Como libertar-se do bom professor? aprendizagens por espreitas, interrogações e encontros | Tamiris Vaz
Tamiris Vaz [1]
Processos do aprender docente
Escolhi trazer para essa escrita um pouco do que tenho experimentado em meus processos de atuação docente junto ao curso de licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia. É um processo recente, em que tenho buscado caminhos para dar continuidade a muitas das questões que mobilizaram minhas pesquisas de mestrado e doutorado, especialmente sobre os caminhos do aprender enquanto processo de criação, acompanhados das filosofias da diferença para pensar a aprendizagem de si nos movimentos da vida cotidiana.
Nos processos de trabalho na formação inicial de docentes tenho priorizado a presença de três posturas inventivas: de espreita (para viver o percurso); de interrogação (para ativar o movimento e permitir desvios); de encontro (para permitir a parada). Elas não seguem uma ordem linear, não são uma triangulação, mas envolvem deslocamentos que têm me composto enquanto professora e a partir dos quais tenho explorado o desafio de atuar na formação de docentes. Tratam-se de posturas que ativam a vida como processo de criação, onde a aprendizagem emerge de nossas potências de ação, de aprender-se/inventar-se docente.
O título dessa apresentação faz referência a escritos de Suely Rolnik (2018), onde a autora fala sobre a necessidade de liberarmos nossas vidas de sua cafetinagem a fim de permitirmos a passagem da pulsão vital, como um exercício intensivo do sensível entre as forças do corpo e do mundo, que dão acesso à potência de criação. Segundo ela, somos, atualmente, submetidos a uma cafetinagem do capital, que obstrui o acesso ao corpo vibrátil quando se utiliza da força da invenção como motor da economia, desvinculando a criação das formas de resistência. De maneira similar proponho aqui um pensamento sobre práticas educativas tomadas como inovadoras e salvadoras que, pelo encantamento, nos fazem idealizar a docência e romantizar os processos de aprender. Para recobrarmos a pulsão vital que move nossas invenções docentes, precisamos nos liberar dessas cafetinagens, não do professor de artes enquanto indivíduo, mas enquanto persona que nos antecede, que delimita nossas subjetividades.
(Leia o artigo completo em PDF).
Recebido em: 20/03/2021
Aceito em: 15/04/2021
[1] Doutora em Arte e Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria e Professora Adjunta do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: tamirisvaz@gmail.com
Como libertar-se do bom professor?
aprendizagens por espreitas, interrogações e encontros
RESUMO: Quando resistimos ao ímpeto formativo de fixar no corpo todas as fórmulas do ensinar, vão se abrindo alguns vazios para respirarmos docências singulares. Este artigo aborda um trabalho de formação docente que procura acionar desvios da imagem-professor, pela geração de aprendizagens-potência, produtoras de energia para o deslocamento. Relacionando o aprender com a vontade de estar junto, de compartilhar e criar tempo de produção coletiva, pensa a docência como invenção de possibilidades outras de saber, focando em uma prática disparada por espreitas, interrogações e encontros com mundos porvir. Para tanto, são apresentadas aqui algumas ações desenvolvidas junto a estudantes de um curso de licenciatura em Artes Visuais, utilizando das filosofias da diferença para pensar a aprendizagem docente como processo de criação de si nos movimentos da vida cotidiana. Aponta-se, assim, para a necessidade de nos descolarmos de modelos de bons professores e nos focarmos na invenção de docências singulares em diálogo com nossos referenciais e saberes formativos, atentando para aquilo que escapa, que se movimenta e que funciona diferente a cada momento, conectado às contingências dos processos de estar no mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem docente. Espreita. Encontro.
How to break free from the good teacher?
learnings through lookouts, interrogations and encouters
ABSTRACT: This article is a work on educational research experiments. It brings in its structure and body reflections beyond human centrality, or that directly imply it. The main objective is to displace the perception, creating cracks in the hegemonic thought that solidifies our bodies, plaster our gaze and restrict our relationships. Between play on words and variations of oneself, he talks about some effects of coloniality on social structures and on the construction of subjectivity, actively playing with fiction to think differently. In addition, it defends the practice of wandering, especially in the text, as an act to combat utilitarianism and contemporary accelerationism. Weaving a non-linear, fragmented and procedural writing makes in and of the text an exercise on what it proposes to discuss, betting on the power of disorder as a structural coping strategy in defense of life.
KEYWORDS: Education. Wandering. Body.
VAZ, Tamiris. Como libertar-se do bom professor? aprendizagens por espreitas, interrogações e encontros. ClimaCom – Coexistências e cocriações [Online], Campinas, ano 8, n. 20, abril. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/como-libertar-se-do-bom-professor/