Por Maria da Glória Feitosa Freitas ou Yeye Oribato Obàtálá Ilé Ifè [1]
Algumas vezes, nas ocasiões em que falava da chegada do Ano Novo Yoruba para o público brasileiro, eu ouvi: “Ano Novo? Em plena época de Festas juninas no Brasil?”. O Ano Novo Yoruba e a chegada do ano 10.065 coincide com a passagem do solstício de verão lá na Nigéria, com a chegada do mês de junho. “Entre junho e agosto o Hemisfério Sul recebe menos radiação solar comparado ao Hemisfério Norte. Este último, por sua vez, fica voltado para o Sol. Portanto, é nesta época do ano que ocorre o verão boreal (verão do Hemisfério Norte) e o inverno austral (inverno do Hemisfério Sul)” [2]. (Ambrizzi, 2021, p. 10)
O foco atual da fala de uma ativista indígena brasileira, chamada Karibuxi, é esclarecer que no Solstício de Inverno brasileiro, tradicionalmente, era comemorada a chegada do Ano Novo. Veja a publicação desta jovem jornalista indígena no twitter: “Meu povo (e vários outros) já faziam festas pela colheita do milho e chegada do ano novo há milhares de anos pro povo achar que festa foi algo criado pelos invasores[…]Até bolinho caipira, que é super tradicional nas festas juninas no Vale do Paraíba (SP), tem origem indígena.[..]Meu Deus, gente nos comentários falando que festa junina tem origens pagãs suecas”.[3]
Karibuxi, em um discurso relevante, decolonial e antirracista explica sobre a presença antiga de Ano Novo aqui neste Hemisfério Sul, entre alguns Povos Indígenas no Continente Americano e ancestrais de boa parte de nós, os brasileiros, relatando até a origem das iguarias com milho nesse período do ano. Alguns povos indígenas do nordeste, como os Povos Tarairiú e Kariri, comemoravam o ano novo diante do chamado aparecimento do Setestrelo no céu, ou das plêiades, ficando atentos ao nascer helíaco (nascimento ou ocaso de um astro) e ao ocaso helíaco das plêiades, um acumulado de 7 estrelas, e que, quando eram visíveis, delimitavam o fim das chuvas (inverno) e o começo do tempo de renovação da fauna e da flora, servindo como elemento de organização de calendários.
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[1] Pesquisadora Colaboradora no Labjor-Unicamp, Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), membro da Casa dos Atoris de Obàtálá e Yemòó. Email: gloriafreitas@alumni.usp.br