O que a ciência Mbya Guarani ensina ao juruá? Alianças afetivas junto a Aldeia Indígena Ara Hovy, em Maricá (RJ) | Daniel Ganzarolli Martins, Leandro Kuaray Mimbi Chamorro e Maria Martinha Barbosa Mendonça
Daniel Ganzarolli Martins[1]
Leandro Kuaray Mimbi Chamorro[2]
Maria Martinha Barbosa Mendonça[3]
Como sucede na narrativa do livro “O som do rugido da onda”, de Micheliny Verunschk (2021), a menina indígena de nome Iñe’e, do povo amazônico Miraña, prosseguiria também no que chamaríamos de uma “viagem de desencantamento”. Tal escrita ficcional é baseada em fatos historiográficos reais do século XIX, sendo que Iñe’e e um menino do povo Juri são raptados – se poderia dizer coletados como se fossem plantas ou animais? – pelos naturalistas alemães Johann Baptist Von Spix e Karl Friedrich Philipp Von Martius ao explorarem as terras brasileiras. Apesar de esses cientistas se questionarem sobre suas ações em determinados momentos da narrativa, não deixaram de representar a força colonizadora do “projeto civilizatório”, assumida frontalmente pelo discurso científico, num procedimento de objetificação do outro que é tido como “selvagem” e não humano. Coletaram e levaram de navio o que entendiam por “natureza” – também idealizada nas crianças indígenas que tiveram sua humanidade negada –, para ser exibida como algo pitoresco vindo dos trópicos nas cortes palacianas da Europa. Danowski e Viveiros de Castro (2017) ressaltam como os povos indígenas já passaram por inúmeros “fins de mundo” ao longo de mais de 500 anos desde a invasão colonial; por isso, suas formas de resistência são também seculares. Viveiros de Castro reflete sobre a relação indissociável entre a existência e a resistência na trajetória dos povos indígenas brasileiros:
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Recebido em: 01/03/2024
Aceito em: o1/06/2024
[1] Doutor e Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Professor de Ciências da Rede Municipal de Maricá (RJ). E-mail: danielgmk9@gmail.com
[2] Mestrando em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor da etnia Mbya Guarani da Escola Municipal Indígena Para Poty Nhe’e Ja em Maricá, Itaipuaçu. E-mail: leandro_mendes30@yahoo.com.br
[3] Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atual diretora da Escola Municipal Indígena Para Poty Nhe’e Ja em Maricá, Itaipuaçu. E-mail: friduxa13@gmail.com
O que a ciência Mbya Guarani ensina ao juruá? Alianças afetivas junto a Aldeia Indígena Ara Hovy, em Maricá (RJ)
RESUMO: Essa pesquisa se movimenta na possibilidade das alianças afetivas, usando termo de Ailton Krenak, junto a comunidade Mbya Guarani da Aldeia Ara Hovy, situada no município de Maricá (RJ). Arguimos como os entrelaçamentos do Nhande reko – O “modo de ser” do povo Guarani – e os seres que habitam a Nhe’êry – palavra que designa o bioma da Mata Atlântica e significa “fonte da alma e da espiritualidade”– são potentes na elaboração de educações abertas às diferenças e multiplicidades, em especial para o campo de ensino de ciências. Construímos esta escrita a partir de uma vivência feita na Aldeia Ara Hovy para o público juruá – palavra da língua mbya guarani que designa os não indígenas – onde buscamos tecer essas relações. Como conclusão, destacamos a importância da demarcação de territórios para a existência do Teko porã (O “bem-viver”) dentro das comunidades indígena Mbya Guarani.
PALAVRAS-CHAVE: Povos indígenas. Ensino de ciências. Educação.
What does Mbya Guarani science teach the Juruá? Affective alliances with the Ara Hovy Indigenous Village, in Maricá (RJ)
ABSTRACT: This research focuses on the possibility of affective alliances, using Ailton Krenak’s term, together with the Mbya Guarani community of Aldeia Ara Hovy, located in the municipality of Maricá (RJ). We argue how the intertwining of Nhande reko – The “way of being” of the Guarani people – and the beings that inhabit Nhe’êry – a word that designates the Atlantic Forest biome and means “source of the soul and spirituality” – are powerful in development of educations open to differences and multiplicities, especially for the field of science teaching. We built this writing based on an experience made in Aldeia Ara Hovy for the Juruá public – a word from the Mbya Guarani language that designates non-indigenous people – where we seek to weave these relationships. In conclusion, we highlight the importance of demarcating territories for the existence of the Teko porã (The “good living”) within the Mbya Guarani indigenous communities.
KEYWORDS: Indigenous people. Science teaching. Education.
MARTINS, Daniel Gazarolli; CHAMORRO, Leandro Kuaray Mimbi;MENDONÇA, Maria Martinha Barbosa.O que a ciência Mbya Guarani ensina ao juruá? alianças afetivas junto a aldeia indigena Ara Hovy, em Maricá (RJ).ClimaCom – Territórios e Povos indígenas [online], Campinas, ano 11, n. 26., Jun. 2024. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ciencia-mbya-guarani