Relações sociedade-natureza nas obras O som do rugido da onça e O abraço da serpente | Vinicius Augusto da Silva Vasconcelos Nunes, Vatsi Meneghel Danilevicz e Christiana Cabicieri Profice
Vinicus Augusto da Silva Vasconcelos Nunes[1]
Vatsi Meneghel Danilevicz[2]
Christiana Cabicieri Profice[3]
“Uma pessoa sabe que está morta quando não consegue mais escutar a voz
dos animais, dos espíritos, das árvores, dos rios”
(Verunschk, 2021, p. 29)
Esse ensaio visa abordar as relações sociedade-natureza a partir de análises de trechos do romance O Som do Rugido da Onça e do filme O Abraço da Serpente. Em vias de melhor contextualizar a abordagem utilizada no trabalho, é imprescindível que o leitor compreenda os impactos das mudanças climáticas sobre os povos indígenas que vivem na floresta como resultado de ações sistêmicas degradatórias que se prolongaram no tempo. Assim como faz-se necessária uma breve introdução sobre os personagens, iniciando pelo romance, O Som do Rugido da Onça, temos Iñe-e, adolescente indígena da tribo Miranha que foi doada para o cientista Martius, assim como o menino Juri, jovem indígena que fora escravizado após perder batalha contra a tribo Miranha, Martius, cientista alemão que junto com Spix, realizam pesquisas com povos amazônicos e decidiram mostrar à Europa dois “bons selvagens” (Verunschk, 2021, p. 74). Sobre essas obras, elas estarão presentes ao longo do ensaio em trechos e nos títulos das seções, ou mesmo do trabalho em si: “As ruas querendo voltar a ser rio” (Verunschk, 2021, p.14).
No filme, temos Karamakate, um indígena pajé, último sobrevivente de sua tribo após invasão na Amazônia colombiana, vivendo isolado e sem contato com demais indígenas, em momentos ele se autodenomina um “chullachaqui”, espécie de demônio/espírito ruim; o outro indígena apresentado é Manduca, que fora escravizado para extração de látex, porém teve a sua liberdade comprada por Martius, passando a trabalhar como seu assistente pela Amazônia; Martius, personagem inspirado nos diários do etnologista alemão Theodor Koch-Grunberg, que já é introduzido, como uma figura fraca, doente, precisando da ajuda do pajé para encontrar a planta yakruna, capaz de reabilitar sua saúde; o outro personagem é o cientista americano, Evans, também inspirado em um cientista real, Richard Evan Schultes, que busca auxílio de Karamakate para encontrar a mesma planta requisitada no passado, pois ela é a única que o poderá fazer sonhar. O objetivo do ensaio é tecer uma breve análise sobre a interação sociedade-natureza evidenciada em algumas passagens das obras, ressaltando a importância de perceber como tais conexões se estabelecem a partir do advento da colonização e como influenciaram os processos de construção de imaginários sobre o indígena.
(Leia o ensaio completo em PDF)
Recebido em: 01/03/2024
Aceito em: 01/06/2024
[1] Mestrando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz; Graduado em Direito pela Universidade Católica do Salvador; E-mail: viniciusanunesadv@gmail.com.
[2] Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Rede PRODEMA na Universidade Estadual de Santa Cruz; Mestra em Psicologia Social pela Universidade Federal do Sergipe; Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. E-mail: vdanilevicz@gmail.com.
[3] Professora titular do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Santa Cruz; Graduada em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula; Mestra em Psicologia Clínica e Patológica – Universite de Paris V (Rene Descartes); Mestra em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente/PRODEMA pela Universidade Estadual de Santa Cruz; Doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: ccprofice@uesc.br.
Relações sociedade-natureza nas obras o Som do Rugido da Onça e O Abraço da Serpente
RESUMO: O presente ensaio pretende analisar relação sociedade-natureza a partir das obras O Som do Rugido da Onça, romance de autoria de Micheliny Verunschk, e o filme O Abraço da Serpente, dirigido por Ciro Guerra, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte ao seu lançamento, em 2016. O processo genocida sofrido pelos povos indígenas foi condutor não apenas da perda de identidade étnica, mas também forçou a desconexão e o abandono da natureza. Os valores que hoje chamamos de preservacionistas, tão raros na lógica do antropoceno. De maneira muito sensível, as obras nos provocam a refletir sobre os problemas socioambientais enfrentados na contemporaneidade contextualizados às raízes do passado, ancorados nos signos de dominação e, concomitantemente, subversão que os povos e culturas originários se implicaram. A arte possibilita contar histórias com recursos polissêmicos que convocam o interlocutor a mergulhar na viagem. Dentro dessas histórias ficcionadas de Iñe-e, Juri e Martius, e de Karamakate, Manduca, Martius e Evans, sob o mesmo plano de fundo, percebemos a denúncia da exploração de povos indígenas da Amazônia pelo homem branco colonizador..
PALAVRAS-CHAVE: Povos indígenas; Mudanças climáticas; Relações sociedade-natureza.
Society-nature relations in the works Som do Rugido da Onça and O Abraço da Serpente
ABSTRACT: Felipe Ferreira, a 14-year-old, has already recorded 154 bird species from 48 different families, showcasing his passion for wildlife observation. His journey began at the age of 7, driven by his interest in animals and nature. More than just birdwatching, he appreciates the full experience that nature offers, including landscapes and adventures. He regularly observes birds in his backyard in Bertioga, a city rich in biodiversity. As a member of a local observers’ club, he is dedicated to learning more about this hobby. With plans to study veterinary science and biology, focusing on ornithology or zoology, Felipe is also excited to teach his younger sister about bird watching. His commitment underscores the importance of early contact with nature in shaping conscientious citizens dedicated to environmental conservation.
KEYWORDS: Indigenous peoples; Climate changes; Society-nature relations.
NUNES, Vinicus Augusto da Silva Vasconcelos; DANILEVICZ, Vatsi Meneghel e PROFICE, Christiana Cabicieri: As ruas querendo voltar a ser rio: relações sociedade-natureza nas obras o Som do Rugido da Onça e O Abraço da Serpente.. ClimaCom – Territórios e povos indígenas [online], Campinas, ano 11, nº. 26. jun. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ruas-querendo-voltar-a-ser-rio/