Projeções futuras de relatórios como os do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que os eventos extremos pelos quais o mundo passa hoje podem se agravar em decorrência da escalada das mudanças climáticas. O crescimento da população global, somado à maior ocupação de áreas de risco, aumenta ainda mais a possibilidade de que tais desastres ocorram, potencializando a vulnerabilidade humana a eles.
Por isso, as pesquisas da sub-rede Desastres Naturais, da Rede Clima, se apoiam em dois eixos. O primeiro é perceber os impactos das alterações climáticas no aumento, em número de ocorrências, de eventos extremos que potencialmente causariam desastres – junto com o aumento da vulnerabilidade da população. O segundo é analisar quais ações de prevenção de desastres naturais e de adaptação a eventos extremos podem ser desencadeadas além de iniciativas para a diminuição dos impactos pós-desastres.
Regina Rodrigues, professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora da sub-rede, conta que os focos principais das pesquisas são as regiões do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, a região serrana do Rio de Janeiro e o semiárido nordestino. Nos dois primeiros casos, analisa-se a precipitação extrema e seu impacto na hidrologia e no movimento de massas de terra e encostas, eventos que causam muitas mortes diretas. “O Vale do Itajaí e a região serrana do Rio são propensas a deslizamentos e inundações, enquanto o semiárido nordestino está sujeito a secas frequentes”, conta a pesquisadora. Ela diz que, no caso do semiárido, a seca é um tipo de desastre natural que, apesar de não provocar tantas mortes diretas em um único episódio, afeta um número mais vasto de pessoas ao longo do tempo.
Para entender melhor esses fenômenos, os pesquisadores criam bancos de dados ambientais, físicos, socioeconômicos e históricos de ocorrências de desastres naturais a fim de analisar eventos de precipitação extrema nas regiões pesquisadas e estudar os impactos que eles têm na hidrologia e no movimento de terra em encostas. Além disso, também avaliam a vulnerabilidade da população aos principais eventos extremos e propõem indicadores para avaliação da sustentabilidade urbana considerando o risco climático – além de analiasar os impactos socioeconômicos e ambientais de tais desastres. Tudo isso, conta Rodrigues, contribui para a formulação de estratégias de adaptação às mudanças climáticas.
O próximo passo é testar tecnologias de alerta pré e pós-desastre. A tecnologia pré-desastre “conta com um sensor acústico que alerta a população sobre o risco aumentado de deslizamento de encostas”, descreve Rodrigues. Já no pós-desastre, “o uso de medidores da qualidade da água permitirá aos moradores do local saber onde são as áreas alagadas com mais risco à saúde por conta da proliferação de doenças como a leptospirose – e os próprios moradores ou o representante de cada bairro poderão usar a tecnologia”, além da Defesa Civil. Tanto o sensor quanto o medidor foram desenvolvidos no Reino Unido e já funcionam em outros lugares do mundo.
[Esta matéria integra a série dedicada às pesquisas desenvolvidas pelas sub-redes da Rede Clima]