Cooperar ou perecer: a necropolítica do mundo imperial* | Nestor Turano Jr.

Desde a década de 1970, cientistas do clima já denunciavam o aumento na temperatura global, bem como suas possíveis causas. Sendo as megacorporações do setor de energia as principais vilãs dessa história, a atitude mais racional a ser tomada seria reduzir drasticamente sua pegada de carbono. Porém, como o nome sugere, “megacorporações” movimentam cifras bilionárias, criando a sensação de que, a despeito de seus impactos ambientais, elas talvez sejam um mal necessário.

Por Nestor Turano Jr.[1]

Cooperar ou perecer: a necropolítica do mundo imperial

Embora não seja de hoje que o planeta nos alerte que algo não está bem, parece que só recentemente decidimos parar e ouvir. Isso não significa que toda a sociedade deliberadamente optou por ignorar as causas e consequências devastadoras das mudanças climáticas. Desde a década de 1970, cientistas do clima já denunciavam o aumento na temperatura global, bem como suas possíveis causas. Sendo as megacorporações do setor de energia as principais vilãs dessa história, a atitude mais racional a ser tomada seria reduzir drasticamente sua pegada de carbono. Porém, como o nome sugere, “megacorporações” movimentam cifras bilionárias, criando a sensação de que, a despeito de seus impactos ambientais, elas talvez sejam um mal necessário.

Apesar do aumento nas emissões de gases de efeito estufa (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso) ter sido documentado a partir da Revolução Industrial, a “grande aceleração” só se deu no pós-guerra, graças a um crescimento populacional e de produção de bens de consumo, aumentando de maneira drástica as emissões de CO2 na atmosfera. Percebemos, outra vez, os interesses comerciais se sobressaindo às necessidades da Terra. Imagino que climatologistas daquela época, ignorados por razões políticas e econômicas, devem ter se perguntado qual preço pagaríamos pela destruição do meio ambiente. Hoje temos certeza da resposta: vivemos no Antropoceno, era geológica que sucede ao Holoceno, na qual o modo de vida dos seres humanos — mas não de todos, como já observamos — afeta o comportamento do sistema Terra.

De fato, estamos diante de um problema complexo e multifatorial, que abrange diversas áreas do conhecimento, já que precisamos repensar nosso modo de vida, que inclui transporte, eletricidade, construção civil etc., e isso envolve desde ciências naturais às humanidades, artes e aos conhecimentos ancestrais sagrados. A gravidade aumenta, pois não temos tempo a perder, como bem divulgou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change, ou IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), no relatório lançado em 2021, ao expor que o impacto provocado pelo ser humano já é irreversível e que as crises climática e ambiental se agravarão nas próximas décadas se nada for feito.

(Leia a coluna assinada completa em pdf)

 

* O presente texto, revisto e atualizado para esta coluna assinada, foi originalmente publicado no blog da Editora Fora do Ar em nov. 2022.

[1] Mestrando em Divulgação Científica e Cultural no Labjor-IEL-Unicamp. Email: n219513@dac.unicamp.br