Morfeu: afetos para recriar a pandemia | Danilo Andrade de Meneses e Luciana Nascimento Urtiga

Título | Morfeu: afetos para recriar a pandemia

O contexto da pandemia deu origem ao subproduto desastroso do aumento do abandono animal. A falta de empatia e a incapacidade de um ajuste harmonioso entre natureza e cultura já eram proeminentes antes desse cenário, assim como a exploração humana de ambientes nativos que acarretou na diminuição da biodiversidade nesses locais. No entanto, as espécies domesticadas para a companhia do humano sofrem essa dicotomia ao serem selecionadas artificialmente por ele: animais de raça e vira-latas. Os últimos são as maiores vítimas de abandono, mas, para os tutores com consciência, possuem os mesmos elos emocionais que os primeiros. Estes tutores tendem a se sentir mais humanizados, pois sabe que o animal adorado não é uma marca, mas possui uma história, agora compartilhado com o humano. É um mutualismo afetivo que pleiteia uma coevoluação de afetos interespecíficos. Sabe-se, por exemplo, que o cão entende mais as expressões faciais humanas que o lobo. Sendo assim, os afetos interespecíficos funcionam como teias agregadoras que sustentam o elo entre homem e natureza. Ao tocar a natureza empática do homem supõem-se que essas teias funcionem como armas “anti-destruição”, já que podem nos fazer refletir sobre outras formas de alimentação, problemas públicos e preservação da biodiversidade animal. Nessa curiosidade naturalística das relações afetivas entre o homem e uma de suas espécies companheiras, o cão, pode-se construir uma nova linguagem produtora de riqueza emocional e empática para ambos. Em agosto de 2020 nós adotamos um cão que chamamos de Morfeu, que recebeu esse nome para não nos esquecermos de sonhar durante esse momento tão avassalador que foi a pandemia. Nas primeiras semanas, Morfeu não era carinhoso conosco. Começamos a sentar no chão para abraça-lo e aos poucos ele foi sendo recíproco colocando o queixo no ombro. Com o passar dos meses ele foi abraçando e demonstrando formas de carinho que capturamos nesse ensaio. A forma de Morfeu se comunicar foi nos moldando e vice-versa, de forma que essa troca de afetos se tornou uma linguagem única nossa e fez com que recriássemos uma família. A ciência das emoções está nas relações entre as espécies. Ela faz parte da teia da vida. E é na possibilidade de uma educação de afetos interespécies que as relações entre natureza e cultura podem ser amortecidas e que os humanos possam, finalmente, se tornar mais humanizados.


| FICHA TÉCNICA |

PROPOSIÇÃO E TEXTO | Danilo Andrade de Meneses

FOTÓGRAFA | Luciana Nascimento Urtiga

ANO DE PRODUÇÃO | 2020-2023

PAÍS/LOCAL DE PRODUÇÃO | João Pessoa/PB-Brasil

E-MAILS | danilo.eletrof@gmail.com | lucianaurtiga@gmail.com

TELEFONES | (83) 99635-4335 | (83) 99655-5596

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MENESES, Danilo Andrade de; URTIGA, Luciana Nascimento. Morfeu: afetos para recriar a pandemia. ClimaCom – Ciência. Vida. Educação [online], Campinas, ano 10, n. 24, abr. 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/morfeu/


 

SEÇÃO ARTE | CIÊNCIA. VIDA. EDUCAÇÃO | Ano 10, n. 24, 2023

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