Alice Dalmaso | Fiandar
Título: Alice Dalmaso | Fiandar
Fiandar: bordar, traçar, correr, arrematar, compor com linhas e fios de vida, por entre materialidades múltiplas, constituindo o espaço aberto de colher momentos com os dedos das mãos. Ir se instalando pelos entres, construindo conexões não sentidas/experimentadas, enquanto se pensa sobre o que se aprende com os modos de povoamento das aranhas, com sons e gestos de uma criança, seus pios, suas vogais, silêncios, sons inauditos, com o modo traidor de existir em meio às coisas do mundo; o que se aprende quando se experimenta com personagens da literatura, para que se possa escrever dentro de um sem fim de lugares da sensação; o que se aprende com a vibração de qualquer coisa animada ou inanimada que se dar a ver, dar a ouvir, dar a existir, dar a escrever e produzir pesquisas em educação.
Os materiais da oficina foram compostos de linhas arrematadas em recortes de textos e imagens, produzindo relações emanharadas entre rizomas de multiplicidades das experimentações/pensamentos de duas pesquisas: de doutorado “Fiandografia: experimentações entre leitura e escrita numa pesquisa em educação” e de pós-doutorado “Experimentar (com) um modo de existir-criança: composições para pensar ciências, artes, divulgações, educações”. O compartilhamento dos modos e desejos de criação de ambas pesquisas entram em blocos de devir com folhas, galhos, tecidos, por entre linhas de diferentes texturas e cores, com dedos e agulhas, com a verbalização de experiências de ler e escrever, com palavras-conceitos produzidos por crianças, entre outros heterogêneos indistinguíveis e incapturáveis.
Um estar-junto com tudo que vibra, na experiência presente. Compor juntos, fazer juntos, catando coisas por entre as materialidades, fiandografando passagens de fios, passagens de palavras, furos por papeis, agenciamento de seres, registros do que se pode capturar e produzir outras coisas. Atentar ao que passa aqui, agora, no imediato, enquanto se dá um novo corpo, um novo sentido, ao que não havia sido pensado/composto/experimentado.
Em novas geografias e paisagens, seguir produzindo um corpo atento às linguagens e tempos inúteis, ao fazer teias e escritas pelo prazer de fazê-las.
Um arremate, um recolher de objetos, e um novo som.
FICHA TÉCNICA
Concepção da oficina | Alice Dalmaso, professora da Universidade Federal de Santa Maria e pós-doutoranda do Labjor-Unicamp
Participantes | Gláucia Perez, Carolina Avilez, Rafael Ghiraldeli, Luciana de Souza, Jaqueline Medeiros, Marília Costa, Mariana Vilela e Gabriela Rodrigues, Susana Dias, Alice Dalmaso, Mauro Tanaka, Rodrigo Reis Rodrigues, Sara Melo, Maria Cortez Salviani.
Fotos e vídeos | Alice Dalmaso, Carolina Avilez, Luciana de Souza, Maria Cortez Salviani, Rafael Ghiraldeli e Susana Dias.
Lugar | Praça da Paz Unicamp
Data | 21 de agosto de 2019
Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp segundo semestre de 2019 no Encontro 1 – “Devir criança-animal-elemental-traidor”, parte da série de encontros “Ecologias de Devires: do chamado a fazer-perceber floresta” organizado pelo
Grupo multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações
Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia
Professora – Dra. Susana Dias
Esta série de encontros está sendo proposta no âmbito da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” onde o problema que nos interessa pensar é o de entrar em comunicação com um mundo todo vivo, com uma matéria viva, ativa e criativa (DELEUZE & GUATTARI, 1997; STENGERS, 2017; PRIGOGINE, 2011; EZCURDIA, 2016; DADA & FREITAS, 2018). Seguiremos neste semestre com a ideia de pensar o que pode ser comunicar em parceria com a floresta, propondo encontros com diversos lugares, materiais e práticas para que possamos aprender com diferentes ofícios a como ganhar intimidade com as florestas. Uma das questões que a floresta suscita de interessante para pensar é o fato de reunir uma diversidade de seres-coisas-forças-mundos e propiciar condições para encontros, com a possibilidade de gerar co-evoluções, co-criações. Nessas co-evoluções-criações estão sempre envolvidas ecologias de devires (negro, índio, animal, vegetal, criança, fungo, máquina, pedra, animal, linha, luz, elemental, cósmico…), a chance de que sejamos afetados e afetemos, de que nos engajemos em movimentos de alegre imbricação recíproca com as minorias, com os não-humanos, com tudo o que pode potencializar o pensamento e a relação com a Terra. Nesse sentido os encontros foram pensados em blocos de devires e neste primeiro encontro teremos o “Devir-criança-animal-elemental-traidor”. Os encontros, e os exercícios de composição sensível entre heterogêneos que serão feitos depois, buscam dar vigor ao chamado de pensar a comunicação como um perceber-fazer-floresta. Uma fé na “instauração” (SOURIAU, 2017; LAPOUJADE, 2017) de toda uma sensibilidade de outra natureza, que permita criar um campo problemático potente para lidar com as dualidades sujeito-objeto, realidade-ficção, humanos-não-humano, matéria-espírito. Uma atenção ao gestos que mobilizam uma “lucidez alegre” (STENGERS, 2017) e que não nos relegam à impotência, afirmando uma vitalidade e confiança no presente e futuro diante destes tempos desafiadores (DANOWSKI & VIVEIROS DE CASTRO, 2014; STENGERS, 2015; LATOUR, 2019).
Bibliografia
DADA, Faseyi Awogbemi; FREITAS, Glória. Dialogando com a semente de obi ou a floresta: um convite para conhecer um pouco da nossa tradição religiosa e cultura Yoruba. ClimaCom – Diálogos do Antropoceno [online], Campinas, ano. 5, n. 12. Ago. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=9478
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 4. Trad. de Suely Rolnik. São Paulo: Ed. 34, 1997, pp. 11-113. (Coleção TRANS).
EZCURDIA, José. Cuerpo, intuición y diferencia em el pensamento de Gilles Deleuze. Ciudad de México: Editorial Ítaca, 2016.
DANOWSKI, Débora; CASTRO, Eduardo Viveiros de. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie: Instituto Socioambiental, 2014.
LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo: n-1, pp. 43-59, 2017.
LATOUR, Bruno. Bruno Latour: “O sentimento de perder o mundo, agora, é coletivo”. [Entrevista concedida a] Marcs Basset. El País, 31 de março de 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/…/internac…/1553888812_652680.html Acesso em: mar. 2019.
PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2a. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
SOURIAU, Étienne. Los diferentes modos de existencia/ Étienne Souriau: prefácio de Bruno Latour; Isabelle Stengers. Trad. Sebastian Puente. 1a. ed.. volumen combinado. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Cactus, 2017.
STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naif, 2015, pp. 91-99.
STENGERS, Isabelle. Reativar o animismo. Trad. Jamile Pinheiro Dias. Belo Horizonte: Chão de Feira. (Caderno de Leituras No. 62). 2017. Disponível em: https://chaodafeira.com/…/2017/05/caderno-62-reativar-ok.pdf Acesso em ago. de 2019.
Projetos:
– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)
– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).
– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/
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SEÇÃO ARTE | A LINGUAGEM DA CONTINGÊNCIA | Ano 6, n. 15, 2019
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