Rede CLIMA lança sub-rede de divulgação científica

Nova Sub-rede da Rede CLIMA surge com o desafio de promover a pesquisa e a comunicação.

Reprodução Revista ComCiência

Michele Gonçalves

 

A Rede CLIMA, Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, conta agora com sua primeira vertente especialmente focada em comunicação. Trata-se da sub-rede Divulgação Científica e Mudanças Climáticas, lançada no dia 26 de junho em São José dos Campos e coordenada pelo Laboratório de estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor-Unicamp) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O lançamento, segundo Carlos Nobre, atual Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (SEPED) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e fundador da Rede CLIMA, marca a função principal da Rede a partir de agora: geração, compartilhamento e propagação de conhecimentos que possibilitem o entendimento dos impactos das mudanças climáticas e que contribuam efetivamente para subsidiar políticas públicas para adaptação e mitigação nessa área. Problematizar esses conhecimentos para o grande público, segundo Nobre, será o maior desafio da nova sub-rede.

Para ele, a mídia tem papel fundamental na repercussão dos discursos, opiniões e propostas de ação referentes ao clima e, portanto, há urgência em uma comunicação efetiva e eficaz sobre a temática. Segundo Paulo Nobre, irmão de Carlos e atual coordenador da Rede CLIMA “é um grande ganho para a Rede inserir os estudos sobre a comunicação das mudanças climáticas, unindo à solidez dos estudos científicos a problematização sobre como trataremos isso”. A Rede, instituída pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em novembro de 2007, conta com 13 sub-redes de pesquisa, cada uma focada num área diferente do conhecimento científico sobre as causas e efeitos das mudanças climáticas globais.

A nova sub-rede é coordenada pelo professor e linguista Carlos Vogt, e pelas professoras Susana Dias e Carolina Rodrigues, todos do Labjor-Unicamp. A proposta terá como foco a divulgação e comunicação dentro da perspectiva de constituição de uma cultura científica, a qual, além do ato de comunicar, promova a possibilidade de organizar os fatos científicos em uma sociedade e atue de modo a propiciar condições de formação crítica do cidadão em relação à própria ciência. O desafio será falar do clima, e consequentemente de ciência, apostando em novas narrativas e munindo-se de ferramentas artísticas, filosóficas e literárias para tal.

Compor outras formas de narrar as ciências das mudanças climáticas, segundo Susana Dias e Carolina Cantarino, “é uma maneira de evidenciá-las como potências de transformação e não como aceitação de finais derradeiros”. A ciência como narrativa, dizem as pesquisadoras, “é que constrói as possibilidades de afeto do público para com as questões que levanta, e a capacidade de afetar-se deste depende em muito do modo pelo qual ela o faz. Nesse sentido, queremos problematizar a comunicação para conceber outras narrativas possíveis, pois são as possibilidades de vida, e a participação da ciência nestas, que estão em jogo no mundo a partir de agora”.

Dias e Rodrigues acreditam que o problema para com a comunicação das mudanças climáticas é menos o acesso à informação do que a qualidade desta, refletida na maneira como se constroem as narrativas dos fatos. “A questão que se colocará como cerne da nova sub-rede e suas produções, portanto, é a de como afetar o público”, esclarecem as professoras. “Nossa proposta é concentrarmo-nos no que está sendo produzido em termos de conhecimento científico das mudanças climáticas e em como podemos narrar os resultados de maneira a promover com eles potenciais de mudança e não de aceitação daquilo que parece não ter mais salvação” afirmam as pesquisadoras.

A ferramenta para tamanho desafio será basicamente o encontro com a arte. “Não para instrumentalizá-la para a ciência ou vice-versa”, diz Dias, “mas naquilo em que se possa produzir a diferença no modo de ler, dizer e entender as mudanças climáticas a partir dela. Naquele espaço em que se faça ver a realidade, as coisas, procedimentos e modos de estar ainda mais intensos e belos a partir de aspectos ainda não narrados”. A partir dessa concepção de comunicar, portanto, os coordenadores da nova sub-rede apostam num fortalecimento teórico sobre a temática e na produção de materiais de real qualidade na área.

O projeto da sub-rede propõe inicialmente duas vertentes: uma de investigação e problematização da comunicação atualmente existente em mudanças climáticas e outra de experimentação e produção de novos artefatos de divulgação destas. Como primeiras apostas, estão a criação de um Sistema de Investigação, Gestão e Experimentação da Informação em Mudanças Climáticas (SIGEI_MC), que terá como tripé a pesquisa, a comunicação e a arte; e a criação de uma revista eletrônica intitulada ClimaCom Cultura Científica – pesquisa, jornalismo e arte, que articulará pesquisas, pensamentos e abordagens conceituais e metodológicas distintas para falar sobre a temática do clima.