INTERVALAR – Laboratório dos despropósitos
Título: Laboratório dos despropósitos – Projeto Intervalar
Cenário:
Existia, entre os interstícios da ciência e da arte, um sujeito que nascera com uma doença em seu olho. Esta fizera-lhe adquirir certo gosto de experimentar e compor com as imagens de produções artistas atravessadas ora pela natureza e ora pela ciência.
Assim, nasceram gestos de colecionar o despropósito, ao sabor de compor essas imagens com os diferentes espaços de fazer e pensar ciências. O colecionador de despropósito tinha um certo desejo de contaminar as imagens pelos procedimentos, pelos compostos e pelas estéticas da ciência.
O colecionador de despropósito era um agenciador de naturezas ínfimas. Um professor-biólogo-pesquisador que tem vício de estar no meio da escória, quer inventar eco(s)logias colecionando o abandono através de um arquivo de imagens de arte-ciência e natureza.
E numa manhã propensa a muitas experiências, o colecionador de despropósitos quis montar, com aquele amigo seu, fotógrafo, uma “Oficina de Desregular a Natureza”; pensavam que o laboratório de ciências pudesse funcionar como um chão. Era uma coisa totalmente desregulada para o crivo da ciência, e ele e seu amigo não tinham muita clareza sobre como se comportaria o chão dentro do laboratório, se o chão brotaria dentro dos tubos de ensaio, ou se ele, o chão, poderia germinar possibilidades de uma ciência sem propósito, algo assim: ficaram imaginando se o visgo e a lama poderiam habitar o abandono das placas de Petri.
Os meninos, com seus “olhos de descobrir”, experimentavam novas condições para as práticas de ciências, aprenderam coisas di-menor com as práticas dos despropósitos, principalmente que ninguém pode passar régua em tudo, sobretudo quando se trata das imagens de natureza repletas de seus deslimites. Era tanta (des)convicção científica entre os meninos e suas ciências que eles acabaram exercitando outros protocolos sobre as coisas incertas.
Nota: O texto brota e faz referências ao poema Oficina, encontrado no livro Memórias Inventadas. A segunda infância (2006), de Manoel de Barros.
Texto: Antonio Almeida da Silva
Construção fotográfica: Leandro Aparecido de Jesus e Antonio Almeida da Silva.
Projeto: Intervalar – Coord. Prof. Dr. Antonio Carlos Rodrigues de Amorim
Intervalar
Quando a palavra escrita convidou as imagens para a acompanharem nos deslizamentos de significados? Essa questão aglutina este projeto em rede de colaboração com universidades brasileiras e estrangeiras, congregando sentidos propulsores de um movimento de ruptura e de atravessamentos potentes da produção científica e sensível da educação e divulgação científica e cultural. Neste projeto de pesquisa coletivo, buscam-se aproximações entre educação, arte e divulgação científica e cultural e as teorizações de Gilles Deleuze pela via das visualidades, particularmente as marcas da era das produções artísticas midiáticas contemporâneas em que se salientam dois aspectos: a imersão no cotidiano, na qual as questões referentes às culturas de massa, de mercado e de homogeneização são um dos pontos tensionadores e as possibilidades de pensarmos as produções audiovisuais fora dos binômios: palavra e imagem; enunciável e visível; significado e sentido. Como um conceito, a audiovisualidade é um espaço inabitado do paradoxo. O paradoxo das diferenças e das disjunções entre o texto e a imagem, ou entre o enunciável e o visível. Pensar a educação e a divulgação como signo no meio, num campo de forças e vetores da arte (em especial pelas audiovisualidades), gerando um plano de composição, em diálogo com os conceitos da filosofia da diferença de Gilles Deleuze e com a imersão analítica em imagens de produções audiovisuais contemporâneas denominadas cinematográficas, videoinstalações ou de outras naturezas. No projeto, são inventados e criados artefatos visuais e audiovisuais destinados à exposições em espaços públicos.
Integrantes: Antonio Carlos Rodrigues de Amorim – Coordenador / Erica Speglich / Elenise Cristina Pires de Andrade / Carlos Eduardo Ferraço / Janete Magalhães Carvalho / Nilda Alves / Bia Porto / Susana Oliveira Dias / Alda Regina Tognini Romaguera / Alik Wunder / Leandro Belinaso Guimarães / Pamela Zacharias Sanches / Juliana Aparecida Jonson Gonçalves / Davina Marques / Ana Godinho / Juliana Soares Bom Tempo / Marcus Pereira Novaes / Lilian Barbosa / Ian Buchanan / Pasi Väliaho / Barbara dos Santos/ Fernanda Nunes / Murilo Collange/ Waldirene de Jesus / Edvan Lessa / Rodrigo Marcondes.
Financiador(es): Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo / Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão da Unicamp / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Edital Universal N. 484908/2013-8.