Movimento-som: construção de sentido no existir evento | Maria Carolina Alves e Daniela Franco Carvalho | ClimaCom


Movimento-som: construção de sentido no existir evento | Maria Carolina Alves e Daniela Franco Carvalho


Maria Carolina Alves[1]
Daniela Franco Carvalho[2]

Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem-vindos ao Teatro Mágico
Parto-me
Parto-me
A poesia prevalece
A poesia prevalece
O primeiro senso é a fuga
Bom, na verdade é o medo
Daí então, a fuga
Evoca-se na sombra uma inquietude
Uma alteridade disfarçada
Inquilina de todos os nossos riscos
A juventude plena e sem planos se esvai
O parto ocorre
Parto-me. Parto-me. Parto-me. Parto-me
Aborto certas convicções
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia nunca não passar
O ser vil que passou para servir
Pra discernir, harmonizar o tom
Movimento. Som
Toda terra que devo doar
Todo voto que devo parir
Não dever ao devir
Nunca deixar de ouvir
Com outros olhos!
Com outros olhos!
Com outros olhos!
Amadurecência
(O Teatro Mágico)

Pirraça antropocênica[3]

Ao experenciar uma pesquisa sensível, nos deparamos com sons que tensionam enunciados em movimento, produções que foram criadas, enunciadas, em determinado tempo e lugar, e que ao mesmo tempo se fazem pulsantes em novos contextos. Palavras e entonações outras.

Na procura de trazer à cena e ao contexto de escrita atravessamentos pela música e sua presença criativa como textos de campo tomamos consciência a partir daquilo que emerge de uma vivência organizada no movimento entre quatro dimensões – de dentro pra fora, de fora pra dentro, no passado e no presente, aqui e ali – pelas quais se orienta a consciência do autor a partir do entendimento emotivo-volitivo da situação extraverbal, repleta de signos subentendidos já plenos em sentido.

Músicas reverberam comunicações dialógicas. Enunciados que movimentam a palavra do outro, em nós, a partir de uma produção sociológica outra, denunciando ideologias ao mesmo tempo que oferecem uma certa sedução vegetal [4], fermentam respostas. Nas dobras do som ambiente do experienciar da ubiquidade antropocênica, perpassamos nossas vivências por uma perspectiva que entrelaça a dureza do antropoceno, a delicadeza da criação, e as provocações da formação cultural.

Esse ensaio pretende apresentar tensionamentos e disparadores de termos de pesquisa a partir de narrativas musicais, e seus agentes comunicacionais, em diálogo com conceitos bakhtinianos que, ao posicionarem a palavra do outro, a polifonia da playlist pirraça antropocênica impulsiona a construção de sentido em perspectivas costuradas com letras e conceitos que balizam a construção de um enunciado singular. 

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 25/04/2023

Aceito em: 15/05/2023

 

[1] Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas, Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Email: maria.alves.carolina@gmail.com

[2] Licenciada em Ciências Biológicas com Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora no Instituto de Biologia e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Email: danielafranco@ufu.br

[3] Durante a investigação de quais vislumbres uma pesquisa sobre comunicação, educação e mídias pode trazer a partir de narrativas da vida no antropoceno (dissertação de mestrado em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia- financiamento de bolsa pela CAPES), a playlist pirraça antropocênica foi criada e disponibilizada na plataforma de streaming de música Spotify. Disponível em: https://open.spotify.com/playlist/7qECgS2TCTmNb40OAcgtk0?si=507b9420cefa4327

[4] Sedução Vegetal (Karine Faleiros e Marina Gavaldão). Presente na playlist na voz de Mateus Solto.

Movimento-som: construção de sentido no existir evento

 

RESUMO: Em meio a provocações alinhadas com entendimentos da experiência, das vivências e do cotidiano sobre construção de sentido a partir da expressão, de um acontecimento do existir evento imperativamente criativo, balizamos termos de pesquisa com narrativas musicais. Com a curadoria para uma playlist em um aplicativo de streaming de música, produzimos textos de campo, que, em diálogo com conceitos bakhtinianos, articularam a produção de saber em rede no grande tempo a partir da vida como vivida coletivamente, em diversidade, alteridade e singularidade no arcabouço de uma pesquisa narrativa costurada entre letras e provocações sobre ciência e natureza.

PALAVRAS-CHAVE: Mikhail Bakhtin. Valentin Volóchinov. Pesquisa Narrativa. Narrativas da vida.

 

Movement-sound: meaning-making at being-as-event

 

ABSTRACT: Amid provocations, and understanding day-by-day experiences of life narratives as meaning-makers through expression along an ongoing event, which is imperatively aesthetic (creative), we articulated this investigation with music by curating lyrics for an authorial streaming app playlist, here placed as field texts in the light of narrative inquiry terms, and, allied with Bakhtin's concepts of being-as-event at a collaborative knowledge chain over time occurring along live with diversity, alterity, and singularity provoked by science, and nature utterances.

KEYWORDS: Mikhail Bakhtin. Valentin Volóchinov. Narrative Inquiry. Life narratives.

 

ALVES, Maria; CARVALHO, Daniela. Movimento-som: construção de sentido no existir evento. ClimaCom – Ciência. Vida. Educação [online], Campinas, ano 10, n. 24., mai. 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/movimento-som/