Mulheres e paisagens – RIO | Kidauane Alves, Olga Silva e Marina Guzzo

Título | Mulheres e Paisagens – RIO

“A cidade vai virar um rio”, a previsão é enunciada pela líder comunitária Olga Maria. Habitante de uma cidade litorânea, ela prevê, a partir da consciência socioambiental originária das terras do nordeste brasileiro, um futuro inundado devido ao aterramento do manguezal e devastação das afluentes de rio que cercam o território. Este vídeo faz parte da pesquisa e proposição artística intitulada “Mulheres e Paisagens: coreografias socioambientais em territórios periféricos”, e visa produzir aproximações por meio de propostas corporais das experiências e paisagens de vida de mulheres atravessadas pela vulnerabilidade socioambiental. A partir de uma conversa sobre um lugar que tenha significado para nós, Olga Maria se direciona ao rio, produz um gesto sobre este lugar e nos faz refletir, diante da conjuntura de degradação socioambiental sobre a força contida na memória das mulheres deste território. Quais saberes estão guardados nos anos de vida junto à natureza que poderiam servir para a construção de um modo de viver resistente ao poder hegemônico? A quem serve o apagamento do passado rural afro-brasileiro da população nordestina? Quais atores e agentes são beneficiados com os séculos de silenciamento dos saberes femininos? Quais os efeitos de viver em áreas de risco na vida das mulheres e das comunidades periféricas? Como fortalecer laços de afeto e alteridade entre pessoas e de pessoas para as paisagens em que estão imersas? Experimentamos práticas de produção de ações contra hegemônicas quando suscitamos os gestos, pensamentos e escuta das narrativas de mulheres que vivem as dores sociais e as consequências socioambientais dos rumos políticos e ecológicos no Capitaloceno. As paisagens são construídas mediante as estratégias de alienação capitalista, mas, dentro dos processos históricos de imposição do poder há histórias de resistência. Resistência são possibilidades de produção de pertencimento que regenerem a autodeterminação entre corpos empobrecidos e territórios violentados. No vídeo-performance: “RIO”, de Olga Maria, uma mulher navega as águas que enchem a terra, ao mesmo tempo, varre com uma vassoura de planta toda a sujeira destinada às margens do Rio Mariana, localizado no bairro Quarentenário, na Área Continental de São Vicente/SP, como forma de anúncio de uma realidade impulsionada pela especulação imobiliária e descaso da política governamental à realidade de aterramento do mangue, habitações irregulares, enchentes que devastaram a vida das famílias e comunidades periféricas, obrigando-as viver os efeitos acentuados da crise climática. A crise climática no Brasil é materializada através do racismo ambiental que relega às classes empobrecidas, negras, indígenas e periféricas o fim do mundo que começou a acabar há 523 anos. O trabalho aprofunda estudos sobre o corpo da mulher como fonte fundamental da reprodução da exploração capitalista, como um útero de manguezal, criamos a vida, reproduzimos a vida e a mantemos de pé. Sem mulheres não há comunidade, tampouco, resistência aos rios que inundarão nossos territórios e manguezais no por vir. As mulheres guiarão este rio imenso.

 

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| FICHA TÉCNICA |

Pesquisa | Kidauane Regina Alves, Olga Maria de Sousa Silva e Marina Souza Lobo Guzzo

Orientadora | Marina Guzzo

Direção geral | Kidauane Regina Alves

Performance | Olga Maria de Sousa Silva

Texto | Olga Maria de Sousa Silva

Filmagem | Kidauane Regina Alves

Edição | Kidauane Regina Alves

Planta | Orelha-de-elefante-gigante (Alocasia macrorrhizos)

Paisagem | Quarentenário, São Vicente – São Paulo, Brasil

Trilha Sonora | Okuta Yangi No. 1 – Metá Metá

Plataforma de Pesquisa | Laboratório Corpo e Arte – UNIFESP Baixada Santista, MEANDER – Society for Ecological Thinking and Artistic Practice

Ano de Produção | 2022

País de Produção | Brasil

Ano | 2023