O que são eventos extremos? Uma reflexão sobre as diferentes perspectivas do termo | Victor Marchezini, Christopher Cunningham, Giovanni Dolif, Pedro Ivo Camarinha, Paula Oda e Renato Lacerda.
Victor Marchezini [1]
Christopher Cunningham[2]
Giovanni Dolif [3]
Pedro Ivo Camarinha[4]
Paula Oda[5]
Renato Lacerda[6]
Introdução
No campo de poder em torno do qual emergem os discursos de saber sobre os desastres identifica-se um rol de peritos, cientistas, jornalistas, agentes de defesas civis, voluntários, gestores (as) públicos, representantes do setor privado, de ONGs, pessoas afetadas em desastres, dentre outros. Quando os desastres são noticiados há uma profusão de reportagens sobre o tema e, vez por outra, uma busca por respostas sobre as razões do desastre. Pesquisas anteriores analisaram alguns discursos sobre os desastres ao examinarem o processo de culpabilização das vítimas – “também olha onde esse povo vai morar” tem sido um dos juízos de valor evocados (Siena & Valencio, 2005) -, como também da culpabilização das “chuvas” (Valencio et al., 2005) e das “chuvas atípicas” (Marchezini, 2014). Este ensaio contribui com esse debate. Os discursos sobre as razões do desastre têm sido atualizados, com a inclusão de novos termos e conceitos, tal qual o de “eventos extremos”. A utilização desse conceito tem ocorrido sem se questionar seus significados e tampouco os efeitos sociais que podem ser gerados por parte daqueles que recebem a mensagem de que um “evento extremo” ocorreu ou está por vir.
Ao analisarem 244 artigos com títulos relacionados a esta temática, McPhillips e colaboradores (2018) destacaram que as definições sobre eventos extremos variam de acordo com os temas de estudo e as disciplinas, sendo necessário construir pontes entre essas diferenças para ensejar uma visão interdisciplinar (entre as disciplinas) e, quem sabe, subsidiar uma gestão mais holística e transdisciplinar (para além do conhecimento científico) destes eventos extremos. Os autores consideram que diversos estudos têm empregado o conceito de “eventos extremos” para analisar terremotos, contaminações químicas, erosão costeira, invasão de espécies, erupções vulcânicas, ciclones, secas, inundações dentre outros. Em metade dos artigos analisados não se encontrou uma definição explícita sobre eventos extremos. Ademais, ao analisarem a distribuição espacial das publicações, identificaram que a maioria se concentrava na Europa (59), Ásia e Pacífico (52) e América do Norte (40), ao passo que América Central e do Sul tinham juntas menos de 20 artigos como área de estudo (McPhillips et al., 2018). Diante desta lacuna, torna-se importante promover a discussão sobre o conceito de “eventos extremos” no contexto brasileiro.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/10/2023
Aceito em: 15/11/2023
[1] Sociólogo no Cemaden/MCTI. Email: victor.marchezini@cemaden.gov.br
[2] Climatologista no Cemaden/MCTI. Email: christopher.castro@cemaden.gov.br
[3] Meteorologista no Cemaden/MCTI. Email: giovanni.dolif@cemaden.gov.br
[4] Tecnologista na Sala de Monitoramento do Cemaden/MCTI. Email: pedro.camarinha@cemaden.gov.br
[5] Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência do Sistema Terrestre, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Email: paula.oda@inpe.br
[6] Analista de Relações Interinstitucionais no Cemaden/MCTI. Email: renato.lacerda@cemaden.gov.br
O que são eventos extremos? Uma reflexão sobre as diferentes perspectivas do termo
RESUMO: Os discursos sobre desastres associados a inundações e deslizamentos geralmente culpam as “vítimas” por suas escolhas e comportamentos ou destacam o papel das chamadas “chuvas atípicas”, conforme discutido pela literatura neste tema. Entretanto, nos anos recentes, há uma atualização desse discurso das “chuvas atípicas”, de modo a evocar os “eventos extremos” como a causa dos desastres. Este ensaio discute o conceito de “eventos extremos” sob ao menos três enfoques: o da meteorologia, da engenharia e da sociologia. Inicialmente discorremos sobre os eventos extremos de clima e de tempo. Em seguida, adentra-se na sua compreensão a partir dos seus impactos. Por fim, exploram-se algumas percepções, representações sociais e estratégias de comunicação sobre os eventos extremos.
PALAVRAS-CHAVE: Eventos extremos. Comunicação de risco. Gestão de emergências.
What are extreme events? Perspectives on the question
ABSTRACT: The discourses about flood- and landslide disasters usually blame the victims for their choices and behaviors or highlight the atypical rainfall events, as discussed by the scientific literature on this topic. However, in recent years, there have been updated discourses about “atypical rainfall events,” reinforcing the “extreme events” as the disasters’ cause. This essay reflects on the concept of extreme events based on three perspectives: meteorology, engineering, and sociology. First, our focus is on weather and climate extreme events. Then, we switch our reflection to the impact-based concept of extreme events. Finally, we state the need to consider the perceptions, social representations, and communication strategies about extreme events.
KEYWORDS: Extreme events. Risk communication. Emergency Management.
MARCHEZINI, Victor; CUNNINGHAM, Cristopher; DOLIF, Giovanni; CAMARINHA, Pedro Ivo; ODA, Paula; LACERDA, Renato. O que são eventos extremos? Uma reflexão sobre as diferentes perspectivas do termo. ClimaCom – Desastres [online], Campinas, ano 10, nº. 25. nov. 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/o-que-sao-eventos-extremos/