Quatro cantos | Coletivo multiTÃO | Natália Aranha e Susana Dias (Coord.)

Título |Quatro cantos

A sala escura, os pés descalços, uma lanterna nas mãos, ouvidos tateiam atentos… Nesta instalação os visitantes entraram em relação com quatro ambientes, feitos em papel, em que podiam ser encontradas quatro diferentes espécies de sapos: chão de mata (Leptodactylus fuscus), bromélias (Fritziana ohausi), brejos (Boana faber) e riachos (Hylodes phyllodes). Para criar as sensações de cada ambiente foram escolhidos diferentes tipos de os papéis e trabalhados de distintos modos. Para recriar o chão da floresta papéis jornais foram amassadados e outros recortados em forma de folha; como os jornais traziam muitas opiniões massificadas, propagandas, interesses mercadológicos e duvidosos, foi necessário apagar com marcadores de texto quase todos os textos e imagens deixando reluzir apenas algumas palavras, brechas para que a floresta se fizesse possível. O ambiente dois riachos foi criado com páginas de livros didáticos de geografia amassados para simular as pedras. Já o brejo ganhou vida com papelão em camadas e papel vegetal rasgado às tiras e com poemas escritos à mão. Por fim, o ambiente das bromélias foi criado com cores de papel seda e imagens de bromélias pintadas pela artista Silvana Sarti. Através de sensores de movimento, os cantos das quatro espécies podiam ser escutados quando os visitantes percorriam a sala. No entanto, os cantos não eram ouvidos apenas como em uma floresta, pois foram editados para que pudéssemos acessar os sapos em seus devires cantores, músicos, artistas. No primeiro dia da instalação, a artista Silvana Sarti também fez a performance Cantata ornata.

 


 

Mostra | Seguir os Sapos

O Brasil é um hotspot de biodiversidade para anfíbios. Só na Mata Atlântica são conhecidas mais de 700 espécies de anfíbios anuros, sendo que 90% destes são endêmicos deste bioma. Os anuros são animais ectotérmicos, ou seja, necessitam de fontes externas para conseguir manter sua temperatura, são sensíveis aos efeitos causados pela mudança na temperatura ambiental e precipitação, interferindo na fisiologia e nas interações com outros seres vivos. Devido a hipersensibilidade dos anuros à poluição química, de rios e águas superficiais, doenças, fragmentação de áreas, mudanças climáticas, radiação ultravioleta, além de outros fatores, atualmente estão entre o grupo de vertebrados terrestres com maior risco de extinção. Para encontrá-los, além de olhos treinados, os herpetólogos nos ensinam que é preciso estar atento aos seus cantos. Os sapos emergem, no encontro com as ciências biológicas, como cantores que desafiam o sistema perceptivo, pois é preciso inventar um corpo que se lança na mata no escuro da noite e que se torna capaz de enxergar com os ouvidos. Conhecer as práticas dos herpetólogos, e experimentar criações artísticas com eles, pode ser um modo de ganhar intimidade com os sapos, uma maneira de aprender a seguir seus modos de existir entre meios. Esta Mostra é resultado dessa aposta, experimentada na Residência Artística ClimaCom “Seguir os sapos” e na disciplina “Arte, ciência e tecnologia” do Programa de Pós-Graduação em Divulgação Científica e Cultural do Labjor-IEL-Unicamp (2023), ambas realizadas em parceria com o Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros (LaHNAB), do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Uma parceria que buscou ativar conexões vivas entre artes, ciências que levem a sério o que pode ser a criação de uma relação de amizade, companheirismo, vizinhança e parentesco com os sapos que sejam capazes de gerar novos modo de perceber, pensar, sentir, imaginar e agir mais conectados com a Terra.

 

| FICHA TÉCNICA |

Concepção e criação | Coletivo multiTÃO – Ana Clara Silveira do Carmo, Ana Lúcia Alves Luchese, Fernanda Priscilla Capuvilla, Karina Miki Narita, Pedro Augusto Dias Lima Moreira Santos, , Marta Judith Zapata Chavarria, Marcelo Carlos de Sousa Soares, Wallace Franco da Silva Fauth, Nestor João Turano Junior, Natália Aranha de Azevedo, Fernanda Mariath Amorim Wester, Mariana Vicente Zilli, Augusto Totoli Rovina Salgado, Izabel Maria Barral Teixeira, Júlia Ramos de Lima, João Paulo Sampaio, Juliana Andina Batista, Rosana Torralba, Silvana Sarti Silva, Valentina Melgar Bermúdez e Vinícius Tironi Galhardo.

Edição de sons | Paulo Telles e João Pedro Bovolon.

Concepção sonora e de interação | Paulo Teles e João Pedro Bovolon.

Texto | Susana Dias.

Fotos e vídeos | Juliana Valbert Gomes, Juliana Andina Batista, Rosana Torralba e Susana Dias.

Mostra | “Seguir os sapos”, Labjor-Unicamp, sob coordenação de Natália Aranha e Susana Dias.

Maio de  2023

 

 

 

 

COLETIVO multiTÃO, ARANHA, Natália, DIAS, Susana. Quatro cantos. ClimaCom – Políticas vegetais [online], Campinas, ano 10, Maio. 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/quatro-cantos/

SEÇÃO ARTE | CIÊNCIA.VIDA.EDUCAÇÃO. | Ano 10, n. 24, 2023

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