Territórios e Povos indígenas



Dossiê Territórios e Povos Indígenas

| ano 11, n. 26, 2024 |

EDITORIAL

“Depois de os relatos da ecologia terem surgido nas cidades, nossas palavras sobre a floresta puderam ser ouvidas pela primeira vez”, “Temos palavras para contar como Omama a criou nossa terra-floresta […]. O que vocês chamam de “natureza” na nossa língua é urihi a, a terra-floresta e também sua imagem vista pelos xamãs, Urihinari a. É porque essa imagem existe que as árvores estão vivas” (em o Espírito da floresta – Bruce Albert e Davi Kopenawa).

Neste dossiê se reúnem pessoas, lideranças, pesquisadores, professores e artistas de diversos povos indígenas: Guarani-Kaiowá e Mbya, Tukano, Borum Kren, Baniwa, Pataxó, Tupinambá, Kaingang, Terena, Baré, Karapãna, Kuikuru, Ticuna, Kariri-Xocó… e de comunidades afrodiaspóricas. Participam, também, pesquisadores, pesquisadoras, escritores, escritoras e artistas que atuam, pesquisam, pensam e criam com os povos indígenas a partir das diversas dimensões dos impactos das mudanças climáticas. Apresentamos uma multiplicidade de expressões dos modos de existir desses povos em obras artísticas (grafismos, livros-objeto, performances, colagens digitais, desenhos, fotografias, esculturas…) e textos nos mais diversos formatos (artigos, entrevistas, ensaios, colunas assinadas, reportagens…) que buscam dar a ver/ouvir/perceber as formas diversas de viver, partilhar, lutar e resistir dos povos indígenas, pela vida e com a vida. Tais materiais pensam e experimentam juntas.es.os sobre como os modos de ser e viver dos povos indígenas, na relação com os diversos biomas, têm protegido os rios, os mares, as plantas, os bichos, as entidades, e esses diferentes seres em complexas e multidimensionais relações, garantindo um delicado equilíbrio do clima na Terra. Os territórios emergem intimamente conectados aos corpos, aos ancestrais, aos conhecimentos, como espaços-tempos de interações complexas e vitais entre naturezas e culturas, que são constantemente ameaçados pelas atividades capitalizadas e criminosas do garimpo, do agronegócio e da especulação imobiliária. São histórias inadmissíveis de cerco e usurpação de territórios, expulsão das terras, genocídio e ecocídio. Histórias, também, de ocupações, retomadas e demarcação de terras, através de muitas lutas que precisam – gritam os textos e imagens deste dossiê – de mais apoio, colaborações, coexistências e cocriações. No dossiê damos visibilidade a alguns diálogos entre artes, ciências e filosofias de indígenas e não indígenas, ao modo como esses diálogos alteram as percepções e criam novos campos de problemas, abrem para novas abordagens ontoepistemológicas, propõem novos modos de pensar, sentir e viver diante do Capitaloceno/Antropoceno/Plantationoceno. Mas, sem dúvida, o maior resultado deste dossiê é o chamado para que tais colaborações se intensifiquem e para que as comunidades envolvidas na defesa das questões ambientais e climáticas abram escuta para os povos indígenas. Precisamos levar a sério que as discussões em torno do novo regime climático estão intimamente relacionadas às lutas dos povos indígenas pelo direito aos territórios, pela educação, saúde, bem como à participação nas diversas instâncias políticas de discussão e decisão, nacionais e internacionais, sobre as mudanças climáticas. Como diz Valdelice Veron, lembrando uma frase de seu pai Marcos Veron: “é preciso fazer o papel falar”.

Editores | Valdelice Veron, Edson Kayapó, Bárbara Flores, Kellen Natalice Vilharva, Alik Wunder, Renzo Taddei e Susana Dias.

Editoração | Susana Oliveira Dias, Rayane Barbosa, Natan Rafael Neves da Silva e Leo Arantes Lazzerini.

Capa | Grande | obra coletiva Jardim dos saberes ancestrais na Faculdade de Educação da Unicamp, fotografia e colagem de Guilherme Sousa da Silva; Pequenas | Jardim de encantarias: partilha de sonhos desenhados, de Breno Filo Creão de Sousa Garcia.

 

Leia Mais…

ARTIGOS

Teko-Vida, Tekoha-Território | Valdelice Veron Kaiowa e Sílvia Guimarães

Ecocídio, desterritorialização e a resistência das mulheres indígenas | Bárbara Nascimento Flores Borum-Kren e Flávio de Leão Bastos Pereira

O Bem Viver enquanto caminho para a elaboração das feridas coloniais | Andressa Fouraux Figueira e André do Eirado Silva

A educação (escolar) indígena: uma contribuição a partir da experiência de Minas Gerais | Rafael Otávio Fares Ferreira

O que a ciência Mbya Guarani ensina ao juruá? Alianças afetivas junto a Aldeia Indígena Ara Hovy, em Maricá (RJ) | Daniel Ganzarolli Martins, Leandro Kuaray Mimbi Chamorro e Maria Martinha Barbosa Mendonça

Cantar, contar, imagear: sopros para uma educação intercultural indígena com Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré | Rafael Caetano do Nascimento

Um convite a viver juntos – fazendo o “nós complexo”[*] | Marisol de La Cadena. Trad. Susana Dias e Renzo Taddei


RESENHAS

Decolonialismo indígena a partir de Álvaro Gonzaga | Emanuely Miranda


ENSAIOS

O grafismo-contraste do povo Kariri-Xocó: partilha de um mundo das diferenças | Victor Hugo da Silva Iwakami e Grupo Sabuká Kariri-Xocó

Pena Branca e Sete Flechas: caboclaria em defesa da vida | Carolina Noury

Os relatos multiespécies de Donna Haraway e Anna Tsing: criando mundos possíveis para além do Plantationocene em diálogo com as cosmovisões indígenas | Marina Souza Leão Araujo e Fagner José Coutinho de Melo

Terra que não é, em lugar de ninguém | Amintas Lopes da Silva Junior

Da logosfera à biosfera: o preservar das línguas de Abya Yala e suas epistemologias | Gabriel D. Gruber

O mortífero mundo branco e os múltiplos mundos originários | Silvia Brandão

Relações sociedade-natureza nas obras O som do rugido da onça e O abraço da serpente | Vinicius Augusto da Silva Vasconcelos Nunes, Vatsi Meneghel Danilevicz e Christiana Cabicieri Profice


FLUXO CONTÍNUO

Arte-educação, arte popular e memória: quando os monstros-memória fogem pelas frestas da cidade | Nicole Izzo Piccinin e Selma Machado Simão


COLUNA ASSINADA

Semeando histórias indígenas: uma experiência de contação de histórias indígenas no projeto Circuito Sesc de Artes de 2023 | Anélita Núñez

As asas da curiosidade: Felipe e a observação de aves | Felipe Ferreira e Celina Yoshihara


JORNALISMO

“Podemos sim mudar e revitalizar a terra” – Entrevista com Valdelice Verón, liderança indígena Guarani Kaiowá | Emanuely Miranda

“Nós temos que romper com a lógica antropocêntrica e pensar na vida para além da vida humana” – Entrevista com Édson Kayapó | Emanuely Miranda

“Estamos avançando e novamente ganhando terreno na agenda ambiental” – Entrevista com José A. Marengo – | Emanuely Miranda

Mudanças climáticas, educação e prevenção | Jeniffer Faria, Carolina Esteves, Rachel Trajber e Tatiana Massaro

A relação entre consumo de carne e mudanças climáticas no âmbito coletivo | Emanuely Miranda


IGBIN OBÀTÁLÁ

Obàtálá: criador de criaturas e criadores – lançamento do livro

Ilé Ifè, cidade do amor, primeira morada de òrìsà na Terra, bem antes da diáspora africana | Maria da Glória Feitosa Freitas

De quem são as terras fertilizadas na Amazônia antiga e nosso amado futuro ancestral? | Maria da Glória Feitosa Freitas


PEGADA HÍDRICA

Entrevista com Eduardo Mario Mendiondo | Diana Zatz

Entrevista com Diego Cézar dos Santos Araújo | Diana Zatz

Entrevista com Suzana Montenegro | Diana Zatz



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ARTES

Jardim dos saberes ancestrais | obra coletiva – Faculdade de Educação (Unicamp)

Pisa na Tradição | Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Laboratório Cisco

Cosmovisões | Marcília Cavalcante Barros

Ulei, corpo ancestral | Lilly Baniwa, Vera Moura Tukano, Mawanaya Waujá, Davina Marques e Alik Wunder

Entre traços e ancestralidades | Rayane Kaingang

O Teatro de Arena e suas camadas de ancestralidade artística e cultural | Sylvia Furegatti (Coord.)

Jardim de encantarias: partilha de sonhos desenhados | Breno Filo Creão de Sousa Garcia

Coleção Olhos Limpos | Isa Rabisca, Projeto Flor e Amarela amplia

Metamorfoses | Karina Miki Narita

Na volta do mundo | Alice Villela e Hidalgo Romero

Urucum fruto útero | Andrea Desiderio da Silva e Rafael Caetano do Nascimento

Panema desnorteando | Gislaine Pagotto


LABORATÓRIO ATELIÊ

A Carne de Gaia | Beá Meira, Claudia Baré, Larissa Ye’pa e Rayane Kaingang  

O canto dos sapos e a escuta multiespécies | Natália Aranha, João Bovolon, Elisa Valderano e Susana Dias

Oficina “Tecendo com as ervas” | Juliana Andina Batista (Coord.)

Oficina “Esculturas orgânicas para espantar o desencanto” | Ana Lúcia Alves Lucchese (Coord.)

Mesa de trabalho “Perceber-fazer floresta” | Grupo multiTÃO

Oficina “Chitas e estamparias” | Cris Mendes (Coord.)

Oficina “Escrever imagens, imaginar escritas” | Mariana Zilli e Wallace Fauth (Coord.)

Oficina “Da trilha à tinta” | Ursula Steffany e Luiza Marcato (Coord.)

Oficina “Desenho para ver o invisível” | Silvana Sarti (Coord.)

Emaranhados vegetais II | Bianca Santos, Breno Filo, Marília Frade e Susana Dias (Coord.)


RESIDÊNCIAS CLIMACOM

Conversa com Maria Alice Paulino (Karapãna) e Kellen Natalice Vilharva (Guarani-Kaiowá) – Residência artística “Perceber fazer floresta I”

Tierra (exposição)

Perceber-fazer floresta II

ARQUIVO FLORESTA

Devir com os vírus nas ruínas do Antropoceno – Ramon Fontes, Thiago Ranniery e Tiago Sales

Juliana Fausto – em conversa com o grupo multiTÃO

Oficina “Seguir os sapos” | Natália Aranha, Rayane Barbosa e Susana Dias (Coord.)

Oficina “Plantas companheiras” | Alessandra Ribeiro, Emanuely Miranda e Susana Dias (Coord.)

Oficina “Corpos-solos-vivos: exercícios de contemplação, conversa e criação” | Tatiana Plens Oliveira (Coord.)

Encontro 1 | A carne de Gaia | Beá Meira

Encontro 2 | A experiência como prática artística | Valéria Scornaienchi e Alexandre Sequeira

LABORATÓRIO ATELIÊ