Navios – mapa de ocupação para criar heterotopias

Título: Navios – mapa de ocupação para criar heterotopias


Resumo: Navios é um trabalho sobre o fim do mundo nessa (e qualquer) cidade. Uma travessia para qualquer lugar. Será que vai existir um oceano para gente fugir num navio? Ou uma nave espacial para gente tentar a vida em Marte? Quando acabar a luz – depois ou antes da água – a gente vai conseguir sobreviver? Você sabe caçar? Lutar? Correr? Sabe viver em bando?

Esta performance de dança busca criar cartografias dançadas em espaços abandonados, em plataformas esquecidas, nos cantos, ali onde a memória e o sentido parecem ter sido arruinados. Travessias de um lugar para qualquer lugar.

Na curva oblíqua da cidade e do mundo em transformação, em seus espaços sem fama ou fortuna. Corpos que atravessam e buscam animalidade e desutopia numa outra arte dos encontros. Para seguir rastros, sobreviver juntos e em comum desenvolver estratégias de bando.

Navios surgiu do desejo de continuidade da pesquisa em dança nos espaços públicos, iniciada com o projeto 100 lugares para dançar (2011) em parceria com Vinícius Terra.

A idéia tomou forma a partir das danças efêmeras realizadas em não-lugares das cidades, e teve como referência a obra Heterotopias de Michel Foucault.

Heterotopias são, para Foucault (2013), lugares que nasceram da cabeça dos homens, ou “no interstício de suas palavras, na espessura de suas narrativas, ou ainda, no lugar sem lugar de seus sonhos, no vazio de seus corações; numa palavra, é o doce gosto das utopias” (2013, p.19).

Um navio, seria uma heterotopia por excelência: se considerarmos que o barco, o grande barco do século XIX, é um pedaço de espaço flutuante, lugar sem lugar, com vida própria, fechado em si, livre em certo sentido, mas fatalmente ligado ao infinito do mar e que, de porto em porto, de zona em zona, de costa a costa, vai até as colônias procurar o que de mais precioso elas escondem naqueles jardins orientais que evocávamos há pouco, compreenderemos porque o barco foi, para nossa civilização – pelo menos desde o século XVI – ao mesmo tempo, o maior instrumento econômico e nossa maior reserva de imaginação. […] Civilizações sem barcos são como crianças cujos pais não tivessem uma grande cama na qual pudessem brincar; seus sonhos então se desvanecem, a espionagem substitui a aventura, e a truculência dos policiais, a beleza ensolarada dos corsários (2013, p.30).

 

FOUCAULT, Michel. 2013. O Corpo Utópico; As Heterotopias. São Paulo, n-1 Edições.


Autor: Marina Guzzo

Artista e pesquisadora das artes do corpo, docente da UNIFESP e coordenadora do Nid – Núcleo Indisciplinar de Dança desta Universidade. Se interessa em dar visibilidade para os modos de produção da arte e da cultura por meio das práticas corporais. Concentra suas criações na interface das linguagens artísticas, misturando a dança, a performance e o circo para explorar os limites do corpo e da subjetividade na cidade contemporânea.

UNIFESP- Campus Baixada Santista

Laboratório Corpo e Arte

E-mail: marinaguzzo2@gmail.com

Link: http://naviosheterotopias.tumblr.com/


FICHA TÉCNICA

Direção, pesquisa e jogo-coreográfico: Marina Guzzo

Paisagem sonora e danças brasileiras: João Simão

Criação de figurino: Lia Damasceno e Marina Guzzo

Intérpretes: Flávia Sá, Daniele Guedes, Leandro Soares, Gabriel Smaira, Natan Brith, Jonatan Elias José, Bruna Labella, Rafael Palmieri, Fernanda Ianuzzi, Tamara Tanaka e João Simão.

Máscaras: Rita Vidal e Flora Rebollo

Colaboração teórica: Stéfanis Caiaffo

Fotografia: Vinícius Terra

Criação gráfica: Renan Costa Lima

Produção: N(i)D- Núcleo Indisciplinar de dança da Unifesp- BS Plataforma de pesquisa: Laboratório Corpo e Arte- Unifesp-BS

2016