Janaína Quitério
Segundo a filósofa Déborah Danowski, embora não haja mais controvérsia científica sobre as mudanças climáticas, há ainda aqueles que “se atrevem a negar abertamente a realidade do aquecimento global ou a sua origem na ação humana”, como aponta em O hiperrealismo das mudanças climáticas e as várias faces do negacionismo. Mas o foco de Danowski não foi dado a esse tipo de negacionista durante o debate que fez, em 2010, com estudantes de filosofia da Universidade Federal de Goiás (UFG) – e adaptado em texto pela Sopro 70, em 2012 –, mas a outras faces do negacionismo que predominam no Brasil e se expressam no discurso de que “não há saída” para as mudanças climáticas fora da sociedade cristã/capitalista com seu modo de vida tecnoindustrial.
“A expressão ‘salvar o planeta’ quase sempre quer dizer, 1º, salvar a vida humana no planeta, e, 2º, salvar nossa forma de civilização – ocidental, democrática, capitalista, neoliberal, tecnológica e tecnofílica”, argumenta. Danowski questiona o pressuposto de que a tecnologia “salvará”, corrigirá os efeitos colaterais do desenvolvimento econômico e os seus padrões de consumo que despejam as fumaças do aquecimento no globo, mas sem abrir mão do sonho do conforto para todos (ou bem poucos, como se sabe). Em diálogo com filósofos como Isabelle Stengers e Gilles Deleuze, Danowski problematiza: acreditar na “salvação” pela manutenção do modelo que justamente esgotou as condições de vida no planeta é negar que haja outras saídas, “porque, afinal, pensar de verdade é sempre pensar outra coisa, é portanto criar” – como diria Gilles Deleuze – “e não apenas realizar um destino”.
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