITORIAL

Cada vez mais vivemos em uma era de desastres. De saída, a intensificação dos eventos climáticos extremos amplia o cenário de incertezas e catástrofes, caracterizado pelo Antropoceno. A destruição e a ruína ambiental, não raramente associadas às narrativas do fim do mundo, parecem evocar a ausência de expectativas e de futuros para os seres humanos, dando a ver a dimensão da nossa passividade. De que mundo(s) estamos falando? Se, por um lado, as mudanças climáticas nos demonstram a falência dos modos distanciados de se compreender o ambiente, por outro, suas consequências nos situam em cenários de iminência e desolação globais – a globalização das ameaças, como pontuou Stengers –, diante dos quais os modos de resistir se fazem necessários.

Este dossiê não é, no entanto, apenas uma constatação de que estamos vivendo um tempo de desastres, marcado por mudanças climáticas e destruições sistêmicas de muitos tipos. Encontraremos aqui diferentes modos de problematizar, pensar, sentir e viver esse tempo, partindo da etimologia da palavra – des-astre – sinalizando uma desconexão com o astro, entendido inicialmente como ‘estrela’ – aquilo que deveria ser luz e guia (a fixidez harmônica dos astros, da razão, das direções imutáveis), nos levando a pensar, em um segundo momento, na desconexão de alguns humanos com a Terra – talvez o maior desastre de todos: emaranhados nas nefastas lógicas capitalizadas, esquecem que a Terra também é um astro, planeta que nos dá direção e abrigo. Podemos dizer, seguindo Maurice Blanchot, que o desastre é sua própria iminência, desorienta nossas certezas e as pretensões humanas. Trata-se de um dossiê que opera, portanto, por meio da ética inter(in)disciplinar do fragmentário, propondo diálogos e ressonâncias entre trabalhos que abordam artes, literatura, filosofia, biologia, política, com outros que se dedicam a acontecimentos catastróficos específicos, com reflexões e apontamentos em torno das possibilidades de testemunho, modelagem, adaptação, mitigação e criação diante dos desastres.

O que esses trabalhos apontam é a urgência de reaprendermos a tecer conexões afirmativas com a Terra, e que isso demanda um trabalho árduo e lento, que precisa ser feito com muitos. Por isso, avançando pela (im)possibilidade de pensar o desastre, este dossiê reúne rios, mares, areias, cinzas, vegetais, fungos, matas, montanhas, vulcões, animais, espectros, orixás, máquinas, plásticos, resíduos, imagens, sons e pessoas em pesquisas e produções artísticas e jornalísticas que abarcam diferentes áreas: metereologia, engenharia, sócio-hidrologia, sociologia, economia, história, filosofia da ciência, filosofia da arte, filosofia da diferença, comunicação, linguística, literatura, cinema, fotografia, performance, escultura… bem como as intercessões e encruzilhadas entre ciências, artes, filosofias, educações e divulgação científica. Áreas e entrecruzamentos que mobilizam distintas práticas, tais como medir, escrever, desenhar, cortar, colar, performar, fotografar, montar…, com diversos materiais, desde matérias jornalísticas, conceitos filosóficos, imagens, dados, terra, plantas, corpos, palavras, papéis… através de procedimentos também diversos: investigações quantitativas, avaliações de risco, análises hermenêuticas, novos materialismos, agenciamentos maquínicos, manipulações gráficas, fabulações, ficcionalizações, experimentações poético-científicas…

 

(Leia o editorial completo em PDF)

 

Editores | Gabriel Cid de Garcia, Viviana Aguilar-Muñoz, Jose Antonio Marengo Orsini, Eduardo Mario Mendiondo e Susana Oliveira Dias

Editoração | Susana Oliveira Dias, Leo Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva e Rayane Barbosa

Capa | Beá Meira


| Sumário | Dossiê “Desastres” |

| Ano 10, n. 25, 2023 |

SEÇÃO PESQUISA

ARTIGOS

Construíndo ruínas: relações entre imagem, dados e ecologia mediante as crises ambientais

Claudio de Melo Filho e Fernanda de Souza Oliveira

A configuração das mulheres na narrativa jornalística em cobertura de desastres

Alice Bianchini Pavanello e Márcia Franz Amaral

Filmes de ficção climática: o papel da arte na comunicação e representação do desastre

Suellyn Emerick e Rodrigo Bastos Cunha

Ante la catástrofe: arte, cuerpo y pensamiento

Sigifredo Esquivel Marin

Escombros, resíduos e cinzas no final da paisagem do norte da Patagônia argentina. Uma análise material cinematográfica de Los muertos dos de Manque La Banca e Puyehue de Victoria Sayago e Bruno Stecconi

Maia Gattás Vargas

Impactos socioeconômicos de desastres na Bacia do Rio Paraíba do Sul: uma análise do período 2003-2022 

Lucia Calderón Pacheco, Paula Sayeko Souza Oda e Victor Marchezini

Desafios da assistência psicológica na fase de resposta ao desastre tecnológico em Brumadinho (Minas Gerais/Brasil)

Ariel D. Pontes Afonso e Alexandre Barbosa de Oliveira

CASH Paradox, ReWASH, Bronze-2-Gold e JEDI AWAKENS: introdução de novos conceitos para aprimorar a sustentabilidade da interseção água-energia

Gabriel Marinho e Silva, Pedro Gustavo Câmara da Silva, Mateo Hernández Sánchez, Maria de Andrade Rocha alencar Castro, Luís Miguel Castillo Rapalo, Marcus Nóbrega Gomes Junior, Marcos Roberto Benso, Lara Moreira Compri, Milena Rosa de Sousa, Rebecca Sankarankutty e Eduardo Mario Mendiondo

Reflexões sobre o Antropoceno e seus desastres através de Quincas Borba

Talita Gantus Oliveira e Jefferson de Lima Picanço

 

ENSAIOS

O que são eventos extremos? Perspectivas multidisciplinares como subsídios à gestão de riscos de desastres

Victor Marchezini, Christopher Cunningham, Giovanni Dolif, Pedro Ivo Camarinha, Paula Oda e Renato Lacerda

Os descompassos da questão ambiental ou o colapso como horizonte

Wellington Tibério

The perspective of early career scientists of Modeling and Mitigating Unprecedented Flood Disasters in Data-Scarce Regions – Derna city flood case

Mateo Hernández Sánchez, Pedro Gustavo Câmara da Silva, Gabriel Marinho e Silva, Maria de Andrade Rocha Allencar Castro, Luís Miguel Castillo Rapalo, Marcus Nóbrega Gomes Junior e Eduardo Mario Mendiondo      

Fungos, processos e poéticas de interdependência

Maíra Velho

Precisamos falar sobre afetos e sobre a dissociação que nos condena a insistir em nossos erros

Patricia Cecilia Burrowes

Diante do desastre… 10 dicas incertas para escrever apesar de 

Nathália Terra Barbosa e Victoria Cardin Alfano Raposo

Sobre outros fins – mudanças climáticas e a urgência de novos futuros

Razí Rodrigues da Silva, Eduardo Trusz de Mattos e Tatiana Souza de Camargo  

O mar pede socorro um alerta pela arte

Jéssica Galon da Silva Macedo

 

RESENHA

O carrego colonial e a possibilidade de invenção nas frestas

Evandro Arruda de Martini

 

SEÇÃO ARTE

ARTES

(Des)astre

Carlos Rivera  

Arranjos florais do fim do mundo
Estefania Gavina

A inteligência artificial poderia reconhecer e representar desastres?

Fernando Pereira Silva

Em andamento – Rampa de (In)acesso

Ana Lúcia Alves Lucchese

A peste se alastra
Tiago Amaral Sales

Sonho
Ernesto Bonato

Imaginários de desastres

Carolina Azpiazu, Viviana Aguilar-Muñoz, Allan Yu Iwama e Fabiana Seleguim

In the south turtles do not age

Paula Scamparini Ferreira

Excidium
Paulo Manaf

Paisagens brasis em brasa
Keyme Gomes Lourenço

Paisagem arrebatada
Beá Meira

Poda

Marina Guzzo 

Lama

Marina Guzzo, Kidaune Regina, Eleonora Artysenk, Fixxa, Diez e Mayara Andrade

Mapa dos sonhos

Mariana Vilela

Mulheres e Paisagens – RIO

Kidauane Regina Alves, Olga Maria de Sousa Silva e Marina Souza Lobo Guzzo

Y

Eleonora Artysenk 

Mulher Minotauro – Cria
Silvana Sarti

Evocação ao rio, 2022
Lis Haddad

 

LABORATÓRIO-ATELIÊ

Paisagem sob inventário

Sylvia Furegatti (ed.)

Muito além da capa

Renata Maciel Ribeiro

Um navio mundo ou um mundo de navios?
Marta Zapata Chavarría

Agrofloresta em festa II

Coletivo Terrinha

Cabeça vegetal, uma experiência para além dos sentidos

Mariana Vilela 

Fazer floresta

Gabriela Leirias, Licida Vidal e Susana Dias

multiTÃO pesquisas 2023

Grupo multiTÃO

Quando os monstros-memória fogem pelas frestas da cidade

Nicole Izzo Piccinin

Emaranhados vegetais 

Bianca Santos, Breno Filo, Marília Frade e Susana Dias 

 

RESIDÊNCIAS CLIMACOM

Perceber-fazer floresta I

Susana Dias (Coord.)

 

ARQUIVO FLORESTA

Ciclo “Ecopoéticas: educação, arte e Antropoceno” – Seminário 2

Santiago Arcila e Alyne Costa

Ciclo “Ecopoéticas: educação, arte e Antropoceno” – Grupo de Estudos 3

Renzo Taddei

Ciclo “Ecopoéticas: educação, arte e Antropoceno” – Seminário 3 

Sigifredo Esquivel Marin e Ana Paula Valle Pereira

Ciclo “Ecopoéticas: educação, arte e Antropoceno” – Grupo de Estudos 4

Shaula Maíra Vicentini de Sampaio

Ciclo “Ecopoéticas: educação, arte e Antropoceno” – Seminário 4

Alejandro Miroli e Alejandra González

Modulaciones espectrales del Antropoceno y Potencias de lo inorgánico en el horizonte del Antropoceno 

Santiago Arcila y Federico Nieto 

Arte e educação em uma Terra viva e ferida

Nei Leite Xakriabá

 

SEÇÃO LIVROS

Companhia como modo de atenção à Terra

Bianca Santos, Breno Filo, Marília Frade e Susana Dias

 

SEÇÃO JORNALISMO

REPORTAGENS

Desastres climáticos no Brasil e o papel do poder público no seu gerenciamento

Talita Gantus de Oliveira 

 

NOTÍCIAS

Quando a crise climática esbarra no racismo

Emanuely Miranda 

 

COLUNA ASSINADA – IGBIN OBÀTÁLÁ

Legado dos povos indígenas na Amazônia: até doze mil anos da produção eficaz de biodiversidade cultural e agrobiológica

Maria da Glória Feitosa Freitas

Práticas de sacerdotes yorubas e ervas que insistem em viver no Parque do Rio Bixiga: uma homenagem ao Zé Celso Martinez

Maria da Glória Feitosa Freitas

Solstício de verão no Hemisfério Norte, Ano Novo Yoruba e mudanças climáticas: chegou o ano 10.065!

Maria da Glória Feitosa Freitas

 

PRÓXIMOS DOSSIÊS | CHAMADAS ABERTAS

Dossiê “Clima, territórios e povos indígenas”

Editores: Valdelice Veron, Edson Kayapó, Bárbara Flores, Kellen Vilharva, Alik Wunder, Renzo Taddei e Susana Dias

 

FICHA TÉCNICA

Editores | Gabriel Cid de Garcia (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), Jose Antonio Marengo Orsini (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden), Eduardo Mario Mendiondo (Universidade de São Paulo – USP) e Susana Oliveira Dias (Universidade Estadual de Campinas – Unicamp).

Editoração |Susana Oliveira Dias, Leo Arantes Lazzerini, Natan Rafael Neves da Silva e Rayane Barbosa

Pareceristas | Adrián Cangi, Adriano Bressane, Alexandre Ferreira de Mendonça, André Bocchetti, Andreza Oliveira Berti, Angela Medeiros Santi, Anunciata Cristina Marins Braz Sawada, Daiane Bertasso Ribeiro, Davi de Codes, Eduardo P. Gutiérrez, Eduardo Pellejero, Emelice Prado, Henrique Silva, Jefferson de Lima Picanço, Leonardo Davino de Oliveira, Leonardo Ribeiro Teixeira, Lilian Maus Junqueira, Livia Gonzaga Moura, Marcelo de Moura Carneiro Campello, Maria Jacqueline Girão Soares de Lima, Marko Monteiro, Marta Mourão Kanashiro, Michele Fernandes Gonçalves, Monalisa Valente Ferreira, Pablo Enrique Abraham Zunino, Pamela Zacharias, Rafael Caetano do Nascimento, Rafael de Almeida Evangelista, Regina Carmela, Renzo Taddei, Sabine Rigueti, Sara Melo, Sheila Hempkemeyer, Sônia Regina da Cal Seixas, Stella Zagatto Paterniani, Talita Gantus de Oliveira, Thiago Ranniery Moreira de Oliveira, Viviana Munoz, Walmeri Ribeiro, Wenceslao Machado de Oliveira Jr.

Capa | Beá Meira

Grupos | multiTÃO – prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq); NuFFC – Núcleo de Pesquisa em Filosofia Francesa Contemporânea.

Redes de Pesquisa | Rede Latino-americana de Divulgação Científica e Mudanças Climáticas.

Instituição | Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Setor de Cultura, Comunicação e Divulgação Científica e Cultural – Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SeCult-FE/UFRJ).

Projetos | Projeto de pesquisa Tema Transversal “Divulgação do conhecimento, comunicação de risco e educação para a sustentabilidade” do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC 2a. Fase) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Projeto Perceber-fazer floresta: alianças entre artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno (Fapesp 2022/05981-9).

Pós-graduação | Programa de Pós-Graduação em Divulgação Científica e Cultural do Labjor-IEL-Unicamp.