Mulher Minotauro – Cria | Silvana Sarti

Mulher Minotauro –  Cria

A Mulher Minotauro surge em 2013 e se vale do símbolo do útero e do touro, representando força e criação, a união dos dois polos existentes em cada pessoa. Sirvo-me do mito criando uma irmã gêmea para o Minotauro, discutindo assim a condição ainda mais invisibilizada da mulher, sugerindo um labirinto subterrâneo. Os diferentes são sempre apartados do convívio social e assim surgiram várias obras em diferentes modalidades.

Hoje, Mulher Minotauro – Cria é o completamento de um ciclo, onde a mulher madura supera o etarismo e sente-se ainda forte e ativa para produzir questionamentos, friccionar a realidade imposta pelas estruturas de poder e contrapor o ambiente de cárcere e morte do matadouro e vislumbrar a possibilidade de deixar o seu legado às novas gerações. 

Unimos artistas diversos e artes ancestrais e modernas para gerar uma fabulação contemporânea que celebra a criação. Trouxemos a milenar cerâmica numa veste narrativa atual, a fotografia revelando as artes do corpo, o corpo que resgata das profundezas a história violenta destas terras, a estamparia que recupera seu teor narrativo como nas civilizações antigas, a arquitetura monumental do matadouro – patrimônio tombado, esquecido e abandonado pelo poder público –, o encontro de gerações demonstrando um legado a ser transmitido. Para a performance “Transmutar”, um estandarte, ou tapete, ou manto negro multiuso foi bordado com cores vivas, a fim de tirar a mulher do escuro, pele da terra, vida que faz vida, eterna e terna, às vezes selvagem e feroz, conecta passado e presente e antecipa devires.

A performance no matadouro revelou a fragilidade de nossos corpos em relação à monumentalidade arquitetônica, mas também a transitoriedade da matéria, uma vez que a estrutura largada às intempéries e a negligência de quem deveria cuidar, passa por roubos de materiais, como na última visita que fizemos e constatamos o desaparecimento de todas as imensas janelas e detalhes de portas de ferro. Retrato da ruína da ruína em que vem se transformando nossa realidade.

Enfim, sabemos que para a arte não há limites, por isso mergulhamos fundo nela. No chão base de tudo, terra, útero, conexão, no céu chuva de sêmen por germinar, vida morte vida, o livro do destino se mantém aberto.

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| FICHA TÉCNICA |

Performance | Silvana Sarti

Cerâmica | Luzia Florentino

A criança | Gustavo Nunes

Fotografia e curadoria | Fábio Florentino

Preparação corporal | Maria Helena Barbosa

Produção | Marcos Clóvis Fogaça

Instagram | @mulherminotaurocria

Projeto contemplado pela Lei de Incentivo à Cultura de Sorocaba (LINC) 2022/23.

Ano | 2023