Travessias de pesquisa e itinerários do ser(tão): experiências de leituras e coexistências na pós-graduação | Letícia Dell’ Osbel


 

Letícia Dell’ Osbel [1]

 

 “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele

se dispõe para a gente é no meio da travessia.”

(Rosa, 2019, p. 53)

 

O que se passa “no meio da travessia” das experiências de leitura e de coexistência que tenho vivenciado no novo espaço que ocupo – a pós-graduação? Esse questionamento move a minha escrita. Uma escrita que não busca uma compreensão, mas que escapa dessa representação e se desloca para um exercício vivo de escrita-experiência. Uma escrita ensaística, que faz da leitura e da escrita meus lugares de experiência, e da pós-graduação um espaço de movimentação, que tem contribuído para despertar outros itinerários do meu ser(tão). É assim que tenho sido afetada, é assim que tenho me reconhecido: em uma permanente experimentação de vida.

 

Nesse sentido, apresento neste ensaio contribuições de Dias (1993), Gallo (2002), Larrosa (2004, 2011), Mansano (2009), Pereira (2012) e Rolnik (2003), que me provocaram fissuras, vazios e encontros com meus processos subjetivos ao estudá-los no espaço acadêmico. E, numa tentativa mais do que ousada, também desejo movimentar essas contribuições com trechos de um grande clássico da literatura brasileira que há muito tempo desejava ler, Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (2019), e que me provocou a (re)pensar os modos de vida e de existência, e, por conseguinte, os modos de pesquisa em que tenho me aventurado junto com os autores supracitados.

O livro é um convite aberto ao exercício de experienciação de vida: “E eu estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente” (Rosa, 2019, p. 77). Do ínicio ao final da narrativa, acompanhamos Riobaldo, que vai contando suas memórias, caminhos e descaminhos a um interlocutor, que não se manifesta aberta e explicitamente, mas que é capaz de deixar o jagunço livre e exposto para reviver as experiências de sua vida. Todas as memórias passam por uma complexa análise de Riobaldo, que não resgata os acontecimentos na tentativa de compreendê-los, mas sim de produzir-se com os encontros e pela forma como foi e está sendo afetado por eles. Ele se desloca de possíveis certezas e definições e transborda para outros significados, em uma permanente inquietação.

 

(Leia o ensaio completo em PDF).

 

Recebido em: 20/03/2021

Aceito em: 15/04/2021

 

[1] Mestranda em Educação na Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:letidellosbel@gmail.com

Travessias de pesquisa e itinerários do ser(tão): experiências de leituras e coexistências na pós-graduação

 

 

RESUMO: Este ensaio apresenta recortes de experiências de leituras e de coexistências na pós-graduação que propulsaram movimentos de libert(ação) para novos e outros itinerários do ser e para novas e possíveis travessias de pesquisa. A escrita ensaística mostra um corpo-pensamento que se aventura a um exercício vivo de experiência-escrita ao também ser movimentada pelos afetos com a obra literária Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. “No meio” dessa travessia de pesquisadora em educação, surgem outros olhares para a produção de uma pesquisa na pós-graduação que investiga as subjetividades surdas em escolas estaduais de ensino regular. À medida que a escrita ensaística coloca em movimento as subjetividades de uma autora em experienciação, entre aquilo que é e aquilo em que está se tornando, também deseja pôr em movimento as subjetividades surdas. Para tanto, escolhe-se como materialidade de pesquisa as narrativas-experiências surdas com o intuito de reconhecê-las como potência para pensar o ser e estar sendo surdo nos espaços escolares e a produção de outros possíveis em uma escola voltada às experiências de singularização e de operação de uma educação menor.

 

PALAVRAS-CHAVE: Subjetividades. Experiências. Pesquisa em educação.

 


Investigation crossings and journeys of the Ser(tão): reading experiences and coexistences in post-graduation 

 

ABSTRACT: This essay present pieces of reading experiences and of coexistences in post-graduation, which propelled movements of liber(a[c]tion) concerning other and new journeys of being and also new possible research crossings. The essayistic writing shows a body-mind that ventures out in a living exercise of experience-writing while is moved by the affects from the literary piece Grande sertão: veredas, by Guimarães Rosa. “In the middle” of this crossing as an Education researcher, there are many perspectives that point towards a research in post-graduation that investigates the subjective of deaf people in state public schools from regular education. As the essayistic writing moves the subjectivities from an experimenting author, which comprehend what she is and what she is becoming, it also want to do the same thing with deaf people’s subjectivities. To do so, we choose as material of the investigation the narratives-experiences from deaf people aiming to acknowledge them as individuals with potential for us to think about the to be and to being deaf in school spaces alongside the production of another ones in a school driven to the experiences of singularization and practice of an education regarding each micro movement.

 

KEY-WORDS: Subjectivities. Experiences. Education research.

 


OSBEL, Letícia Dell’. Travessias de pesquisa e itinerários do ser(tão): experiências de leituras e coexistências na pós-graduação. ClimaCom – Coexistências e cocriações [online], Campinas, ano 8, n. 20. abril 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/travessias-de-pesquisa/