Artistas argentinos criam com o rio

No segundo dia do encontro-ação “(a)mares e ri(s)os infinitos”, integrantes da organização artístico-ambiental Ala Plastica compartilham suas experiências colaborativas, realizadas no rio de La Plata, durante a palestra intitulada “La vocación del lugar. Mirada y la prática biorregional”, que acontecerá em 2 de outubro, das 9h às 12h, no MIS de Campinas.

Revista ClimaCom: A Ala Plastica é uma organização não governamental que promove alternativas ambientais em zonas críticas desde 1991. Qual é o enfoque artístico da organização?

Alejandro Meitin: Temos desenvolvido uma ampla gama de obras artísticas não convencionais concentrando ações na comunicação e trocando experiências e conhecimentos com grupos locais para promover dinâmicas auto-organizativas. Podemos dizer que a Ala Plastica é uma visão compartilhada quanto ao assumir novas formas e estratégias de ação coletiva e criatividade para desenvolver outra objetividade diante do processo de fragmentação da vida, promovendo a revalorização do potencial específico da arte e o poder da imaginação na construção coletiva dos territórios. Para isso, conta com o surgimento de novos pontos de vista das comunidades, com a criação de redes de diálogo, de revalorização do conhecimento popular, além de produção de pesquisa e de relações estratégicas, a fim de catalisar o potencial de regeneração da comunidade para fortalecer o debate do ponto de vista sócio-ecológico em face de concepções políticas e tecnológicas unilaterais.

Projeto Ala Plastica

Projeto Ala Plastica

Revista ClimaCom: Que tipo de iniciativas a Ala Plastica vem experimentando?

Alejandro Meitin: Nas iniciativas, estão incluídas estratégias dialógicas ligadas a contextos sociais e antropológicos em contraste com a ideologia modernista da neutralidade da arte. Assim, a arte é parte de um trabalho compartilhado, produzido no todo ou em negociações com grupos, ativistas, associações etc., que constituem “comunidades experimentais” com o envolvimento dos participantes levando a uma imersão no processo de criação. Nessa imersão, o pensamento e a discussão pública tornam-se material do núcleo constitutivo, envolvendo um grupo social ou, por vezes, toda a população de uma região, na encenação de “microutopias” ou “microcomunidades” de interação humana. Trata-se de um movimento cultural focado na criatividade social, em vez de na autoexpressão. Por meio de conversas, narrativas fotográficas, mapas, imagens de satélite, desenhos, textos e mapeamentos que incluem os insights dos residentes em relação às ações que danificam o meio ambiente ou o tecido social, essa forma de trabalho altamente experimental mobiliza novos modos de ação coletiva e de criatividade. A obra, então, se constitui como um conjunto de forças e efeitos que operam em numerosos registros de significação e interação discursiva.

Revista ClimaCom: O enfoque é o rio?

Alejandro Meitin: Colaboramos em longo prazo com entidades regionais, nacionais e internacionais a partir de propostas biorregionais sobre rios, sistemas e recursos hídricos. Também participamos de investigações, elaborações e execuções de projetos de regeneração de zonas costeiras, urbanas e rurais, junto com artistas, paisagistas, artesãos, autoridades locais, especialistas em controle de contaminação e na restauração ecológica. Na arte, desenvolvemos metodologias para a recuperação dos sistemas naturais e sua compreensão.

Revista ClimaCom: Como a experiência da Ala Plastica poderia contribuir para a valorização dos rios no Brasil?

Alejandro Meitin: Os rios, as águas e seus ambientes jogam um papel importante na ecologia urbana. Atualmente, eles não apenas são concebidos como áreas de recreação para os cidadãos, mas também como corredores de biodiversidade para fauna e flora. Para que esses múltiplos propósitos possam dar lugar a melhorias, devem estar referenciados não apenas na qualidade dessas áreas como espaço público, como também ter em conta, fundamentalmente, a estrutura do ecossistema. No nosso entender, esses aspectos são temas interessantes para viabilizar a participação e a criatividade pública em atividades relacionadas aos problemas hídricos, além de uma participação ativa da comunidade fora do conceito de obra pública, o que poderia levar os cidadãos de diferentes idades a sentirem-se mais familiarizados com os cursos d’água e com os problemas que lhes afetam em seus locais de residência.

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