As secas como modos de enredamento
Introdução
Como todo desastre, as secas não são “coisas”, mas sim processos. Diferentemente das demais categorias de desastre, por sua vez, as secas se caracterizam por ausências, e não pela presença inconveniente de algo fora do lugar (como são tornados, furacões e inundações, por exemplo). É essa dimensão de ausência que afeta todas as coisas e relações do contexto em que ocorre e que faz da seca, mais do que algo, um campo de possibilidades, e, portanto, um campo de embates matizado por distintos graus de incerteza, o que pretendo analisar neste texto. Ou seja, proponho-me, aqui, a pensar as dimensões ontológicas das secas – no seu viés mais específico das corporalidades e materialidades –, dentro de um panorama mais amplo do estudo das relações entre o meio ambiente, a cultura e a política no Brasil.
Venho trabalhando no sertão nordestino – mais especificamente no sertão central cearense e no Vale do rio Jaguaribe –-, como antropólogo que estuda as relações entre as sociedades e o meio ambiente, há mais de uma década. Minhas visões e pensamentos sobre a seca são, consequentemente, decorrências destas minhas experiências etnográfico-sertanejas.
Os tempos da seca
Uma marca distintiva muito característica de uma seca é sua temporalidade: ao mesmo tempo distendida, incerta e cíclica. Aqui se sobrepõem três escalas temporais: num plano mais estendido, as secas são parte da variabilidade natural, cíclica, dos ecossistemas. Ao mesmo tempo, na escala das estações, são fenômenos insuportavelmente lentos. E em escala temporal ainda mais reduzida, da vivência cotidiana do tempo (meteorológico), é marcada por um alto grau de incerteza – é praticamente impossível estabelecer quando se inicia ou quando se encerra uma seca.
Um ícone da dimensão de longo prazo, no contexto do sertão, é a vegetação xerófila da caatinga – aquela formada por espécies cujas folhas verdes desaparecem na estação seca e retornam, na forma de explosão, nos primeiros dias de chuva –, adaptada ao ciclo de variação dramática dos níveis de umidade. Pensando em termos de tempo de transformação biológica no processo de adaptação orgânica dos seres vivos às variações do ecossistema (ou seja, no tempo necessário para que os organismos se transformem e se adaptem ao ambiente), vemos que a ocorrência cíclica das estiagens não é novidade no sertão nordestino há pelo menos dezenas de milhares de anos. Como elemento típico do ciclo natural da região, coloca-se aqui um primeiro questionamento: se a seca, em sua dimensão biofísica, é um elemento ordinário do ecossistema, em que sentido ela se configura como desastre? Poderíamos dizer, sob a inspiração do conceito de acidentes normais, cunhado por Charles Perrow (1999), que as secas são desastres ordinários (TADDEI, 2014a). Esse termo é interessante porque, enquanto o termo normal evoca uma dimensão ao mesmo tempo estatística e psicológica (ligada às expectativas do senso comum), o conceito de ordinário, oriundo de ordem, ressalta a dimensão sociopolítica.
Não há nada de novo aqui: as secas são mais desastres políticos do que a “natureza que (supostamente) saiu do seu curso”. Há, nesse caso em particular, detalhes históricos relevantes que precisam ser mencionados para que se entenda como se constituem tais desastres. No caso do sertão, a dimensão política do desastre tem raízes na importação e imposição forçada de um regime de ocupação do território oriundo de terras com outros regimes de variabilidade ecossistêmica: o nomadismo, forma mais comum de adaptação da vida a ambientes áridos e semiáridos ao redor do mundo, e praticado por populações de animais e de indígenas da região, é desarticulado com a introdução, pelo invasor português, do regime de propriedade particular da terra, o que privatizou também as fontes de água. A história do embate entre os portugueses e as secas é a pedra fundamental da história política colonial da região Nordeste: Pero Coelho de Souza chegou à costa cearense em 1603, e foi obrigado a abandonar a região em 1607, por causa, principalmente, de uma seca (GIRÃO, 1947).
O(s) corpo(s) do desastre
As disputas simbólicas sobre como representar o ambiente devem ser tomadas em seu viés performático (TADDEI, 2013), ou seja, em sua dimensão mais propriamente constitutiva, em razão do fato de que, para poder manipular política e economicamente a seca, é preciso fazê-la existir como elemento político e/ou econômico. Ou seja, o que estou afirmando é que não há nada inerentemente biofísico, político ou econômico em uma estiagem; é o choque entre os fluxos variáveis de substância e energia do meio ambiente contra os sistemas humanos (e não humanos) de pensamento e organização do mundo que “precipitam” a seca enquanto coisa com a qual se pode relacionar – ou seja, a seca é “inventada” da mesma forma como a cultura o é, na concepção dada ao termo por Roy Wagner (2010). É nesse sentido que a seca se transforma em um modo de enredamento, ou em um emaranhado de linhas de devir (INGOLD, 2011), como descreverei a seguir.
No que tange tanto às corporalidades quanto às materialidades, é interessante ver como se dão os embates simbólicos sobre o espaço sertanejo, e de que forma a materialidade dos corpos se transforma nos símbolos que codificam redes e processos políticos mais amplos. Tomemos o caso de uma árvore e de uma ave: o Juazeiro e a Asa Branca.
A ave simboliza a migração em época de estiagem, como vemos no trecho da famosa canção de Luiz Gonzaga:
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
(Gonzaga; Teixeira, 1989).
O Juazeiro, por sua vez, simboliza a capacidade de resistência à variabilidade do clima. Por não ser parte da vegetação xerófila da caatinga, o juazeiro se mantém verde durante a estiagem. Não é de se estranhar, desta forma, que a árvore seja um símbolo mais conveniente à ordem instituída: duas das mais importantes cidades do interior do Nordeste, Juazeiro da Bahia e Juazeiro do Norte, no Ceará, levam seu nome (há ainda a cidade de Juazeiro do Piauí, de menor porte). Conforme afirmei em outro ocasião,
O juazeiro, então, é […] convenientemente capturado por lógicas e discursos exógenos à vida na caatinga: aves, insetos e animais migram; o juazeiro não migra, porque não pode. Quem migra, migra porque pode. No caso da história do Ceará, uma das manifestações desse fenômeno era a propriedade de terras no Maranhão por parte dos fazendeiros do estado, de modo que o gado fosse para lá transferido na ocorrência de secas. O gado era beneficiado com a possibilidade da mobilidade, enquanto grande parte da população sertaneja era abandonada à própria sorte. Salvava-se, assim, o que importava à elite cearense: as vacas e as formas de domínio da terra. Tais formas de uso da terra, introduzidas pelo colonizador português na forma de propriedade privada, e a decorrente privatização das fontes de água, são coisas que reduzem dramaticamente a mobilidade humana, para o desastre coletivo de todo o semiárido. O juazeiro se coloca como outro fluxo energético, de contracorrente, por assim dizer, e mais perigoso.
(Taddei, 2014b, p. 602).
No que diz respeito às dimensões temporais de mais curto prazo – tanto o desenrolar lento quanto a incerteza a respeito da sua efetiva ocorrência – tomemos o fato de que todas as secas nascem de fórceps: no sertão cearense, se as chuvas não se establizaram até o final de janeiro, começa-se a falar em secas nos meios rurais, como forma de preparação da organização política necessária para mover as engrenagens dos sistemas de ajuda governamental. As lideranças locais começam a pressionar vereadores e prefeitos, que começam a contatar políticos na Assembleia Legislativa, em Fortaleza, na tentativa de chegar ao governador e ao secretário de agricultura; ao mesmo tempo, começam a acionar a imprensa, elemento fundamental na articulação política para afetar as ações do governo. O governo estadual, no entanto, temendo uma avalanche de declarações de situação de emergência, que pode impactar as finanças estaduais, reage na direção contrária: evoca incertezas, questiona ansiedades injustificadamente adiantadas no tempo etc.
Se a barreira do governo estadual é quebrada, declarações de emergência são reconhecidas pelo Estado e enviadas à Coordenação Nacional de Defesa Civil, no Ministério da Integração Nacional (TADDEI; GAMBOGGI, 2010). As declarações chegam em fluxo caudaloso, e em Brasília são recebidas com frieza e resistência: secretários e ministros irão mencionar a “indústria das secas” e a exploração política do impacto emocional das imagens sensacionalistas veiculadas pela imprensa sobre a opinião pública do Sudeste e do Sul (estando esta, concomitantemente, segura de que o Bolsa Família é parte de cínicas manipulações eleitoreiras que têm nas secas seu principal combustível).
No entanto, nada disso é possível sem a interpelação de corpos e materiais: o agricultor leva o fotógrafo do jornal da capital até o pé de milho ressecado, ou ao cadáver ressecado do boi, na beira da estrada (que pode ter sido atropelado; a secura do cadáver, no entanto, cumpre a função de indexar e iconizar a secura da atmosfera). O governo evoca estatísticas, leis, relatórios técnicos, medições feitas com equipamentos sofisticados. Surgem coisas como seca verde, seca hidrológica, seca climatológica, categorias estatísticas de chuva (como “abaixo da media histórica”): tudo embasado por argumentação técnica impecável, e ainda assim entendida, por boa parte da população sertaneja, como malabarismos conceituais no intento, por parte do governo, de evadir-se da obrigação de mobilizar recursos e tomar decisões necessárias, mas custosas (TADDEI, 2006). Afinal, dinheiro gasto em mitigação de impactos não deixa marcas físicas (e, portanto, não gera os rituais políticos oficiais preferidos da elite política do sertão, as inaugurações, não trazendo, assim, dividendos políticos), e é menos dinheiro para a “modernização” do estado, tão necessária quanto incompleta (TADDEI; GAMBOGGI, 2011).
Ou, ao contrário, é o governo que mobiliza as fotos, e os agricultores (pelo menos os que não estão no governo) quem evocam medições e leis, isso pouco importa: no final do processo, a seca é plasmada enquanto sujeito político com o qual todos os demais sujeitos, a esta altura efetivamente enredados, tem que lidar.
Hemorragia
A relação entre temporalidade, materialidade e corporalidade está presente em outras estratégias performáticas de plasmar a seca enquanto coisa palpável. O tipo de solo dominante no sertão cearense, de natureza arenosa, faz com que a água da chuva se infiltre nele com muita rapidez, e igualmente escoe em direção ao mar, nos rios, em pouco tempo. Por essa razão, os rios cearenses só tem vazão natural na época das chuvas. Antes da construção de açudes, que hoje são mais de 3 mil no estado, o Ceará só possuía rios intermitentes. Demócrito Rocha, importante poeta, jornalista e político da primeira metade do século 20 no estado, comparou o rio Jaguaribe, maior rio do Norte do Nordeste, a uma veia aberta, em hemorragia, demandando uma pinça hemostática que a estanque. O poema onde isso se encontra descrito está reproduzido no mirante do açude de Orós, ao lado da estátua de tamanho natural de Juscelino Kubitschek, em cujo governo a açude foi construído.
Há dois detalhes interessantes na história do açude de Orós, ambos ligados à ideia de represamento como “pinça hemostática”, e seu fracasso como hemorragia: o primeiro é o fato de que, durante a sua construção, pouco após a meia noite do dia 26 de março de 1960, a parede do açude rompeu-se e inundou todo o baixo vale do rio Jaguaribe, afetando 170 mil pessoas. O segundo é que, uma vez efetivamente construído, o açude não possuiu válvula de liberação de água até 1980, quando então passou a perenizar o rio Jaguaribe. Ou seja, por duas décadas a água apenas entrava no açude, e da lá não saía (sendo usada pelos municípios localizados à sua margem, portanto).
A ideia de hemorragia que precisa ser contida se reproduz continuamente nos embates e conflitos ligados à água no estado. Nos anos de 2008 e 2009, um volume grande de chuvas encheu o açude do Castanhão, o maior do estado. No entanto, todo grande açude tem não apenas a função de acumular água, mas também de controlar cheias, ou seja, de conter a enchente que devastaria o vale a jusante da represa. Estando cheio, o Castanhão havia perdido, assim, a capacidade de controlar cheias. Em razão disso, a, Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH), agência estadual de gestão de águas, em cooperação com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), decidiu liberar água do açude. A população do vale, e os políticos locais, em particular, imediatamente se levantaram contra a ação da agência, atacando-a na imprensa local e estadual.
O fenômeno se repete em distintas escalas, como exemplifica o caso que me foi narrado por um engenheiro do município de Limoeiro do Norte. Em determinada época, ele fora contratado pelo governo do estado para a construção de poços artesianos movidos à base de rodas de vento (moinhos). Numa determinada região do município de Canindé, a construção do poço e da roda de vento foi comemorada pela comunidade. O engenheiro seguiu então para a próxima localidade; em alguns minutos, uma senhora da comunidade anterior chega correndo, tomada de ansiedade, dizendo que a roda de vento tinha problemas. O engenheiro volta à comunidade, e lá descobre que o problema é que, por ser simples e mecânica, a roda de vento não podia ser “desligada”, e em função disso a água era bombeada continuamente. Ao entender esse fato, a comunidade mostra-se horrorizada: a primeira pior coisa do mundo era não ter água; a segunda era desperdiçá-la. No final do relato, o engenheiro tinha os olhos mareados de lágrimas.
Conclusão: o uso emocional da água
Estou convencido de que não se usa a água racionalmente, como querem os técnicos; nem de forma consciente, como querem os jornalistas. Dada a sua condição de elemento visceral, a água se usa, e só pode ser usada, emocionalmente. O que ocorre é que há usos emocionais mais ou menos ambientalmente felizes. (“Dá no mesmo”, diria um hidrólogo. Talvez, mas ainda assim só se restringirmos nossa visão a um elemento apenas, dentro de um todo complexo: a quantidade de água acumulada nos reservatórios. Pensemos, ao invés disso, em como entender as formas como populações se relacionam com a água, e como atuar sobre isso de modo a lidar com problemas de abastecimento, e aqui há toda a diferença do mundo entre o uso racional e o uso emocional ambientalmente feliz.)
Uma forma de entender o(s) enredamento(s) que aproxima(m) e põe(m) em relação corpos de gentes, animais e plantas, previsões científicas, coberturas jornalísticas, ações oficiais de mitigação e os elementos, no processo que plasma a seca e ao mesmo tempo configura os mesmos corpos, previsões, coberturas e ações como marcados por ela, é ver isso tudo como uma grande ecologia emocional. Cada elemento do todo é indutor de certas configurações afetivas e certas gramáticas emocionais. O enredamento põe em contato gramáticas muitas vezes contraditórias, e, ao fazê-lo, reconfigura as redes envolvidas.
Tomemos a questão da resiliência, por exemplo. Nossas capacidades, estratégias e ferramentas ambientais, bem como nossas expectativas e medos, são profundamente marcadas pelas relações que temos com o Estado (TADDEI; GAMBOGGI, 2010). No momento em que este texto está sendo escrito, uma seca de grandes proporções castiga a maior região metropolitana do País, a cidade de São Paulo e seu entorno, desde a segunda metade do ano de 2013. A principal diferença entre a experiência sertaneja e a paulistana, no que diz respeito à forma como os habitantes destas regiões vivem a seca, é a quantidade e os tipos de intermediários técnicos, políticos e emocionais entre os sujeitos e o ambiente.
Tomando como referência a dimensão emocional da questão, o que se vive no Sudeste brasileiro no segundo semestre de 2014 é algo verdadeiramente excepcional: a seca parece ter cruzado fronteiras geográficas e, em decorrência disso, cruzou fronteiras igualmente imaginárias, sociais, culturais e políticas. No Brasil, por razões históricas e como fruto de complexas engenharias ideológicas e imaginárias (Albuquerque Junior, 1999; Neves, 1998, 2000; Taddei; Gamboggi, 2009; Villa, 2000), as secas são entendidas como ícones de pobreza e, ao mesmo tempo, da região Nordeste, onde está a maior concentração de pobreza no País. O fato de uma grande seca assolar a cidade mais rica do Brasil é sentida por muitos paulistanos como sendo quase uma “insolência climática”. Ao invés de apenas buscar as razões atmosféricas para o evento extraordinário, ao longo desse texto procurei demonstrar que é igualmente relevante perguntar: mas afinal, quem foi que colocou tais fronteiras onde elas se encontra(va)m? E que formas de enredamento tais fronteiras induziram ao longo da história? Parte importante da escalada de ansiedade quanto à possibilidade de não ter mais água, vivida pelos paulistanos desde pelo menos o final de 2013, deve-se ao fato de que o Estado e suas agências têm atuado como indutores de uma gramática emocional perversa, que não nos ajuda a viver o ambiente, e não nos ajuda a viver crises ambientais. No cenário dos impactos previstos das mudanças climáticas, São Paulo precisa de outras formas de enredamento.
Referências
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As secas como modos de enredamento
Renzo Taddei[1]
Resumo: Este texto busca analisar a dimensão constitutiva das representações sobre a seca, e os contextos sociopolíticos e ambientais em que ela se materializa. O argumento parte do fato de que, diferentemente de outras modalidades de desastre, a seca se caracteriza por uma ausência, o que exige dos agentes envolvidos o esforço de fazê-la existir como elemento político e econômico. Através da interpelação de corpos de humanos, animais, plantas, e também de objetos técnicos, processos político-administrativos e construções ideológicas, a seca se transforma em um modo de enredamento, ou em um emaranhado de linhas de devir, nas quais as relações podem se constituírem como mais ou menos felizes. O contexto vivido pela população paulistana, na seca que assola a região sudeste nos anos de 2013 e 2014, é apresentada como forma perversa de enredamento.
Palavras-chave: Redes. Seca. Sertão. Ceará. São Paulo.
Abstract: The goal of this article is to analyze the constitutive dimension of the representations of the drought, and the sociopolitical and environmental contexts in which it occurs. The argument is based on the fact that, in contrast to other modalities of disaster, droughts are characterized by an absence, what demands from the agents involved the effort in materializing it as a political and economic element. Through the interpellation of the bodies of humans, animals, plants, but also technical objects, managerial processes and ideological constructions, drought becomes a form of networking, or a meshwork of lines of becoming, in which the relations may get constituted in ways that are more or less felicitous. The drought of 2013 and 2014 in São Paulo is presented as a particularly perverse form of networking.
Keywords: Networks. Drought. Backlands. Ceará. São Paulo.