Queimada | Jorge Vicente
Título: QUEIMADA
Jorge Vicente nasceu em 1974, em Lisboa, e desde cedo se interessou por poesia. Com Mestrado em Ciências Documentais, tem poemas publicados em diversas antologias literárias e revistas, participando, igualmente, nas listas de discussão Encontro de Escritas, Amante das Leituras e CantOrfeu. Faz parte da direção editorial da revista online Incomunidade. Tem cinco livros publicados, sendo o último cavalo que passa devagar (voltad’mar: 2019).
Jorge Vicente
jorgevicente.seacarrier@gmail.com
+351916279149
QUEIMADA
1.
queima mar ardente
Rio Negro, branco, da cor das estrelas pintadas
queima a selva a seiva o suave luar das catacumbas
queima o poder agreste da esperança
de um riso trágico e perdido
queima o luar indígena morto de doença
enquanto hippies extáticos celebram o sol de Manaus
queima o poema que é fúria e transe e justiça
queimem a mulher afegã nos seus olhos de futuro
queimem quem morre de crude de bombas artesanais de miséria
quem morre com as vidas voltadas para o prato sem restos
ou sem desejo
queimem o som e a palavra e o dom da profecia
a floresta o amor tão triste que tenho por ti.
2.
falha flor
falha temerosa cidade
falha rosa de Hiroxima ou de Harlem
falha rosa de fogo anunciando amianto ou xisto ou gás de esperança
falha genocida voz como as águias
falha entre continentes e oceanos
entre grito amazónida e de voz pintada
de voz talvez tão falha como a sucuri que espreita
no recôncavo das folhas.
VICENTE, Jorge. Queimada. ClimaCom – ClimaCom – Diante dos negacionismos [online], Campinas, ano 8, n. 21. dezembro 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/queimada-jorge
SEÇÃO ARTE | DIANTE DOS NEGACIONISMOS | Ano 8, n. 21, 2021
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