Dossiê “Este lugar, que não é meu?”

| ano 9, n. 22, 2022 |

Este dossiê surgiu de urgências postas pelas intrusões de Gaia, da necessidade de re-imaginar a forma como têm acontecido os agenciamentos das nossas relações tanto com a nossa espécie, como com as demais. O que aponta no horizonte é que novas formas de estar no mundo sejam experimentadas. Diante disso, a nossa proposta nesse dossiê foi desemaranhar os novelos que tecem nossas relações e, nessa tessitura, criar redes que sejam abertas a outras sensibilidades.

O inqualificável da situação e o do tempo, postos juntos neste Dossiê, fazem uma certeza, a única certeza, a do fim: fim dos mitos, fim das identidades fixas, fim do tempo das coisas imóveis. Instaura-se o pensamento impensado do tempo, que liga a figura da certeza ao modo do desaparecimento. Isso nos ensina Rancière. E, uma vez mais, podemos articular o fim de um ciclo que ordena a humanidade e seus direitos em um jogo de estabilizações e normativas, para a constatação de o que se vê em toda parte, certamente, é o que não é mais, é porque não é mais. São fluxos, deslocamentos, rasuras e linhas que desenham outros ciclos, sobrepostos e rearrajandos. Pegadas ainda invisíveis de um caminhar a ser feito; as pegadas sem os pés que deixaram as marcas. As produções, em escrita, imagens e sons, acadêmicas e artísticas, são forças neste movimento de camadas em fluxos e em movimentos constantes. Quais estruturas serão mantidas? Que lugares-outros constituirá?

 

A necessidade da migração ou frente à imposição daqueles que sentem as pressões ambientais, culturais, sociais, mas não têm como deixar seu lugar, é complexa e precisa de encontros. Isso porque o encontro deveria ser sempre da ordem do imprevisível, sempre capaz de provocar mudanças sem que nada o balize a priori. Nesse sentido, os textos e produções artísticas deste dossiê são fluxos que correm por entre as pluralidades que circundam questões relativas aos modos de se seguir existindo como refugiados. Há toda uma lógica de subjetividades que transborda nesses encontros, e o dossiê deseja inaugurar outros gestos, propor a instauração de novas existências.

Trata-se de um pluriverso de possibilidades, compondo-se com esses movimentos e com aquilo que eles despertam ou fazem despertar a partir desse encontro. Embalados por esse movimento de deslocamento dos lugares e do pertencimento e da posse de suas percepções e sentidos, somos grates a todes que aceitaram nosso convite para essa composição, ao mesmo tempo em que sonhamos com as linhas intensivas para todes os que ainda viverão um encontro com o dossiê.

Editores | Fabíola Fonseca, Adriana Assumpção e AC Amorim

Editoração | Susana Dias, Larissa Belini, Paulinha Pinto, Rayane Barbosa, Emanuely Miranda e Natália Azevedo

Revisão | Alice Copetti e Carolina Rodrigues

 

| Sumário | Dossiê “Esse lugar, que não é meu?” |

| Ano 9, n. 22, 2022 |

SEÇÃO PESQUISA

ARTIGOS

Encontramo-nos no exílio: uma possibilidade para o reencantamento ambiental necessário 

Marcela Elisa Beraldo De Paiva e Eduardo José Marandola Junior

Microorganismos e carona: experiências artísticas multiespécies e a cosmopolítica

Sofia Mussolin

Refúgios inóspitos: sobrevivência marginal em The Handmaid’s Tale 

Thamires Ribeiro de Mattos

Do bode expiatório ao bode conselheirista: notas para pensar vida e guerra em Canudos

Mariana Cruz de Almeida Lima

 

ENSAIOS

“No lugar do outro”, um passeio com Claudia Andujar
Fabíola Fonseca

Como (não) proteger um ser vivo das catástrofes ao redor: uma reflexão artística sobre sistemas de vida

Maria Luiza Canela de Almeida

Novos parentes no Antropoceno 

Rodolfo Eduardo Scachetti

Todos somos refugiados climáticos: ética socioclimática como crítica à produção de formas convivialistas e pós-humanistas

Frederico Salmi

Reanimando um mundo que ainda vive

Rafael Ribeiro Visconti

Sobre clareiras e capoeiras vagabundas

Leda Alves

Que abutres são esses? ou Carta a Candinho e a Graciliano

Davina Marques

Círculo vermelho

Livia Paola Gorresio

Ensaiando escritas entre derivas e travessias

Tiago Amaral Sales

O que mais a vida poderia ser? 

Fernanda Moraes e Flávia Liberman

 

SEÇÃO ARTE

ARTES

Ficando com as ruínas

Eleonora Artysenk e Marina Guzzo

[Trilha]

Mônica Antunes Ulysséa

Intimidad cósmica

Cristina Pósleman

Meu tupi exilio 

Davi de Codes

Caminantes

Anike Laurita

Esse lugar que é nosso

Rachel Pires do Rego

ração

Aline Dias

Série eventos extremos

Tiago Cardoso Gomes

Não se pode tocar, está em mim, está em nós 

Walmeri Kellen Ribeiro

Mera paisagem

Rosana Torralba

Minha planta do pé já esteve mais perto do chão

Maíra Velho

Alianças Vegetais

Ana Paula Valle Pereira

Como em dobras de papel: uma reflexão sobre a crise de refugiados

Ana Terra Castro Viana

Suíte Amazônica

Hugo Fortes Salinas

Agonia

Peter Ilicciev

 

LABORATÓRIO-ATELIÊ 

Como sobreviver ao fim do mundo: o impacto da arte na vida em isolamento
Luísa Sirângelo

INTERVALAR – Devir-Caiçara

Lais de Paula Pereira

INTERVALAR – Colagens-deslocamentos

Stephanny dos Santos Nobre

INTERVALAR – Territórios-Mundo

Alessandra Aparecida de Melo e Sara Divina Melo de Salvi

 

ARVORECER DE CASA EM CASA

Peixes-folha 2022

Mário Martins

Acampamento Luta pela vida

Karolyne de Souza e Larissa Bellini

Naĩnecü

Paulinha Luiz Pinto e Susana Dias

 

SEÇÃO JORNAL ISMO

NOTÍCIAS

Por Gláucia Perez

Editora Susana Dias

Colocar as mudanças climáticas dentro das eleições é uma das prioridades do Brasil pós COP26 

Terras indígenas, unidades de conservação, clima e futuro estão entrelaçados

O desafio da redução da vulnerabilidade das cidades em períodos de chuvas

É preciso revitalizar a potência das árvores para o pensamento

Produções audiovisuais e literatura como meios para compreender a questão dos refugiados climáticos

O cancelamento de recursos financeiros para monitoramento ameaça o cerrado brasileiro

Uma releitura entre um vídeo game, mudanças climáticas e as migrações para conectar as pessoas a imaginários climáticos

 

PRÓXIMOS DOSSIÊS | CHAMADA ABERTA

Dossiê “Políticas vegetais”

Susana Dias (Unicamp), Marina Guzzo (Unifesp) e Fabíola Fonseca (Unicamp)

Submissões até 15 de agosto de 2022

 


FICHA TÉCNICA

Dossiê “Esse lugar, que não é meu?”

Editores | Fabíola Fonseca (Faculdade de Educação Unicamp/Pós-Doutoranda CAPES), Adriana Assumpção (Universidade Estácio de Sá e Faculdade Unyleya) e AC Amorim (Faculdade de Educação/Unicamp)

Editoração | Susana Dias, Larissa Belini, Paulinha Pinto, Rayane Barbosa, Emanuely Miranda e Natália Azevedo (Labjor-Unicamp)

Curadoria seção Arvorecer de casa em casa | Larissa Bellini e Susana Dias (Labjor – Unicamp)

Revisão | Alice Dalmaso (UFSM) e Carolina Rodrigues (FCA-Unicamp)

Capa | Grande – Mapa 1 – Maíra Velho. Pequenas – Fogofato – Hugo Fortes e Anestesia – Raquel Pires.

Grupos | Laboratório de Estudos Audiovisuais – Olho e Diaspotics / UFRJ

Redes de Pesquisa | Rede de Divulgação Científica e Mudanças Climáticas

Instituição | Faculdade de Educação da Unicamp, e Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Projetos | Projeto de pesquisa “Currículos, refúgios e restos: imagens aprendentes e media-ção” (Processo CNPq – 425691/2018-7) | Tema Transversal “Divulgação do conhecimento, comunicação de risco e educação para a sustentabilidade” do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC 2a. Fase) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)

Pós-graduação | Programa de Pós-graduação em Educação da Unicamp, Mestrado em Divulgação Científica e Cultural da Unicamp e Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estácio de Sá – PPGE/UNESA