Tia Lúcia uma encruzilhada para o MAR | Janaina Melo e Bruno Brulon


 

Janaina Melo[1]
Bruno Brulon[2]

1 – A chegada:

A criação do Museu de Arte do Rio (MAR), inaugurado em 2013, foi um processo atravessado por conflitos diversos – sociais, políticos, econômicos, urbanísticos – em uma área historicamente emblemática da cidade, que se via inserida em uma proposta que de “resgate” de sua suposta degradação. No documento de referência conceitual para a criação do museu, consolidado em 2012 pelo então diretor Paulo Herkenhoff, havia um trecho dedicado à relação com a região portuária do Rio de Janeiro. Nele, Herkenhoff expressava sua preocupação em implicar o museu com o território, adotando uma perspectiva crítica em relação ao projeto de transformações ali engendradas.

Localizado na Região Portuária do Rio de Janeiro, o MAR tem, como um de seus princípios, o estabelecimento de relações estreitas com o contexto social, cultural e ambiental que o cerca. Vizinho do Morro da Conceição – uma das áreas mais antigas da cidade, onde reside uma comunidade centenária espalhada por aproximadamente 900 casas – e atento ao significado histórico da região (intensamente ocupada sobretudo desde o século XIX, com o Largo da Prainha), o MAR anseia ter uma relação crítica com as atividades do projeto de revitalização da Zona Portuária. Assim, o Museu será um espaço para se pensar os desejos e estratégias simbólicas do Rio de Janeiro nesse momento de intensa transformação, sempre atento às questões e interesses dos moradores e trabalhadores daquela região (HERKENHOFF, 2012, s.p).

(Leia o artigo completo em PDF)

 

Recebido em: 15/09/2025

Aceito em: 15/11/2025

 

[1] Janaina Mércia Alves Melo é historiadora e museóloga, mestre e doutoranda em Museologia e Patrimônio pelo PPG-PMUS da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST).
[2] Bruno Brulon Soares é museólogo, professor na University of St Andrews, na Escócia e na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Tia Lúcia uma encruzilhada para o MAR

 

RESUMO: O artigo aborda as redes de trocas, os desvios de rota e as oportunidades de encontro entre indivíduos e coletivos no museu, tendo por estudo de caso as ações no Museu de Arte do Rio em seus anos inaugurais. Identifica-se nas interações com os trabalhadores do museu e os moradores da região portuária do Rio de Janeiro, o desenvolvimento de metodologias de diálogo e de relação com a comunidade e seu território. A partir do conceito de encruzilhada (dúvida) (MARTINS, 2021; FLUSSER, 2011), fundamental para a construção de ações transformadoras, oriundas do pensamento e ações conjuntas com os públicos, reconhece-se na intervenção da multiartista e moradora Lúcia Maria dos Santos (Tia Lúcia), uma performatividade que abre espaço para novos conteúdos e estratégias de ação que põem em jogo a produção de conhecimento com os públicos nos museus.

 

PALAVRAS-CHAVE: Museus experimentais. Encruzilhada como prática museológica. Relações com públicos. Museologia de fronteira.


 “Tia Lucia: the Museum of Art of Rio de Janeiro at the crossroads”

 

ABSTRACT: Focusing the possibility of encounters between collectives and people at the museum and consequently the network, exchanges and redefinition of routes implied in it, the paper presents the case study of Museu de Arte do Rio during its early years. The interaction between the museum’s staff and the community from the harbor neighborhood evolved towards the development of dialogical methodologies and a close relationship with the territory and its inhabitants. The concept of crossroad (question) (MARTINS, 2021; FLUSSER, 2011) – seminal for the understanding of a set of transforming propositions derived from actions collaboratively enacted with the publics – recognizes in the actions of Lúcia Maria dos Santos (Tia Lúcia), a multi-artist who lived there, a kind of performativity that created spaces for new themes and strategies of action that put on the spot the production of knowledge together with the museum’s public.

KEYWORDS: Experimental museums; Crossroad as a museological practice; Relationship with the publics; Borderline museology


MELO, Janaina; BRULON, Bruno. Tia Lúcia uma encruzilhada para o MAR. ClimaCom – Exu: arte, epistemologia e método [online], Campinas, ano 12, n. 29., dez. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/tia-lucia/