Carta a K | Juliana Pautilla
Juliana Pautilla[1]
Querida K
A vontade de te escrever aconteceu ali mesmo no escuro da plateia, quando trocamos olhares para partilhar a força da cena naquele palco-terreiro de Zé Celso, o Teatro Oficina[2]. Sentadas lado a lado em uma das arquibancadas, a iluminação de ribalta que vinha da plateia oposta rebatia em nós e fazia brilhar nossas lágrimas. Encontro de lágrimas ou o brilho de nossos olhares que se derretiam em líquidos. Foi ali que formulei as primeiras palavras desta carta: Querida k., Obaluaê é como sua escrita, um testemunho desde a ferida.
Saí dali com a vontade imperativa de te escrever e prometi a mim mesma, em silêncio, que leria novamente sua tese, que agora ganhou formato de livro. Tenho uma amiga escritora, pensei, e hoje choramos juntas. Em “Testemunho desde a ferida” (2024) você teve a coragem de falar sobre o abuso desde uma delicadeza absurdamente radical. Estar ao seu lado é ao mesmo tempo relembrar essas marcas e assim nos curamos partilhando nossas existências.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/09/2025
Aceito em: 15/10/2025
[1] Juliana Pautilla (Nome Artístico). Artista, pesquisadora e psicanalista. Mestre em Artes pela UFMG (Bolsa Capes). Pós graduanda (Latu Sensu) em Sistema Laban/Bartenieff na Faculdade Angel Vianna (2013-2015). Graduada em Licenciatura em Música pela UEMG/2009. Percurso psicanalítico com foco em clínica e pesquisa transversal arte-psicanálise: Estudos Freudianos, trauma e violência de estado na REM – Rede para Escutas Marginais (2022-23). Arte e fundamentos psicanalíticos na ALCEP (Associação Livre Centro de Estudos em Psicanálise (2023-2024). Esquizoanálise, psicanálise e filosofia da diferença com João Perci Schiavon, Suely Rolnik e Peter Pal Pelbart Curso livre (2022-atual). Estudos de Gênero, com Helena Vieira (2020-2022). Formação continuada em grupos de estudos (Freud, Lacan, Deleuze, Guattari). Análise pessoal desde 2015.
Carta a K
RESUMO: Ensaio epistolar endereçado à uma amiga. As cenas da peça teatral, “Atotô – Silêncio! O rei está na terra”, da Cia. Odara, assistida no Teatro Oficina, em São Paulo, funcionam como disparadores para articular amizade e a marca de abusos nas infâncias desde as presenças na peça: Obaluaê (ferida-cura) e Exu (passagem para a fala). O ensaio, ao modo associativo e composicional, atravessa percepções e vivências fazendo referências a possibilidades contra violentas na arte e na clínica, sustentando esta última como fronteira-encruzilhada, espaço possível para distanciamento da cena de violência de gênero.
PALAVRAS-CHAVE: Arte. Psicanálise. Encruzilhada. Fronteira. Ferida.
RESUMEN: Un ensayo epistolar dirigido a una amiga. Escenas de la obra “Atotô – ¡Silencio! El Rey está en la Tierra”, de Cia. Odara, presentada en el Teatro Oficina de São Paulo, sirven como detonantes para articular la amistad y las cicatrices del abuso infantil, comenzando com los personajes de la obra teatral: Obaluaê (herida-curar) y Exu (pasaje al habla). El ensayo, de manera asociativa y compositiva, recorre percepciones y experiencias, haciendo referencia a las posibilidades de contraviolencia en el arte y la pratica clínica, apoyando esta ultima como frontera-encrucijada, un posible espacio para distanciarse del escenario de la violencia la violencia de género.
PALABRAS CLAVE: Arte. Psicoanálisis. Encrucijada. Frontera. Herida
PAUTILLA, Juliana. Carta a k. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/carta-a-k/
