SPIN #2 | Daniel Chaves de Carvalho
Título | SPIN #2
“SPIN” é uma obra aberta. O movimento espiralado é a matriz–resultante da ideia de integração da pesquisa, onde a complexidade das relações estabelece uma dança. O sujeito-indivíduo constitui a obra: traz, constroi e transforma sua própria identidade em movimento. As questões trazidas provocam alteração da velocidade no trânsito das dimensões entre o fenômeno observado e o observador. As imagens se modificam no tempo espaço com simultaneidade e a multiplicidade. A continuidade e a transformação das ações são irreversíveis e geram instabilidade, coexistindo dentro do próprio sistema inserido.
| FICHA TÉCNICA |
Concepção e direção | Rosemeri Rocha
Cenário sonoro | Mario Carta e Angelo Esmanhotto
Cenário imagético | Daniel Chaves de Carvalho
Iluminação | Erica Mithiko
Figurino | Salete Santos e equipe
Insigthts coreográficos | Marila Velloso, Ana Anes, Juliana Alves e Mariana Batista
Intérpretes-criadores | Ana Luíza Freire, Cibele Nolé, Fernanda Dantas, Fernanda Viganó, Isabela Schwab, Loa Campos, Mábile Borsatto, Mariana Batista, Naiara Araújo e Renata Roel
Produção | Ana Cavalli, Juliana Lorenzi e Sílvia Nogueira
Fotógrafo | Caio Vieira
Design Gráfico | Daniel Chaves de Carvalho
“O livro sagrado dos Maias, o Popol Vuh, diz que Deus criou o homem
de barro e depois de madeira […], porém eles esqueceram-se dos seus
‘Pais e Mães’, esqueceram-se do ‘Coração do Céu’, logo veio um
grande dilúvio e todos pereceram, meteram-se em cavernas para
abrigar-se e estas derrubaram-se […]. Assim pois, cada um tem o seu
Pai e sua Mãe Divina que são muito sagrados. […]” AUN WEOR (1978,
p.6, tradução nossa)
E, deste modo, tradições que se perdem na noite dos séculos, nos contam que a Luz seria filha da matéria. Esta, ao ser fecundada pelo Fogo, assumiria formas etéricas, moldadas pelo Som, distante das nossas familiares dimensões do tempo e do espaço. Aportados aqui tais princípios, que nos foram concedidos para que fossemos os seus mais fieis guardiões, tornamo-nos partes deles próprios, das mesmas partes que estão em tudo e em todos, mas que por infortúnio do destino, nos tocou contaminar a Mãe com os nossos resíduos tóxicos. Profanar o Pai, mentindo, caluniando, difamando, murmurando, injuriando. De modo que vosso Filho apresenta-se, de tão turvo, ao inverso, que já não podemos mais enxergar o visível. Tampouco conseguimos ouvir o audível, pois as perturbadoras ‘vozes’ em nossas mentes, de tão fragmentadas, já não nos permitem concentrar no cerne mais essencial de nossas existências, que somos nós mesmos. Pois os ruídos internos nos conduzem a divagar por lamaçais pegajosos e malcheirosos, formados pelo passo de entidades putrefatas, que transitam por ali livremente e sem nenhum tipo de escrúpulo ou ordenamento, incitando-nos a vivenciar, em nosso dia-a-dia, dramas tenebrosos, patéticas comédias e homéricas tragédias. Assim que, ao fechar os olhos, não mais nos vemos, nem sequer reconhecemos uma réstia luminosa, que pudesse nos apontar a direção para a Real Senda, da qual nos perdemos em seu rastro. Enquanto a ciência de gabinete não aponta saídas para a iminente catástrofe, que não sejam justificativas da imoralidade. Ainda quando as artes circenses apenas distraiam os tolos com escarnecedores entretenimentos involutivos, faz-se mister buscar com inquebrantáveis anelos, a rota para o ponto de origem, aquela, que talvez pudesse nos levar daqui, para o retorno à nossa Terra Filosofal, entranhada em nossos ossos e musculatura; ao Fogo, que ferve processos metabolizantes em nossas veias; às Águas Seminais, que irrigam vitalidade pelos leitos dos organismos e ao Ar, com seu movimento capaz de purificar os mais obscuros pensamentos, retirando para fora todas as impurezas egoicas, tal como nossos ancestrais procediam habitualmente, na prática disciplinada de uma antropologia meditativa, pondo o intelecto em suspensão, como suave brisa a perfumar os campos da lógica e da sensatez, previamente fertilizados pela Ciência Oculta e pelas Artes Herméticas. Eis uma ínfima particularidade do mistério da dualidade, cujas polaridades se debatem em uma luta entre opostos, enquanto estes não se percebem complementares e, portanto, que mui marotamente nos manejam, da tese à antítese, como títeres, por não mais conseguirmos transcender a bendita dialética, por pura e simples falta de interesse. Afinal, como foi que nos desviamos do ambiental, animal?
CARVALHO, Daniel Chaves de. SPIN #2. ClimaCom – Desvios do “ambiental” [online], Campinas, ano 11, n. 27. dez. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/spin-2-carvalho/
SEÇÃO ARTE | DESVIOS DO “AMBIENTAL” | Ano 11, n. 27, 2024
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