As coisas têm o tempo das coisas: o tempo espiralar manifesto no samba e no rap | Taiana Machado
Taiana Machado[1]
Nas temporalidades curvas,
tempo e memória
são imagens que se refletem.
(Martins, 2021, p.23)
As coisas têm o tempo das coisas e as pedras têm o tempo das pedras. Referencio esse provérbio conhecido por passarinhos no livro de poesias 7 notas surdas (2025). Ele me foi soprado em uma tarde de contemplação do curso de um rio na Serra de Nova Friburgo. Observava a velocidade das águas, sempre em movimento e variação, em oposição ao tempo das pedras que ali pareciam estáticas. Mas temos consciência que aquela era uma falsa impressão de imobilidade. As pedras têm seu tempo de erosão, de criar musgos, de escurecer ou clarear, têm seu tempo de movimento e variação. Enquanto eu observava o tempo da água e o tempo das pedras que ali corriam também refletia o meu tempo, como personagem presente da paisagem. O que havia naquele cenário, portanto, era uma sobreposição de tempos que transcorriam em diferentes velocidades e se esbarravam naquele encontro de água-pedra-gente. Naquele breve e distendido momento, senti no meu corpo o tempo como entidade muito distante daquele Saturno devorador de filhos, pintado por Goya e tão explorado no campo da psicanálise. O tempo que eu via naquele encontro era dilatado e acolhedor.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 15/09/2025
Aceito em: 15/10/2025
[1] Doutoranda em Estudos Comparados de Literatura pelo programa de Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense (UFF). Concluiu seu mestrado em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e licenciou-se em música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Atua como educadora há 16 anos em escolas da rede pública e particular, em projetos culturais e na produção de livros didáticos para o Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD). Destacam-se ainda seus trabalhos como cantora, arranjadora, regente de corais, bem como sua produção poética, com dois livros publicados.
As coisas têm o tempo das coisas: o tempo espiralar manifesto no samba e no rap
RESUMO: O ensaio propõe uma leitura da aproximação entre o samba e o rap na cidade do Rio de Janeiro a partir do tempo espiralar, conceito atribuído à Leda Maria Martins. O texto aponta o encontro dos dois estilos que tem em Marcelo D2 um importante expoente. O ensaio, resgata a história das periferias cariocas e a maneira pela qual a performance musical do samba e do rap resguardou saberes e histórias de resistência do povo negro e periférico da cidade. Assim, esse encontro se torna uma dobra do tempo, isso é, um espaço em que o ontem e o hoje se recuperam e se influenciam mutuamente.
PALAVRAS-CHAVE: Rap. Samba. Tempo Espiralar. Performance. Música.
Things have their own time: the spiral time manifested in samba and rap
ABSTRACT: This essay proposes a reading of the connection between samba and rap in Rio de Janeiro through the lens of spiral time, a concept attributed to Leda Maria Martins. The text highlights the intersection of the two styles, with Marcelo D2 as an important exponent. The essay explores the history of Rio’s peripheries and the ways in which the musical performance of samba and rap preserved the knowledge and stories of resistance of the city’s black and peripheral population. Thus, this encounter becomes a wrinkle in time, in other words, a space where yesterday and today reconnect and influence each other.
KEYWORDS: Rap. Samba. Spiral Time. Performance. Music.
MACHADO, Taiana. As coisas têm o tempo das coisas: o tempo espiralar manifesto no samba e no rap. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/o-tempo-das-coisas/
