(a)mares e ri(s)os infinitos – evento

Título: (a)mares e ri(s)os infinitos: um encontro-ação: preparos e ensaios com a catástrofe – evento


Resumo: Como continuar diante da finitude? Como tornar potente nossa relação com as águas? Perguntas que, neste encontro-ação, convoca preparos e ensaios. Não há manuais, mas um dispor-se à beira d´água para convocar as potências de avaliação e confiança na vida. Abertura a um movimento fractal e infinito da vida, onde deixá-la passar é abrir-se a um logo preparo de quem na secura extrema, na casa arruinada e inundada, sente o maior fôlego para continuar. Um pensar e criar capaz de acolher a catástrofe como força de fazer proliferar e variar os finitos, desorganizar os conjuntos, formas e problemas já dados. Pensar a catástrofe do lado da vida como quem compõe com o rio e se joga ao mar. Corpos e relações em estado de catástrofe que, na maior das prudências, isto é, perguntando-se pela vida na maior proximidade com ela, afirmam a possibilidade de trazer o infinito ao finito. O “como continuar” pede uma dignidade que se afirma na descontinuidade de mares e rios, para abrir continuas variabilidades de amares e risos pela vida.


Curadoria: Susana Oliveira Dias (grupo multiTÃO, Labjor – Unicamp) + Sebastian Wiedemann (cineasta e pesquisador)


PROGRAMAÇÃO:

01/10 (9h às 12h) (Labjor-Unicamp)

Exibição do filme “Ouvir o rio: uma escultura sonora de Cildo Meireles” de Marcela Lordy e oficina de fotografia-pintura “(a)mares e ri(s)os infinitos”

Responsáveis – Sebastian Wiedemann (cineasta-pesquisador), Susana Oliveira Dias (grupo multiTÃO) e Fernanda Pestana (grupo multiTÃO)

Proposta – Rir o rio. O rio rir. Fazer dos avessos uma possibilidade de invenção. Um gargalhar pela vida que se espalha correntezas. Nos risos os corpos ganham sinuosidades, balançares de quem perde o controle, de quem de seu contorno faz uma mobilidade. Nessa disposição alegre, perguntar-se por como devolver ao rio a liberdade do rir, o improviso que desloca os movimentos dados. Risos que devoram o rio, que acolhem e transmutam sua sonoridade. Ora escutamos o que farfalha entre bocas e rios. Ora escutamos como o rio aprende a desembocar, jorrar buracos de risos. Vaivém de e em infinitas direções, onde o homem não é mais um animal que ri, mas que faz rir o mundo.

Compor páginas para a criação coletiva de um livro-ri(s)o que gargalha, estremece o leito, umedece as margens das fotografias. Improvisações de água, tinta e cor por um curso que se desdobra por páginas afluentes. Pintar o som do rio para compor um livro-ouvinte que desemboca pelas mãos e olhares a fim de multiplicar o sentido das águas. Livro-corrente abarcado por fluxos sonoros e visuais, balsa para travessia dos afetos, risos e cores. Tinta que encontra a correnteza, tinge o som do rio, remonta a hidrografia dos mapas. Páginas de um livro-raso de terreno seco; de um livro-risco que desafia a criação de um futuro; de um livro-rasgo que explode na superfície fotográfica – tromba d’água  para devolver ao rio o riso. Livro-ri(s)o como possibilidade de movimento, águas nômades, correntezas migratórias abrindo risos. Um rio portátil, um rio desdobrável, rio que abraça a terra, fazendo de qualquer lugar seu território, fazendo de qualquer canto onde seja desdobrado um nascimento. Livro-nascente de rios futuros.

 

Visita Guiada – (saída do Labjor-Unicamp às 14h)

Local – Margens do Ribeirão Anhumas – Barão Geraldo

Responsável – Salvador Carpi Junior, geógrafo-pesquisador do Laboratório de Geomorfologia e Análise Ambiental, Depto. de Geografia-Unicamp, participou do projeto Anhumas.

Proposta – Um dispor-se nas bordas do Ribeirão Anhumas para conhecer os diagnósticos já feitos dos problemas existentes na região (poluição, erosão…), bem como as histórias de quem mora na beira do rio.

 

 

02/10 – MIS-Campinas

(9h às 12h)

Palestra Ala Plastica: “La Vocación del lugar. Mirada y la Práctica Biorregional”

Responsáveis – Alejandro Meitin e Silvina Babich, da organização artística-ambiental de La Plata, Argentina

Proposta – Palestra sobre os trabalhos desenvolvidos pela Ala Plastica. A política colaborativa de organização, suas ferramentas, perspectivas de trabalho e iniciativas em desenvolvimento.

 

(14h às 15h30)

Exibição de filmes e conversa “Vida, afeto e política”

Responsável – Armando Queiroz, artista visual de Belém do Pará

Proposta – O artista apresentará suas obras convocando uma conversa sobre os modos de ensaiar relações poéticas com a água que resistam à morte e propondo um intenso encontro com a questão: como, desde dentro dos fluxos audiovisuais dominantes, inventar outros espaços possíveis entre arte, vida e afeto?

 

(16h às 19h)

Oficina-Cortejo: “Rios de luz”

Responsáveis – Produção de lanternas com Armando Queiroz e preparo do corpo com a dançarina Hellen Audrey – Cortejo a ser feito no Largo do Pará em direção à Avenida Anchieta, por onde passava o Córrego Tanquinho, hoje embaixo das grandes avenidas de Campinas

Proposta – Pode um rio se afogar? Afogar-se é deixar de respirar, finar-se. Um rio concretado, morre. Mesmo que seu fluxo continue subterrâneo, deixa de respirar para fora, afoga-se. A negação de um rio é morte. Iminência de ensaiar relações poéticas com a água que resistam à morte. Fazer com que os corpos d’água afogados – rios soterrados, poluídos, escondidos por estruturas de cimento… – apareçam na superfície da cidade em rios de corpos luminosos. Desejos de afirmar que os rios somos nós, as relações que inventamos e nossa capacidade de cuidar e manter acesas as pequenas centelhas de vida. Armando Queiroz oferece uma oficina em que apresentará seus filmes e proporá a intervenção “lanterna dos afogados”. A intervenção é uma recriação de um ritual comum em Belém do Pará quando alguém se afoga. As pessoas vão aos rios, com pequenas cabaças e velas acesas e as lançam ao rio. Diz-se que onde as cabaças param estão as pessoas afogadas. Uma aparição que cria uma espécie de território frágil, de existência poética dos corpos desaparecidos. A dançarina Hellen Audrey colaborará com a proposta do artista oferecendo uma oficina de preparo do corpo por meio de exercícios e técnicas corporais de dança que despertam o corpo para a presença cênica, para que os participantes experimentem um estado corporal alterado. O “corpo dilatado” ou “denso” se move não no tempo real, mas no tempo sensorial, valorizando a observação do momento presente e das sensações corporais. Convocando a lentidão, a suspensão e o esvaziamento para promover um transe distinto daquele mobilizado pelos centros urbanos. Um transe de um corpo que corteja-caminha-mundos, um retardo que afirma a criação de corpos-ruas-rios em cada gesto, que se deixa afetar pelos mínimos movimentos. Um inventar velocidades outras que inundam os corpos, corpos-correnteza, corpos-risos-dos-gestos. Dispor de emergências onde se aprende, entre a litania do gesto e a velocidade luminosa que se carrega, dar força a um rio que para além de sua aquosidade propaga, caminha, andarilha vidas…


Ensaio-(a)mares e ri(s)os infinitos, uma variação audiovisual

Responsáveis – Sebastian Wiedemann e Susana Oliveira Dias

Proposta – Produção audiovisual com o encontro-ação proposto para a revista ClimaCom. Como estar o mais próximo possível da água e dos problemas de sua in-finitude? Propomos explorar o rio não como o que encontramos nos mapas e dicionários, mas como redes de relações sensíveis que podem ser experimentadas com imagens, palavras e sons. Diante de um rio extremamente humanizado, e de humanos pouco tocados pelos rios, perguntarmo-nos sobre como ensaiar outros movimentos e afetos. Investir em variações audiovisuais que abram novos campos de possíveis ao apostarmos na abundância de forças secas ou aquosas, nas potências de ressecar-inundar as lógicas perceptivas dominantes arrastando-as para além do já dado e convocando forças de futuro, inesgotáveis. A produção audiovisual pensada como um ensaiar infindável para um combate afirmativo, sem início, nem fim, sem direita, nem esquerda… Variações, onde entendemos a imagem como processo, registros em arrebentações criadoras, imagem que não pode conter o rio nos seus contornos, rio seco ou desbordado tem que passar… ensaiar audiovisual como desembocadura do mar no rio, do rio no mar, ensaiar que experimenta o impossível, não se detém em estados de coisas, em propriedades dos corpos, mas inventa um corpo-rio-mar para enfrentar o problema.


(a)mares e ri(s)os infinitos é uma proposta desdobrada pelo grupo de pesquisa multiTÃO: prolifer-artes subvertendo ciências, educações e comunicações (CNPq) e da Sub-rede Divulgação Científica e Mudanças Climáticas, da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA), vinculados ao Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo (Labjor) e à Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Um grupo que propõe reunir pessoas para pensar e criar, coletivamente, o que podem as imagens, palavras e sons com as mudanças climáticas diante da urgência de politização que o tema reivindica. Urgência de repensar, portanto, a própria comunicação e divulgação científica. Tarefa que o multiTÃO tem enfrentado na revista ClimaCom, espaço de proliferação das produções realizadas com convidados em eventos dessa natureza. 

 

Projetos: Mudanças climáticas em experimentos interativos: comunicação e cultura científica (CNPq No. 458257/2013-3); Sub-projeto “Sub-rede Divulgação científica” da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (convênio FINEP/ Rede CLIMA 01.13.0353-00).