Por | Gláucia Pérez
No artigo “Uma árvore já é um rizoma: Antropoceno, clima e vida multiespécie”, publicado na revista Incomunidade de 1º de outubro de 2021. Susana Oliveira Dias, bióloga e artista visual, pesquisadora do Labjor-Unicamp e coordenadora do Tema Transversal de Comunicação do INCT mudanças climáticas fase 2, fala sobre a sua “busca por intensificar as existências das árvores e, também, a busca por instaurar outras existências para o pensamento apoiada por estes seres fabulosos”. A pesquisadora defende a necessidade urgente de se inventar outra relação entre as árvores e o pensamento. Trazendo o famoso capítulo dedicado à árvore e ao rizoma, da obra Mil Platôs dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, mostra como as árvores inspiraram até aqui imagens de pensamento fracas e débeis, marcadas pela filiação, homogeneidade, hierarquia, dicotomias e mimesis. Susana insiste nas árvores e busca dar consistência à ideia dos filósofos de que “toda botânica é rizomática”.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DSTosxWhv0k
O artigo busca revitalizar a potência das árvores para o pensamento e nos convida a reencontrarmos com as árvores afetados pelo entrelaçamento entre estudos da biologia, filosofia, climatologia, por obras literárias e do cinema experimental, bem como por conhecimentos de povos originários, particularmente Yoruba e Krenak. Articula, assim, artes, ciências e filosofias associadas a diferentes práticas.
Ao lermos o artigo “Uma árvore já é um rizoma” percebemos que há um convite para desenvolvermos um “pensamento vegetal e coletivo”, aprendermos a fazer, efetivamente, “árvore no pensamento e ação”, e assim de nos unirmos com a natureza, assim como fazem os povos originários há tempos. E esse convite é atual e imprescindível, pois já não há mais tempo a perder se quisermos enfrentar o problema das catástrofes climáticas atuais e porvir. Ao considerarmos as árvores, plantas e não humanos como parte de um coletivo que interage com sabedoria, há um chamado implícito para a “corresponsabilidade”. Para a pesquisadora Susana “fazer árvore é criar vida coletiva, é gerar uma imensa biomassa viva, ativa, criativa que é pura doação para que outros múltiplos possam existir e proliferar”.
Na disciplina “Arte, Ciência e Tecnologia”, que oferece no curso de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Susana tem proposto “pensar o que pode ser comunicar em parceria com a floresta, e que poderíamos aprender com diferentes práticaas a como ganhar intimidade com as florestas”. E foi com esse intuito que foram criados na disciplina livros-objeto, com os alunos, artistas e pesquisadores convidados e participantes da disciplina, em relação ao aprendizado “de fazer escuta às arvores”: Floresta de luz: laboratório de botânica especulativa, Floresta² e Árvores companheiras.
Fonte: Revista ClimaCom
Flip e virada vegetal
As plantas têm ativado muitas iniciativas importantes nos últimos tempos. Como a 19ª Festa Literária Internacional de Paraty 2021, 19ª Flip 2021, com o tema “Nhe’éry Jerá, plantas e literatura” que ocorreu entre os dias 27 de novembro a 05 de dezembro de 2021. Nhe’éry quer dizer “onde as almas se banham” e Jerá “desabrochar”, nhe’éry é como o povo guarani chama a Mata Atlântica. E foi com esse tema que a Flip teve como intenção a “reflexão sobre outras maneiras de estar no mundo”. A filósofa, educadora e artesã guarani Cristine Takuá, na abertura da Flip, disse que “todas as formas de vida valem ser respeitadas, não só as formas humanas, mas os seres vegetais, animais, minerais, os seres visíveis e invisíveis. O rezo que o povo guarani fez na Flip é para que toda a sociedade perceba a importância do respeito para com todas as formas de vida”.
Durante a 19ª Flip, na mesa “Cartografias para adiar o fim do mundo”, Ailton Krenak falou sobre a necessidade de “sermos capazes de criar mundos possíveis, não podemos nos render a essa narrativa de fim de mundo. Porque essa narrativa do fim do mundo é para fazermos desistirmos dos nossos sonhos. E dentro dos nossos sonhos estão as memórias da Terra, as memórias dos nossos ancestrais”. (Link com a notícia completa em pdf)
Outras bibliografias consultadas:
Filosofia das Plantas (ou Pensamento Vegetal). Caderno de Leituras, nº46. Edições Chão da Feira. Leitura e seleção de fragmentos de Júlia Larama. Ano 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NaAILmeLzR8&t=24s>
SANDER, Debora. Evando Nascimento: “Sem as plantas, a chance de sobrevivermos é muito pequena”. CNN Brasil. 03 de dezembro de 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/evando-nascimento-sem-as-plantas-a-chance-de-sobrevivermos-e-muito-pequenas/
NASCIMENTO, Evando. O não humanismo dos vegetais. Revista Pessoa. 10 de maio de 2021. Disponível em: < https://www.revistapessoa.com/artigo/3296/o-nao-humanismo-dos-vegetais>
Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq projeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Oliveira Dias.
Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)
Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.