Urucum fruto útero | Andrea Desiderio da Silva e Rafael Caetano do Nascimento
Título | Urucum fruto útero
Para ler essas imagens e encontrar nelas um sopro de vó, te convidamos a fechar os olhos, a trazer-se corpo nesse encontro, entregar-se, sem esquecer-se, na presença. “Imagens que germinam vida entre os corpos e abrem para outras conversas e composições” a re-ver-se ser não humano que versa com vida semente. Um corpo-terra que acolhe, recebe e mistura. Abrir os caminhos do olhar virado de urucum. Urucum fruto útero. Quando uma avó morre, ela deixa seus frutos. Vó urucum, te chamo. Avó transmutada em fruto olho vermelho vibrante. Tem gente que mora no urucum, morada de vó e tantas outras, gente que faz a passagem e vai morar na beira de uma folha, na beira de uma árvore, de um rio. Seres que habitam as beiras e reflorestam as margens como política de vida frente ao sistema colonial capitalista, que voltam ao começo, pois tudo já estava aqui antes. Todo tempo é tempo de plantar. Tinta fresca, pele aberta, terra porosa. Imagear encontros que reflorestam beiras a partir de corpos, palavras e partilhas de quem se dispõem a ser com o outro. Recebemos e acolhemos abraços verdes, troncos diversos, passo a passo e na encruzilhada seguimos o chamado reconhecido do antes vivido. Terra retomada, toré, presença Kariri Xocó, Kiriri, Apinajé. Em oferenda e reverência entregamos a pele a ser habitada por esse ser escarlate, uma ponte entre águas, terras, tempos e corpos. Corpo gente, corpo djembê, corpo água, corpo sopro-fumaça, corpo urucum, corpo som. Na mistura dos corpos, corpo terra em experimentação. Observar-se corpo chão em (de)composição. Se pintar de urucum, é lembrar de uma voz que corre o corpo, de uma risada que acaricia a pele. Presença que vibra no tempo. Começamos com cada coisa em seu lugar. Mas o urucum tinge a tudo que encontra. Ultrapassa as margens e atinge as dobras. É na dobra do tempo que essa planta-avó se encanta e canta, manifestando-se presente. Som não reconhecido, entendimento faltante. Um hiato de séculos de colonização nos separaram. O esquema cartesiano, do repouso e linearidade, começou a ganhar curvas e voltas em meio a revoltas (in)ternas. “O encanto é natureza em nascença, seu germinar mais potente”. Nosso ponto de gira é perguntas que mais ensinam quando menos respondem. Convites lá dos começos, uma experimentação avó Yebá Buró.
Amor, ela disse. Segue, ela pediu.
| FICHA TÉCNICA |
Fotografias, colagens e composições | Andrea Desiderio e Rafael Caetano do Nascimento
Concepção | Andrea Desiderio e Rafael Caetano do Nascimento
Inspiração | a morte de uma avó e encontros com os povos indígenas Apinajé e Kiriri do Acré e o grupo Sabuká do povo Kariri-Xocó.
Lugares| Centro Cultural Casarão (Barão Geraldo/Campinas – SP); quintais e varandas de nossas casas.
SILVA, Andrea Desiderio; NASCIMENTO, Rafael Caetano do. Urucum fruto útero. ClimaCom – Territórios e povos indígenas. [online], Campinas, ano 11, n. 26. jun. 2024. Available from:https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/urucum-fruto-utero/
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