Ilona Katarzyna Adamczyk | Renascimento
TÍTULO: Renascimento
Sobre as experiências associadas às fotografias que integram “Renascimento”
O projeto surgiu num momento muito importante da minha vida. Desnudou-me de todas as crenças e ideias que formaram grande parte de minha vida. Foi um pretexto perfeito para fugir, onde esses critérios já não me pertenciam e onde poderia experimentar e analisar, como um elemento externo, o que implica ter uma identidade. Um lugar onde apesar da inevitável globalização ainda se cultivam as tradições e a cultura pre-hispánica. Os costumes da comunidade Tzotzil em México levaram-me a envolver-me mais do habitual; para poder desaparecer como fotografa participei em todas as atividades da comunidade. Desse modo, as fotos começaram a ser uma ponte entre a realidade e as minhas próprias emoções, os meus sentimentos encontrados nesse instante.
… e você pensa que a viagem será uma questão de distância, quilômetros em direção a um ponto do mapa, um horizonte, onde o maior peso será a mochila, a câmara e as lentes, que o único que deixará atrás serão os gatinhos, as plantas, e um que outro assunto pendente, e que custará a você parte da sua poupança. Então a viagem desvia, começa a percorrer veredas para o mais profundo de você mesma, onde o peso mais leve é a tua bagagem e o que realmente você deve levar nas coisas são medos, incertezas, tristezas e uma vacilante disposição. O que você deixa atrás? Certezas, identidades, conclusões e seguranças. Então é isso: o custo da viagem não é apenas a sua poupança, é também toda uma reconfiguração do seu olhar, você começa a calibrar uma lente de grande angular que está no seu coração, o único que lhe permite ver com profundidade as paisagens humanas que estão frente a você.
A profundidade da alma é como a profundidade do mar, eternamente desconhecida, cheia de habitantes surpreendentes, com luzes de cores que têm formas de sonhos. A cada passo que eu dava, com cada ônibus que pegava, ruas e pessoas que encontrava, tudo era um convite a me reconhecer. Então as viagens fazem isso, levam você longe, até profundas fronteiras, com outros, outros que aos quatro minutos de olhar você nos olhos você compreende que está neles como eles estão em você. A sua outredade.
As viagens nos livram não apenas de uma meia do par, não só do carregador do celular ou o livro de cabeceira que deixamos esquecidos, a viagem nos livra de mundos construídos e herdados, nos arrebata ancoradouros velhos, e nos oferece leveza.
Há uma lenda sobre tomar fotografias em comunidades originárias. Trata sobre o temor de que, com cada fotografia, você pegue parte da alma da pessoa. De regresso da viagem, abri minha mala e descobri o que para mim fora a viagem, dentro da minha mala, envolvera numa memória de câmara pequenas partes de alma, feitas sorriso, intimidade, paisagens e rituais. O entendi como uma troca, um intercâmbio. Eles tomaram os meus medos, incertezas e tristezas, e em troca deram-me uma parte deles, partes de outro eu.
FICHA TÉCNICA
Ilona Katarzyna Adamczyk
Renascimento
Fotografia digital
México, 2016/2017
Ilona Katarzyna Adamczyk é nascida em Polónia (Radom, 1980). Fotografa profissional, atualmente vive e produz a sua obra em Cuernavaca, México. O seu olhar está voltado para a condição humana, para as suas origens e complexos desenlaces; se encontra comprometida socialmente na busca de pontes de reconhecimento com o outro, mostrando a nossa fragilidade e profundidade como seres humanos.
ADAMCZYK, Ilona Katarzyna. RENASCIMENTO. ClimaCom – A Linguagem da Contingência [online], Campinas, ano. 6, n. 15. Ago. 2019 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ilona-katarzyn…k-renascimento/
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SEÇÃO ARTE | A LINGUAGEM DA CONTINGÊNCIA | Ano 6, n. 15, 2019
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