In the south turtles do not age | Paula Scamparini Ferreira

Título | In the south turtles do not age

(…) 1,5 toneladas de areia, de Copa Kagrana [praia situada em Viena], fazem referência à praia de Copacabana no Rio de Janeiro (…). A menção, entretanto, é ao lugar e não à topografia, em seu sentido mais estrito. A história aqui contada expõe a brutal exploração e abuso a que a natureza é submetida. As consequências são alarmantes e continuarão a ser sentidas nas próximas décadas. O Brasil, com seus vastos recursos físicos e naturais, que até então mantêm certa funcionalidade, continua a ser uma reserva vital do ecossistema e economia mundiais. Por infortúnio, esses dois sistemas ainda estão em conflito, e sua harmonia parece ter sido perdida há muito tempo. É nesse conflito que reside a essência da afirmação, bem como o porquê de as tartarugas não envelhecerem no Sul que Paula retrata.

O caso está relacionado com uma enorme catástrofe ambiental na qual uma barragem com rejeitos de alta toxicidade em Bento Rodrigues [MG] se rompeu e milhões de metros cúbicos de lama tóxica alcançaram o Rio Doce, um dos principais rios do país. Caudalosas ondas de resíduos venenosos carregaram consigo vilas inteiras e todo este gigante celerado derramou-se, formando um cone aluvial no Oceano Atlântico. Conforme a lama secava, as carcaças dos animais vinham à tona (…) A instalação destaca este momento.

Scamparini questiona a relação entre a natureza e a cultura. Como um ambiente afeta as origens e comportamentos das pessoas? Que consequências um crime desse porte traria para os responsáveis? Há uma tendência a eximir o Norte dessas questões, mas a globalização torna mais integrada a perspectiva do ecossistema. Tendo em vista um incidente semelhante na porção ocidental da Hungria em 2010, durante o rompimento de uma barragem colonial, podemos observar que os dois casos são bastante semelhantes e apenas seus alcances são diferentes. Na ocasião, também houve o rompimento de uma barragem, com rejeitos tóxicos chegando a invadir extensas áreas e as tornando inóspitas. À época, a solução do caso foi assumida pelas autoridades húngaras, o que assinala a sua gravidade. A diferença significativa reside não só no tamanho do país como também no sofrimento da população indígena. Esta mais uma vez se viu alijada de sua fonte de sustento, além da base de toda a sua cultura. Onde está a resistência, como ela pode operar, e como efetivamente funciona no atual estado de nossas democracias?

As tartarugas de Scamparini não envelhecem porque são mortas muito antes. Em diferentes culturas, a grande tartaruga é uma espécie de fundamento do mundo. Dizem que o mundo é carregado por um elefante em pé sobre uma tartaruga, mas o que ninguém sabe é quem a sustenta. Até mesmo Vishnu, em uma de suas encarnações, toma a forma de uma tartaruga, que protege o mundo da iminente ruína. Assim, quem quer que mate a tartaruga, o afoga, pois terá removido a sua base de sustentação. (…)

BERTHOLD ECKER, CURADOR DE ARTE CONTEMPORÂNEA NO WIEN MUSEUM.
[TEXTO CURATORIAL (PARCIAL) PARA A EXPOSIÇÃO IN THE SOUTH TURTHES DO NOT AGE.] 2018


| FICHA TÉCNICA |

In the south turtles do not age”. Paula Scamparini. Instalação. Areia sobre piso. Viena, Austria. 2018.

instalação apresentada em 2017 MAG3 Projekteraum. Vienna, Austria.

Em colaboração com a artista Sabine Groschup commission

Ada por tonspur Kunstverein Wien; Museum Quartier Vienna Q21; E MAG3

Viena, Austria | 2018

 

FERREIRA, Paula Scamparini. In the south turtles do not age. ClimaCom – Desastres. [online], Campinas, ano 10, n. 25. Nov. 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/in-the-south-turtles/


 

SEÇÃO ARTE | DESASTRES | Ano 10, n. 25, 2023

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