A Carne de Gaia | Beá Meira, Claudia Baré, Larissa Ye’pa e Rayane Kaingang  

Título | A Carne de Gaia

Beá Meira experimenta as potências dos encontros entre artes e ciências em tempos de catástrofes, nos convidando a “ficar com o problema”, como propõe a filósofa Donna Haraway. Emergem do trabalho de Beá imagens que tocam A Carne de Gaia, que ganham intimidade como uma Terra viva, ativa e criativa, que nos convocam ao trabalho urgente de criar mundos habitáveis desde dentro das ruínas. 

São desenhos, pinturas, carimbos, litogravuras, tapeçarias e mokulitos que dão ver, sentir e pensar uma Terra danificada pelas ações antrópicas capitalizadas. Como perceber, novamente, a dura e criminosa realidade do garimpo, das queimadas, dos desmatamentos, dos derramamentos de óleo e das invasões dos territórios indígenas? Dar a perceber, de modo não catastrofista ou romantizado, é a operação sensível que Beá realiza. 

Não recusamos olhar suas imagens, elas não são insuportáveis. Pelo contrário, elas nos engajam, reivindicam um corpo presente e ativo, conectado a esta Terra. Isso acontece porque esse engajamento não se dá pela sedução espetacular do dispositivo das mídias massificadas, mas por um entrelaçamento cuidadoso entre artes, ciências e políticas, que suspende os regimes perceptivos dominantes e os jogos de sentidos já dados. 

A maneira como se apropria das técnicas artísticas e procedimentos das ciências, articulando poesias e métricas das paisagens, é um convite a pensar não apenas com as artes e ciências que já estão aí, mas entre elas e com seus devires, suas relações e possibilidades porvir. Sentimos como a exposição é um caderno de contabilidade fabulado, que não se recusa a medir, mas que interroga suas perspectivas antropocêntricas, colonialistas, tecnocráticas, gerenciais e modernizadoras, que nos trouxeram até os tempos atuais, até o Antropoceno ou o Capitaloceno. 

Ao visitar a exposição habitamos territórios de alianças entre cadernos e mundos, entre cores e imagens de satélite, entre padronagens e mapas… Somos chamados a ver, sentir, pensar de novo e somos convocados a interrogar os modos habituais de fazer ver, sentir, pensar. E essas proposições envolvem colaborações com muitos – céus, terras, rios, plantas, cientistas, povos originários… –, que emergem no trabalho de Beá não como meros recursos, objetos ou materiais para as artes, mas como companhias vivas de criação.

Especialmente, também nesta exposição, o diálogo com os povos indígenas ganha expressão através de uma obra coletiva, feita com as artistas Rayane Barbosa Kaingang, Larissa Ye’pa e Claudia Baré, onde gentes-terras nos fazem entrar em contato com modos de existir simbióticos e responsáveis.


| FICHA TÉCNICA |

Artistas | Beá Meira, Claudia Baré, Larissa Ye’pa e Rayane Kaingang  

Curadora | Susana Oliveira Dias

Mokulito | Realizado no atelier HF

Design gráfico | Beá Meira

Expografia e montagem | Pavão Arquitetura e Expografia Ltda

Produção | Teresa Mas e equipe Instituto Pavão Cultural; Alan Coelho, Clarice Ariela, Guilherme Curti Gomes, Julia Pupim, Marcela Gonçalves e Mario Braga

Beá Meira | Beá Meira é arquiteta formada pela FAU – USP.  Autora de materias didáticos de arte para o ensino básico, participou do PNLD de 2016 a 2024. Tem se dedicado de forma cotidiana a anotar reflexões visuais sobre o antropoceno em seus cadernos. Em 2021, iniciou o aprendizado de litogravura e mokolito. Participou recentemente da exposição Paisagens Mineradas, promovida pelo ICLT, na Matilha Cultural, em São Paulo. 

Susana Oliveira Dias | Susana Oliveira Dias é pesquisadora do Labjor-Nudecri-Unicamp, professora do PPG Divulgação Científica e Cultural (Labjor-IEL-Unicamp), editora da Revista ClimaCom e sua participação como curadora desta exposição é uma ação do projeto “Perceber-fazer floresta: alianças entre artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno” (Fapesp 2022/05981-9).

Claudia Baré | Ana Claudia Martins Tomas é indígena da etnia Baré, liderança indígena em Manaus, mãe, artesã, multiartista, professora indígena formada em pedagogia pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA), mestranda em linguística no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.

Larissa Ye’pa | Larissa Ye’padiho Mota Duarte é mulher indígena Ye’pa Mahsâ, mãe, multiartista e artesã, graduanda em artes visuais no Instituto de Artes (IA) da Unicamp.

Rayane Kaingang | Artista indígena Kaingang, graduanda do curso de pedagogia pela Unicamp, pesquisadora e artista do grupo multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações do Labjor-Unicamp, uma das editoras da revista ClimaCom.

Legendas |

1-9 | Fotos do lançamento da exposição

10 | Corpo ativo de Gaia. Geologia e Biologia. Sobre a inteiração entre os milhões de organismos vivos e o ambiente. Monotipia e bordado com linha de tucum sobre tecidos tingidos com pigmentos da floresta.

11 | Mineroduto e desmatamento sobre terra preta. Estratigrafia de uma ex-floresta. Acrílica sobre tela.

12 | O grande recinto. A chegada. O mundo fica cada dia menor. Plantação marinha de poços de petróleo sobre coral, na foz do rio Amazonas. Acrílica sobre tela.

13 | Biosfera. Atmosfera, 21% de oxigênio, 17 km para todas as vidas. Acrílica sobre tela.

14 | Biosfera. Oceano, 3,4 % de sal, 12 km para todas as vidas. Acrílica sobre tela.

15 | Ervas daninhas, mamíferas e bípedes. Monotipia sobre Mokulito.

16 | Atividade mineradora sobre pedra. Litografia.

17 | Rupturas paisagísticas. Terras sem mãe. Liquifação da paisagem, Carimbo sobre papel.

18 | Mulher Bioma. Acrílica e sementes de açaí sobre lona de 200 cm de diâmetro. Obra da artista convidada Rayane Kaingang.

 

 

 

 

 

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MEIRA, Beá; BARÉ, Claudia; YE’PA, Larissa; KAINGANG, Rayane. A Carne de Gaia. ClimaCom – Territórios e povos indígenas [online], Campinas, ano 11, nº.26. jun. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-carne-de-gaia/ ‎

SEÇÃO ARTE | TERRITÓRIOS E POVOS INDÍGENAS | Ano 11, n. 26, 2024

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