O primeiro “SIMBIOSES – Encontro de Artes, ciências, filosofias e mudanças climáticas” acontece na próxima sexta-feira, dia 25/10, das 14h às 17:30, sala ED06 da Faculdade de Educação da Unicamp. O tema proposto para o encontro é “Água matéria viva” e terá como convidados Ernesto Bonato (artista visual, mestre pela USP), E. Mário Mendiondo (engenheiro da USP São Carlos), Carolina Rodrigues (cientista social da FCA-Unicamp) e Susana Dias (bióloga sensorial do Labjor-Unicamp). Confira a programação:
1o. SIMBIOSES – Água, matéria viva
Ernesto Bonato | “Somos o rio”
O artista visual apresentará dois projetos com os quais vem trabalhando nos últimos 9 anos, que partem da água como elemento simbólico e metafórico para falar da nossa relação com o tempo e com o existir. O primeiro, o projeto “Maré”, teve início em uma residência artística realizada na Unicamp entre 2011 e 2012. O segundo, “O olho e o rio”, envolveu uma grande ação artística/educativa no MAC de Campinas em 2018.
Ernesto Bonato é natural de São Paulo. Trabalha com pintura, desenho, gravura, fotografia, instalação e intervenção urbana e teve trabalhos expostos em mais de 190 exposições individuais e coletivas no Brasil e em 28 países. Graduado e mestre pela ECA–USP. Participou da criação do serviço educativo do MASP, em 1997. Ensinou gravura em metal na FAAP e desenho e gravura no Centro Universitário SENAC. Membro fundador e coordenador do Atelier Piratininga, em São Paulo, de 1993 à 2013. Prêmio Unesco, no 14º Salão Nacional. Participou da criação de projetos coletivos como o “Projeto Lambe-Lambe”, “Trilingüe ABC: Gráfica atual”, “L´Art Roman vu du Brésil, entre outros. Organizou e participou de diversos intercâmbios, simpósios e palestras sobre arte. Curador de exposições no Brasil e exterior. Coordenou o livro “Lugar, Tempo, Olhar: arte brasileira na França Românica”. Convidado para o Programa de artista residente na Universidade Estadual de Campinas, muda-se para esta cidade em 2011.
E. Mário Mendiondo | “Rios em transe: eternos heróis de resiliência líquida”
Neste recente capítulo do Antropoceno, nossos rios são testemunhas e porta-vozes. Suas paisagens, rodeadas de serviços ecossistêmicos dentro da bacias hidrográficas, são como palcos cenográficos. Lá dentro, há experiências interpessoais, porém com comunicações incertas e adaptações forçadas. Puf! Com as mudanças em curso, já estão nossos rios em transe. Parecem sair de um filme, um déjà vu, onde eles se antecipam aos vilões de insegurança hídrica. Se o futuro é líquido, como re-aprender destes eternos heróis a nos adaptar? Deste imaginário universo dual “bacia-palco”, presente em todo município, estes sempre-heróis reemergem. E misturam-se à pálida realidade local e até à ficção coletiva de consumo. Mas para manter sua resiliência líquida, suas transformações são inúmeras. E suas atuações, memoráveis. Debruçam-se em padrões, retroalimentações, evoluções e até em novos paradoxos. Eles transcendem à nova comunicação sob incertezas e à adaptação mais natural. Esses heróis lidam com água virtual ou até digital. Daí os observatórios cidadãos que acometem plenos de sociohidrologia. Com enredos simulados no laboratório-atelier WADILab, do INCTMC2, refletimos sobre erros e acertos destes heróis de resiliência líquida, com visões das hidropólis do futuro, ainda prevendo uma iminente singularidade histórica. Enquanto isso, estes eternos heróis deleitam uma audiência respirando wifi e com poucas experiências de Primeiro Aprendiz.
Professor “Engenheiro Líquido e Escoteiro”. Doutor da USP na Escola de Engenharia de São Carlos. Entre 2014 e 2016 atuou como Coordenador Geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (Cemadem/MCTIC). Atualmente coordena a subcomponente de Hídrica do INCT Mudanças Climáticas Globais – 2a. fase (INCTMC2). Desde 2002 coordena o Núcleo Integrado/Interdisciplinar de Bacias Hidrográficas na USP-1 São Carlos. Em 2017, inaugura o primeiro laboratório-atelier interdisciplinar The WADI Lab (Water-Adaptive Design & Innovation), associado ao INCTMC2, trabalha com inovações de sistemas híbridos de água e sociedade em cidades resilientes, com soluções e adaptações no Antropoceno, visando o nexo água-energia-alimento-
Carolina Rodrigues | “Reimaginar a adaptação – explorando possibilidades de comunicação e mudança climática”
Nesta apresentação buscaremos reimaginar o futuro da comunicação quando o assunto é a adaptação e as mudanças climáticas. Ao mapear os enunciados que compõem a atual política da comunicação, observamos o funcionamento de uma lógica pedagógica e normativa que faz com que a adaptação e a divulgação científica se restrinjam a querer ensinar a vida que deve ser vivida. Buscamos, então, problematizar esse funcionamento durante a concepção e organização do evento Afetos Nascentes, como parte das ações da revista ClimaCom, quando propusemos transbordar os limites das ecologias já dadas que tendem a fixar as existências na cultura, na linguagem, nas artes, nas identidades e campos do conhecimento. Constantemente, fizemos ressoar uma pergunta: e se a divulgação científica, na relação com a adaptação e as mudanças climáticas, desafiasse as capacidades já definidas de antemão sobre o que pode a arte, o que pode a ciência, o que pode a divulgação, o que pode a escrita, o que pode a imagem, o que pode o público?
Carolina Rodrigues é professora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, coordena a linha de pesquisa Modos de Conhecimento e suas Expressões: Experiências e Trajetórias no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. É bacharel em Sociologia e Ciência Política, Mestre em Antropologia Social e Doutora em Ciências Sociais pelo IFCH-Unicamp. Especialista em Jornalismo Científico (2004), fez pós-doutorado no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), onde atuou em diversos projetos de pesquisa e extensão. É fundadora e coordenadora da rede interdisciplinar de pesquisa Divulgação Científica e Mudanças Climáticas, responsável atualmente pelas ações do tema transversal de Comunicação do INCT Mudanças Climáticas Globais – 2a. fase. É pesquisadora do “multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações”. Tem experiência em pesquisa na área de Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia Social (Antropologia da Política; Antropologia da Ciência e da Tecnologia), e na área de Comunicação (Jornalismo e Divulgação Científica e Cultural). Apresenta publicações sobre os seguintes temas: ações afirmativas e políticas públicas; políticas da identidade e da diferença; regimes de percepção do tempo e memória; ciências, tecnologias e artes; política, escrita e modos de expressão; biotecnologias e mudanças climáticas. Como jornalista, possui dezenas de publicações relacionadas a cultura, ciência e tecnologia. É fundadora e editora da Revista ClimaCom – pesquisa, jornalismo e arte.
Susana Dias | “Água, matéria viva: a potência elemental do clima na comunicação”
“Perdemos o cosmos” e “nenhum truque o trará de volta”. As palavras do poeta D. H. Lawrence nos afetam e convocam a pensar o Antropoceno e a tarefa que temos pela frente de instaurar uma reativação da potência elemental do clima na comunicação. Isto porque estamos diante de livros, imagens, palavras, sons que não nos afetam mais. Tal reativação envolve não tomar as águas pelas configurações tristes desenhadas nas dicotomias sujeito-objeto, teoria-prática e realidade-ficção, antes arriscar-se a tornar as águas efetivas parceiras de pensamento e criação. Pensamos que essas parcerias entre águas e humanos dizem respeito a uma eficácia vital de artes, ciências e filosofias implicadas em diferentes práticas. Por isso temos buscando aprender a ganhar intimidade com as águas com geógrafos, ribeirinhos, climatologistas, dançarinos, escritores, babalorixás, fotógrafos, pintores, filósofos, antropólogos, xamãs, cineastas… Interessam como essas práticas se tornam capazes de entrar em comunicação com as águas como matéria viva, ativa e criativa, ou seja, os materiais, ferramentas, procedimentos, gestos e processos que permitem que os humanos deixem de impor uma forma, uma verdade, uma ordem e aprendam a fazer escuta às águas. Quando os humanos deixam de ocupar o centro dos processos comunicantes e se tornam povoados por forças não humanas, por uma “vida-mais-que-pessoal” (Deleuze). Serão alguns processos coletivos de criação de composições sensíveis (fotografias, performances, livros-objetos, vídeos, instalações), ativados pelo grupo multiTÃO desde 2014 com o Laboratório-Ateliê da revista ClimaCom, que movimentarão estas ideias. Uma busca por combater uma espécie de xenofobia comunicante que opera intensamente a comunicação das mudanças climáticas, expulsando lógicas aberrantes e experimentais, impedindo que possam estar junto, coevoluindo, afetando e sendo afetadas, por outras lógicas.
Susana Dias é uma bióloga sensorial. É formada em biologia pela UFBA, mestre e doutora em educação pela Unicamp, nas áreas de formação de professores e conhecimento, linguagem e arte, e especialista em jornalismo científico. É pesquisadora, professora e orientadora de pós-graduação no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-Unicamp), investigando as potencialidades dos papéis-mídias (papel-jornal-revista-
Este evento faz parte do projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq projeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014 e é organizado pelo grupo multiTÃO, sob coordenação de Susana Oliveira Dias (Labjor-Nudecri-Cocen-Unicamp)