Por Janaína Quitério
Ano de 2004: ciclone atinge o litoral norte do Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina; 2005 e 2010, secas atingem a região de maior disponibilidade hídrica do planeta, o Estado do Amazonas; em 2009 e 2012, esse mesmo estado sofre inundações graduais que superam os níveis históricos. 2008: Santa Catarina é afetada por inundações bruscas, o que acontece também em Pernambuco e Alagoas no ano de 2010; em 2011, a região serrana do Rio de Janeiro é atingida por inundações e deslizamentos. 2013: três em cada quatro municípios do Nordeste estão em situação de emergência devido à seca iniciada em 2010.
Em 20 anos, o Brasil registra quase 32 mil desastres naturais que afetam mais de 96 milhões de pessoas, de acordo com o artigo “Desastres naturais e saúde: uma análise da situação do Brasil” (FREITAS et al., 2014), deslocando mais de seis milhões de pessoas. Apesar dos números, a inter-relação entre desastres naturais e saúde coletiva ainda é pouco estudada no país – tarefa a que se propôs um grupo de 11 pesquisadores ligados a diferentes institutos, como a Fiocruz, o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes), o Observatório Nacional Clima e Saúde, entre outros, ao realizar o levantamento e a sistematização dos desastres naturais ocorridos no Brasil entre 1991 e 2010 e seus diferentes impactos na saúde coletiva (óbito, desnutrição, transtornos psicossociais, infecções, doenças diversas etc.).
Na primeira parte do artigo, os autores definem o que são os desastres naturais, levando em conta as condições de vulnerabilidade resultantes de processos sociais e mudanças ambientais denominadas por eles como “vulnerabilidade socioambiental”: “As condições de vulnerabilidades estabelecem territórios críticos em diferentes escalas e em diferentes temporalidades, o que coloca a questão dos desastres como um problema essencialmente socioambiental, desmitificando a ideia de um evento imponderável ou apenas de origem natural”, defendem.
Os desastres naturais são tipificados de quatro maneiras diferentes e afetam as populações de modo desigual, bem como produzem efeitos na saúde humana que variam do curto ao longo prazo. Os eventos climatológicos (que envolvem os processos relacionados à estiagem e seca, queimadas e incêndios florestais, chuvas de granizo, geadas e ondas de frio e de calor) foram os que mais afetaram a população brasileira (57,8% do total), seguidos dos eventos hidrológicos (alagamentos, enchentes e inundações graduais e bruscas), que correspondem a 32,7% do total, mas que, por outro lado, apresentam maior número de morbidade e mortalidade. Em termos de letalidade, foram os eventos geofísicos ou geológicos (processos erosivos e deslizamentos) que resultaram em mais óbitos.
O levantamento foi feito a partir dos dados do Atlas Brasileiro dos Desastres Naturais 1991-2010 e da coleta e sistematização de informações sobre decretos de situação de emergência e estado de calamidade pública. O objetivo do estudo é propor políticas públicas de saúde coletiva e incentivar ações de prevenção, mitigação, resposta e reabilitação dos impactos na saúde.
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