O que pode Exu contra o epistemicídio saber/ver nas imagens de religiões de matriz afro-brasileira e africana presentes num livro didático de artes? | Aparecido Vasconcelos de Souza, Fabio de Carvalho Cordeiro e Megg Rayara Gomes de Oliveira
Aparecido Vasconcelos de Souza[1]
Fabio de Carvalho Cordeiro[2]
Megg Rayara Gomes de Oliveira[3]
Introdução
A educação brasileira contemporânea é atravessada por tensões raciais, sociais, políticas e culturais, reflexo de um processo histórico colonialista e de um sistema moderno colonial em constante operação. No entanto, o Movimento Negro, entre outros movimentos sociais, a partir de um histórico de lutas e reinvindicações tem reposicionado tais tensões perante o Estado e a sociedade civil, construindo uma perspectiva educacional antirracista nas escolas, como em outras instituições da nossa sociedade.
Entre suas reivindicações, destaca-se a necessidade de reeducar o olhar sobre o passado colonial e construir imagens positivas das pessoas negras como forma de combate ao racismo. Nesse sentido, a promulgação da Lei nº 10.639/03 tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, buscando promover uma formação antirracista, inclusiva e equitativa.
Consideramos também importante destacar outro marco normativo fruto dessa reestruturação educacional que centraliza o debate étnico-racial em nosso país: o parecer nº 003/2004 do Conselho Nacional de Educação, de autoria da professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Nesse cenário, o livro didático, sobretudo nas escolas públicas, ocupa lugar estratégico. Ele pode difundir narrativas positivas sobre a cultura afro-brasileira e africana ou, ao contrário, reforçar estereótipos racistas. Como observa Megg Rayara Gomes de Oliveira (2018), o livro didático não apenas transmite conteúdos, mas também veicula valores e ideologias dominantes, tornando-se um espaço de disputa e de (re)construção de representações que impactam diretamente a formação dos estudantes.
(Leia o artigo completo em PDF)
[1] Universidade Federal do Paraná. E-mail: cidomarchetaria@gmail.com
[2] Universidade Federal do Paraná. E-mail: fabio.ufpa2009@hotmail.com
[3] Universidade Federal do Paraná. E-mail: meggrayara@ufpr.br
O que pode Exu contra o epistemicídio saber/ver nas imagens de religiões de matriz afro-brasileira e africana presentes num livro didático de artes?
RESUMO: Este artigo analisa como as religiões de matriz afro-brasileira e africana são representadas no livro didático de Arte da coleção Araribá Conecta, volume 1 (Editora Moderna, 2022), distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2024/2027 para o 6º ano do Ensino Fundamental. Em consonância com a Lei nº 10.639/2003, investiga-se se imagens e narrativas visuais contribuem para desconstruir estereótipos racistas e promover representações positivas das religiosidades afro. A partir de uma perspectiva decolonial, o estudo dialoga com Stuart Hall (2016), Luiz Rufino (2017) e Megg Rayara Gomes de Oliveira (2017), evidenciando críticas à branquitude, à colonialidade do saber e ao epistemicídio de saberes ancestrais. A metodologia é multidisciplinar e adota análise do discurso de textos e imagens, orientada por Exu como método e pedagogia da encruzilhada. Os resultados preliminares indicam que, apesar das exigências legais, a presença de Exu e outras entidades na obra analisada é pequena e limitada a abordagens descritivas e folclorizadas. Essa superficialidade reforça o epistemicídio e reduz a compreensão das cosmologias africanas. Considerando Exu como princípio epistemológico (Rufino, 2017), o artigo discute como as imagens podem subverter hierarquias, valorizar saberes ancestrais e fomentar práticas pedagógicas antirracistas.
PALAVRAS-CHAVE: Artes Visuais. Exu. Livro Didático. Religiões de Matriz Africana
What can Exu do against epistemicide when knowing/seeing the images of Afro-Brazilian and African-based religions present in an arts textbook??
Abstract: This article analyzes how Afro-Brazilian and African-based religions are represented in the Araribá Conecta Artes textbook, volume 1 (Editora Moderna, 2022), distributed by the National Textbook Program (PNLD) 2024/2027 for the 6th grade of Elementary Education. In line with Law No. 10.639/2003, it investigates whether images and visual narratives contribute to deconstructing ultidi stereotypes and promoting positive representations of Afro-Brazilian religiosities. From a decolonial perspective, the study dialogues with Stuart Hall (2016), Luís Rufino (2019), and Megg Rayara Gomes de Oliveira (2017), highlighting critiques of whiteness, the coloniality of knowledge, and the epistemicide of ancestral wisdom. The methodology is multidisciplinary and adopts discourse analysis of texts and images, guided by Exu as both method and pedagogy of the crossroads. Preliminary results indicate that, despite legal requirements, there is little representation of Exu and other entities, restricted to descriptive and folklorized approaches. Such superficiality reinforces epistemicide and limits the understanding of African cosmologies. Considering Exu as na epistemological and methodological principle (Rufino, 2017), the article discusses how images may subvert hierarchies, value ancestral knowledge, and foster antiracist pedagogical practices.
KEYWORDS: Visual Arts. Exu. Textbook. African-based Religions.
SOUZA, Aparecido Vasconcelos; CORDEIRO, Fabio de Carvalho; OLIVEIRA, Megg Rayara Gomes. O que pode Exu contra o epistemicídio saber/ver nas imagens de religiões de matriz afro-brasileira e africana presentes num livro didático de artes?. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método. [online], Campinas, ano 12, n. 29 dez. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/o-que-pode-exu/
