O desaparecimento na obra de Bernardo Carvalho


Viajar é um ato de desaparecimento

Paul Theroux

O desaparecimento, como tema e marca estilística, é fundamental na obra do escritor Bernardo Carvalho. A maioria de seus romances, além de parte considerável de seus contos e crônicas, aludem direta ou indiretamente a este assunto. Nestas obras, tanto as tramas como o próprio discurso apresentam outra nuança interessante ao leitor contemporâneo: a dissolução – seja de sentidos, de discurso, de personagens, de cenários, do tempo narrativo.

As narrativas de Bernardo Carvalho lidam com a temática do desaparecimento, de maneira tal a serem os enredos frequentemente relacionados à dificuldade de se estabelecer uma narrativa, como um modo de expressar a dificuldade de narrar acontecimentos e, assim, estabelecer experiências comunicáveis. Em seus romances, seus narradores, sempre envoltos em uma investigação que envolve uma viagem, enfrentam a dificuldade de estabelecer os fatos, de confirmar suspeitas, de averiguar veracidade em suas demandas. Este aspecto se traduz por meio do uso de vários gêneros discursivos – a saber: cartas, diários, notas de viagem, fotografias, anotações –, bem como pela pluralidade de narradores com os quais o narrador “investigador-viajante” lida. Vejamos alguns destes perfis, por meio de alguns de seus romances.

NOVE NOITES

Em Nove Noites, romance publicado por Carvalho em 2002, o narrador a conduzir a investigação é um jornalista que se torna obcecado por uma ocorrência misteriosa nos anais da antropologia brasileira, mencionada rapidamente em uma resenha de jornal: o suicídio do antropólogo americano Buell Quain, em 1939, às vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, em meio aos índios da etnia Krahô, no Xingu. Uma figura que mais se assemelha a um personagem de ficção do que a uma pessoa real (escusas ao óbvio), como outros exploradores, aventureiros e estudiosos estrangeiros que tiveram suas vidas (ou morte) marcadas pelo interior do Brasil.

Neste romance, os índios são retratados como hostis e hábeis em seu relacionamento com o homem dito civilizado: sabem manipular a culpa, o deslumbramento, o paternalismo e o medo do homem branco. Não são meras vítimas, como o são os índios na obra de Callado, o Quarup. O narrador-protagonista, ou ainda, pode-se dizer, o autor-narrador, identifica-se como bisneto do marechal Rondon e filho de latifundiário que, nos anos 1960, aproveitou os incentivos governamentais para a ocupação de terras na região Norte do país para se tornar proprietário de terras na região do Araguaia e no Xingu. O narrador ainda afirma ser o menino que segura a mão de um índio nu na foto da orelha do livro. Por conta deste aspecto inusitado da biografia de Carvalho, sobre o qual o leitor não tem certeza quanto à veracidade, o narrador (ou autor?) relata ter conhecido, na infância, o Xingu – não sem riscos. Essa experiência permitiu que ele conhecesse o contexto de vida das aldeias sem o romantismo idealizado pela literatura indianista (de caráter ufanista, sobretudo), pelas grandes reportagens, pelo registro em documentários, pelos movimentos ambientalistas ou pelo discurso antropológico.

A busca pelas supostas cartas – uma literatura fragmentada, errática – já é, em si, uma fabulação para além da biografia de Quain, na tentativa de o narrador tecer uma possibilidade de trazer à tona a experiência de alteridade. E será uma carta, recebida do exterior, que será o gatilho para a decisão pelo suicídio. Após oito dias, recém-chegado à aldeia dos Krahô, Quain decide voltar, mas já imobilizado pelos impedimentos a que se vê submetido, tira sua própria vida de modo violento.

Imaginada ou não, essa documentação colhida de depoimentos aparece diante do leitor sem que se tenha certeza sobre sua autenticidade ou veracidade. Quando se trata da investigação do suicídio de Quain, a obra faz um ótimo panorama das relações entre os pesquisadores estrangeiros, e entre as instituições estrangeiras e brasileiras durante o Estado Novo (1935-1945). Naquele momento, cada estrangeiro era potencialmente um espião, no mesmo movimento de escalada de tensões que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial.

Além disso, para endossar esse aspecto da obra, o narrador alterna o registro de sua investigação com reminiscências de sua própria infância, posteriores aos eventos investigados. A partir de suas lembranças do convívio difícil com o pai, acompanhando sua lenta decadência (moral, financeira, de saúde) e morte, o narrador expõe o país e as tensões presentes, desta vez, durante o período da Ditadura Militar (1964-1984).

Ao mesmo tempo, ele revela o destino dos índios, circunscritos a uma terra inóspita, empurrados pela ocupação de terras, consequência do tácito acordo entre o governo militar da época e as elites urbanas do país, restritas ao eixo Rio-São Paulo. O narrador, ao tentar evitar ter um olhar paternalista, do alto, sobre os índios, utiliza o horror. Para ele, o Xingu é marcado como uma imagem do inferno, um locus horrendus. O narrador reproduz um trecho das anotações de Quain a respeito:

Veja o Xingu. Por que os índios estão lá? Porque foram sendo empurrados, encurralados, foram fugindo até se estabelecerem no lugar mais inóspito e inacessível, o mais terrível para a sua sobrevivência, e ao mesmo tempo a sua única e última condição. O Xingu foi o que lhes restou (CARVALHO, 2002, p. 73).

MONGÓLIA

Outras narrativas de Carvalho também tratam do desaparecimento como um tópico fundamental. No romance Mongólia (2003), o desaparecido é um fotógrafo brasileiro no interior daquele país, quando realizava uma coleta de fotos e de informações para uma matéria de uma revista especializada. Desta vez, o narrador-investigador, chamado de “o Ocidental” – um diplomata estabelecido na representação diplomática do Brasil em Pequim – é incumbido de investigar o sumiço do fotógrafo, localizar seu paradeiro e, se possível, trazê-lo de volta. Sua narrativa também é cercada de ambivalências, já que sua investigação é relatada em forma de cartas à esposa no Brasil, intercaladas pelas digressões de outro narrador: seu chefe na embaixada brasileira na China que, aposentado no Rio de Janeiro, resgata as cartas após saber da morte do ex-funcionário.

Ao procurar pistas com os guias nativos que teriam trabalhado com o fotógrafo desaparecido, o Ocidental também se vê às voltas com outros atos de desaparecimento, em meio à investigação. O fotógrafo foi à Mongólia para retratar os Tsaatan, uma etnia nômade com língua, costumes, modo de vida bem diversos, mesmo se comparados com os demais mongóis. Contudo, como as pastagens utilizadas pelos seus rebanhos de renas estão cada vez mais limitados, seu modo de vida nômade está em vias de extinção:

Para quem sempre idealizou o nomadismo como um modo de vida alternativo e libertário, o confronto com a realidade tem pelo menos um lado saudável. Os nômades não são abstrações filosóficas. Levam uma vida fixa e repetitiva. Qualquer desvio pode acarretar a morte. Todos os movimentos e todas as regras são determinados pelas exigências mais fundamentais de sobrevivência nas condições mais extremas. A endogamia está matando os tsaatan. E o contato com o mundo exterior, depois da queda do comunismo no início dos anos 90, só os fez enxergar a própria miséria (CARVALHO, 2003, p. 43).

Além disso, o fotógrafo desaparece quando decide procurar, sem apoio dos guias nativos que o assessoravam, pistas sobre o desaparecimento de um monge budista no expurgo de religiosos e dissidentes durante o início da Revolução Comunista na Mongólia (1924-1992). Este religioso, supostamente, conhecia elementos sobre um culto a uma divindade ligada ao tantrismo budista e, por conseguinte, a práticas sexuais. O expurgo dos religiosos budistas na Mongólia comunista é, por si mesmo, outro ato de desaparecimento.

O SOL SE PÕE EM SÃO PAULO

Em outro romance de Carvalho, O Sol se põe em São Paulo (2009), o desaparecimento também é uma força motora da narrativa. Neste caso, o narrador é um publicitário desempregado com ambições literárias, descendente de japoneses, que decide seguir os rastros de uma história narrada por Setsuko, imigrante japonesa proprietária de um restaurante no bairro da Liberdade, em São Paulo. Em princípio, a história trata de um suposto triângulo amoroso em Tóquio, nos anos seguintes ao fim da Segunda Guerra Mundial. Michiyo suspeita que seu marido, Jokichi, filho de uma rica família de industriais, estaria apaixonado por Masukichi, um ator do teatro cômico japonês. Como testemunha desta trama, Setsuko relata esta pequena trama ao escritor Junichiro Tanizaki, que começa a publicar a história em forma de folhetim, alterando os nomes dos envolvidos. Quando a trama começa a fazer sucesso a ponto de os envolvidos saberem, o marido Jokichi desaparece.

A motivação de seu desaparecimento deve-se ao fato de que seu pai, para evitar que o filho fosse convocado para a Guerra no Pacífico, comprou as dívidas da família de Seiji, um burakumim (uma pessoa de casta inferior no Japão feudal e pós-Restauração Meiji). Para pagar as dívidas, Seiji assume a identidade de Jokichi, mas morre na guerra, em virtude de um atentado no qual um primo do imperador simula sua própria morte, troca de identidade e foge para o Brasil. Jokichi, movido pelo remorso, em um primeiro momento, recorre a Masuchiki, amigo de Seiji, para contatar a família e redimir-se, contudo sem sucesso. Sem êxito com a família de Seiji, Jokichi também assume outra identidade e segue para o interior de São Paulo, a fim de encontrar o paradeiro do responsável pela morte de Seiji, vingá-lo e redimir-se.

Essa trama traz consigo uma nuança peculiar de alguns romances de Carvalho: o mascaramento, a impostura. Ao narrar um encontro entre Michiyo e o escritor Junichiro Tanizaki, o narrador desenvolve este aspecto:

[…] O corpo [de Jokichi], em todo o caso, nunca foi achado. Michiyo e o velho escritor se encontraram no bosque, no caminho de terra batida que leva ao templo Shimogamo. Ela lhe disse que tudo não passava de um mal-entendido, que nada daquilo era verdade. E o escritor lhe respondeu: ‘Só me interessam as mentiras’. Nesse instante, a velha Setsuko interrompeu o que me contava, estendeu o punho direito e me mostrou a pulseira com os dois ideogramas que eu já tinha visto no restaurante da Liberdade. Repetiu: ‘Kyogen’. Era o título da história que o escritor abandonou no nono capítulo, a pedido de Michiyo. ‘Kyogen, como no teatro?’, perguntei. ‘Como no teatro. Kyogen quer dizer farsa, artimanha, simulação. Esse romance que nunca foi escrito e que nunca terminou’, disse Setsuko. (CARVALHO, 2009, p. 84).

Nesta sequência de eventos, a troca de identidades é, ao mesmo tempo, uma forma de desaparecimento e um mascaramento em que se assume o ponto de vista de outro. Os atos de desaparecimento dos personagens dos romances de Carvalho problematizam a forma de expressar a perspectiva do Outro: um estado de impedimento e de horror em face da iminência de um desaparecimento (seja ele um suicídio, uma troca de identidade, a extinção de uma etnia, de uma cultura).

Todas estas narrativas são tentativas de trazer, em cada uma delas, uma experiência à tona, já que um princípio de causalidade não pode ser aplicado para explicar plenamente os atos de desaparecimento dos personagens. No ensaio “Experiência e Literatura”, Walter Benjamin trata do declínio do papel e da importância da experiência, com um indício do desaparecimento de formas discursivas, como as grandes narrativas (THOMAZ, 2009, p. 185). A entrada na Era Industrial, na perspectiva de Benjamin no período de 1933, ano da publicação deste artigo, teve seu ápice na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, ao contrário de uma primeira impressão, criou uma geração de pessoas mais pobres em experiências comunicáveis. Ainda segundo o filósofo alemão, surgiria deste contexto uma barbárie advinda da pobreza de experiências (BENJAMIM, 2012, p. 124-125). O desaparecimento nas obras de Bernardo Carvalho seria, portanto, uma sofisticada alegoria para uma fuga da morte, em alusão a outras forças poderosas como a religião, a língua, o sexo, a guerra. São todas elas formas de expressar experiências compartilhadas em narrativas.

EMBARALHAMENTO DE GÊNEROS E DE SENTIDOS

Os romances de Carvalho constituem-se como obras bem-sucedidas em operar com as referências falseadas tão características da ficção pós-moderna. Em sua macroestrutura, eles apresentam aspectos que os aproximam da estrutura da reportagem e da biografia: há uma narratividade próxima também de gêneros como as reportagens mais extensas, que se materializam em forma de livro (LAGE, 2005, p. 145-146).

Como exemplo disso, nas primeiras linhas de Nove Noites, há, sempre identificado em itálico, outro relato e, portanto, outra instância narrativa na obra: a reprodução do testamento de Manoel Perna, o engenheiro e agente de campo do SIP – Sistema de Proteção do Índio (o equivalente à Funai durante o Estado Novo), explicita esse embaralhamento, e prepara o leitor para o que virá.

1. Isto é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que preveni-lo. Vai entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui. Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta. E depois de amanhã, mais uma vez. Sempre a mesma pergunta. E a cada dia receberá uma resposta diferente. A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates. Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição do mistério, para acabar morrendo de curiosidade (CARVALHO, 2002, p. 7).

Nos romances de Bernardo Carvalho, aparentemente não há mistério. Aparentemente. Desde a primeira página, sabemos que um personagem desapareceu de alguma forma (suicidou-se – Nove Noites; desapareceu em outro país – Mongólia; trocou de identidade – O Sol se põe em São Paulo). Um anticlímax, se se considerar o fato de que o enredo ocorre em torno de uma investigação, e que há elementos de narrativa policial em sua constituição. Na verdade, estamos em face de obsessões, que nada mais são do que fetiches de mistérios. Por outro lado, o hibridismo entre reportagem, biografia, texto memorialista e ficção é uma forma de operar com as fronteiras entre a literatura e o jornalismo, com o embaralhamento entre a ficção e não ficção, algo comum à literatura brasileira a partir dos anos 1990.

Durante a investigação sobre as motivações dos atos de desaparecimento, os narradores-investigadores dos romances de Carvalho fazem uso do registro discursivo dos romances-reportagens, dos perfis biográficos, dos diários de campo de jornalistas, ao realizarem uma compilação de documentos, depoimentos, entrevistas e, principalmente, cartas. Assim, o romance se estrutura como misto de diário pessoal, de biografia e de diário de campo de reportagem, em que reminiscências íntimas se misturam aos registros da investigação. Estas expressões de escrita são atos políticos, constituindo-se como forma de registro dos sentidos de alteridade presentes nestas obras.

Jacques Rancière, no prefácio de seu livro Políticas da Escrita, concebe a escrita como um ato político, pois, segundo ele, é um modo de tomar/ocupar o sensível e de dar sentido a essa ocupação. Em suas palavras, “uma partilha do sensível” (RANCIÈRE, 1995, p. 7). Além disso, a escrita, enquanto gesto, pertence à constituição estética da comunidade e tem como função revesti-la de alegoria. O desdobramento dessa premissa é tomar a escrita como uma perturbação teórica que, no âmbito político, é o exercício da democracia.

Evidentemente, a alegoria politizada que se imprime ao poder da escrita é o da descoberta do mundo letrado, uma releitura do mito platônico da caverna, que simboliza o fim de um mundo. Alguém passa da agrafia para o domínio da tecnologia da escrita, e o poder que isso lhe confere – o da inscrição e da inclusão. Propositalmente, Rancière cita a releitura moderna da obra platônica como fundadora do romance, para endossar sua tese. Além disso, ela pode ser tanto a ressignificação da materialidade, segundo a poética modernista francesa, quanto a reafirmação do poder da palavra como crença religiosa, tal qual as Escrituras. Alinhada a essa concepção de escrita, a literatura é conceituada como o tipo de discurso que se institui quando a recusa da imitatio e emulatio da mimese poética leva à discussão sobre a veracidade – ou ainda, a verossimilhança – da escrita. A literatura seria a maneira de delimitar e mensurar essas fronteiras.

A escrita seria usada como recurso de ressignificação também em outro contexto, em que a determinação entre existência e inexistência não fosse mais possível. Um fim, ou um sentido de finitude, como um enunciado aparentemente banal, convoca-nos a uma repensar e conceber a escrita como um instrumento de operar para além do fim das utopias, para além do fim da política como ato de pensamento e de organização da sociedade e do mundo.

A escrita se torna a maneira pela qual as comunidades, no limiar do fim de sua continuidade, ou seja, de seu desaparecimento, podem permitir uma fabulação em que elas continuem a coexistir com um porvir (que pode ser identificado como as comunidades – outras – que surgirão ou que vão se sobrepor as primeiras). Já que se trata de estabelecer uma escrita, ainda que inscrita na mens rea, produzida para além de seu registro, ela (re)existirá para além de si em um porvir (RANCIÈRE, 1995, p. 36-39).

A FABULAÇÃO DE UMA INVESTIGAÇÃO

Com o temor de não desvelar completamente o evento por narrar, na angústia de ver sua investigação esgotada em possibilidades, os narradores investigadores de Carvalho insinuam sempre um continuísmo da narrativa por meio da fabulação, como meio de solucionar o impasse da escrita. É o que se nota neste trecho de Nove Noites, de que nos servimos de exemplo:

Àquela altura dos acontecimentos, depois de meses lidando com papéis de arquivos, livros e anotações de gente que não existia, eu precisava ver um rosto, nem que fosse como antídoto à obsessão sem fundo e sem fim que me impedia de começar a escrever o meu suposto romance (o que eu havia dito a muita gente), que me deixava paralisado, com medo de que a realidade seria sempre muito mais terrível e surpreendente do que eu podia imaginar e que só se revelaria quando já fosse tarde, com a pesquisa terminada e o livro publicado. Porque agora eu já estava disposto a fazer dela realmente uma ficção. Era o que me restava, à falta de outra coisa (CARVALHO, 2002, p. 157).

Nesse sentido, os romances de Bernardo Carvalho – como obras híbridas e como atos políticos – oferecem uma solução para um impasse que se impunha aos escritores saídos dos anos 1980 para 1990, quando o topos comum era a literatura engajada. Nove Noites é, segundo Cristiane Costa (2005), o romance inaugural da literatura contemporânea brasileira como uma alternativa à obrigatoriedade não dita, mas esperada pela crítica especializada e pelo público de um determinado período, de se tratar a história política e social recente do país somente sob a polarização direita-esquerda.

A forma de expressão desta guinada de Carvalho seria a fabulação – ou a ficção composta a partir da matéria do real – como forma de solucionar o impasse de uma escrita impedida de preencher lacunas entre fatos históricos, deslocamentos geográficos, contato com outras culturas, gêneros literários e tramas.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, W. Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. Prefácio Jeanne Marie Gagnebin. 8. ed. revista. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras Escolhidas v. 1).

CARVALHO, B. Mongólia. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

_____. Nove Noites. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

_____. O mundo fora dos eixos. São Paulo: Publifolha, 2005.

_____. O Sol se põe em São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

COSTA, C. Pena de Aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904 – 2004. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

LAGE, N. Teoria e Técnica do Texto Jornalístico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

RANCIÈRE, J. Políticas da escrita. Trad. Raquel Ramalhete. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.

THOMAZ, P. C. O dilaceramento da experiência. As poéticas da desolação de Bernardo Carvalho e Sergio Chejfec. 2009. Tese (Doutorado em Literatura) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

 

Recebido em: 19/07/2015
Aceito em: 20/07/2015


[1] Mestrando em Divulgação Científica e Cultural no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp). E-mail: guilherme.nicesio@gmail.com

O desaparecimento na obra de Bernardo Carvalho.


Guilherme Alves de Lima Nicésio[1]