A modelagem climática é atualmente uma potente ferramenta da climatologia na composição de modelos para o clima global. Ela indica, com mais ou menos confiança, futuros possíveis: os mais recentes cenários propostos, conforme o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontaram, com alto nível de confiabilidade segundo os cientistas, que a acidificação dos oceanos irá aumentar e que, na hipótese mais alarmante levantada, a temperatura da superfície da Terra poderá aquecer de 2,6 a 4,8 °C ainda neste século. Na hipótese menos alarmante, o aumento ficaria entre 0,3 e 1,7°C.
A modelagem tece, assim, em meio a dados e lacunas, estimativas. Ao lidar com a complexidade e o caos da natureza, os modelos sempre carregam consigo a incerteza, principalmente por se tratar de projeções futuras, que não permitem verificação. Os detalhes e as particularidades, em escalas locais, dos ecossistemas – que, entretanto, influenciam diretamente na dinâmica global do clima – acabam não entrando nos modelos desenvolvidos para grandes escalas, impactando a precisão das previsões.
É esta deficiência que a sub-rede Modelagem Climática intenta suprir. O foco dos pesquisadores está justamente na criação e no desenvolvimento de possíveis modelos que integrem as variáveis climáticas locais – brasileiras – às ferramentas globais de modelagem. O foco, por hora, é no sistema terrestre. E o desafio, conta Paulo Nobre, atual coordenador geral da Rede Clima – é entender como os biomas tropicais (principalmente a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica) contribuem para o clima mundial.
Para a ciência dos modelos, tal entendimento dá-se através do desenvolvimento de fórmulas matemáticas capazes de incorporar a eles, a partir de dados de referência, a física dos processos naturais e os impactos das atividades antrópicas. “Queremos desenvolver equações que representem matematicamente esses processos para que possamos prever estados futuros da atmosfera, dos oceanos e da biosfera”, explica o pesquisador.
No caso dos modelos brasileiros que estão sendo desenvolvidos, os dados inseridos nas fórmulas – obtidos em cooperação com as demais sub-redes que, por sua vez, usufruem dos modelos gerados em suas pesquisas – representarão as variações locais dos ecossistemas, no intuito de tornar os cenários climáticos gerados cada vez mais realistas. Assim, através de equações, a modelagem compõe futuros possíveis e/ou prováveis a partir de observações, medições, interpolações, interpretações, aproximações. E incertezas.
A representação dos intrincados processos da natureza em modelos matemáticos é complexa, trabalhosa e, possivelmente, inexata. “Inserir, por exemplo, as mudanças de fase da água na formação das nuvens e suas interações com a radiação solar e terrestre numa equação é talvez, hoje, a maior complicação palpável”, diz Nobre.
Há, no caminho de modelar futuros, enormes desafios. A modelagem traça linhas de tendências em meio à instabilidade e ao caos dos sistemas, ajustando cuidadosamente as probabilidades a partir de ferramentas, em constante busca por precisão. Entretanto, um grande desafio, talvez aquele que aponte o limite ainda vivenciado pelas ciências em suas definições, permanece inequívoco: incluir os processos de “vida”, conforme a concebe a biologia, por exemplo, nos modelos. “Sem isso, dificilmente poderemos, verdadeiramente, representar a evolução do sistema terrestre, este no qual habitamos, e que é habitável justamente por ser ‘vivo’, finaliza Nobre.
[Esta matéria integra a série dedicada às pesquisas desenvolvidas pelas sub-redes da Rede Clima]