Por que não infanciar a educação ambiental? Por corpos que dancem, sintam, descubram, brinquem, imaginem com o mundo | Júlia Flecher de Andrade


 

Júlia Flecher de Andrade[1] 

 

Começo

O pensamento ocidental hegemônico foi constituído de forma dicotômica, de modo a separar em polos distintos o que foi chamado de “sociedade” e “natureza”, “razão” e “emoção”, “homem” e “mulher”, “adulto” e “criança”, dentre outras invenções ocidentais. Pensadores como Tim Ingold (1994), Bruno Latour (2004) e Phillipe Descola (2016) afirmam que a ideia ocidental de humano (especialmente a do homem colonizador), teria sido constituída justamente em contraposição ao conceito de “natureza”. Dessa forma, diversas das outras dicotomias do pensamento ocidental estariam subordinadas à esta contraposição.

Neste modelo de pensamento, estando a “natureza” separada do ser humano, ela poderia ser subjugada, assim como outros povos humanos, mulheres e crianças, que estariam (segundo esse pensamento) mais próximos da categoria de natureza do que de civilização. No caso dos povos indígenas ameríndios, por exemplo, sequer existe a concepção de natureza, como algo separado do humano (Viveiros de Castro, 2007) e as crianças também ocupam um lugar diferente entre os povos indígenas (Tassinari; 2009, 2011; Tiriba e Profice; 2019) e são seres que detêm saberes e autonomia. 

Tal modelo de pensamento ocidental se reflete em diversos âmbitos das sociedades ocidentais, como, por exemplo, no modelo de educação escolar hegemônico; os espaços educativos brasileiros são, majoritariamente, concretados e sem áreas verdes. Segundo dados do Censo Escolar de 2017, divulgados no Portal G1, somente 28% das Escolas Municipais brasileiras (de Educação Infantil) desfrutam de parquinho e apenas 25% de áreas verdes [2]. Em 40% delas há um pátio coberto e, normalmente, de concreto. Com espaços majoritariamente fechados, pouco ventilados, arborizados, esverdeados, estas nossas escolas, além de limitarem o contato das crianças com o que chamamos de natureza, limita onde vão, quando e como [3].

(Leia o ensaio completo em PDF)

Recebido em: 15/09/2024

Aceito em: 15/11/2024

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[1] Universidade Federal Fluminense. Email: juliaflecher@id.uff.br

[2] Disponível em: Maioria das pré-escolas públicas não tem parquinho, área verde e pátio coberto | Educação | G1 (globo.com). Acesso em: 25/09/2024.

[3] Ibidem.

Por que não infanciar a educação ambiental? Por corpos que dancem, sintam, descubram, brinquem, imaginem com o mundo

 

RESUMO: Este artigo tem a intenção de pensar possibilidades outras de educação ambiental, que fujam às lógicas ocidentais dicotômicas, produtivistas, coloniais. A partir de experiências vivenciadas entre crianças, educadora, outros seres e elementos no projeto Investigadores da natureza, na Escola Comunitária Amantikyra, em Visconde de Mauá (Rio de Janeiro), pretende-se destacar a educação como algo que se constrói com o corpo inteiro, com os sentidos, a imaginação, a curiosidade, em relação de correspondência e cuidado (Ingold, 2020) com os outros seres, elementos e mundo. Neste sentido, as crianças e suas relações com os outros têm muito a ensinar. Então, por que não infanciar (Kohan; Fernandes, 2020) a educação ambiental?

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Relações sociedade e natureza. Criança e Natureza. Infâncias.

 

 


¿Por qué no infanciar la educación ambiental? Por cuerpos que bailan, sienten, descubren, juegan, imaginan con el mundo

 

RESUMEN: Este artículo se propone pensar en otras posibilidades de educación ambiental, que escapan a las lógicas occidentales dicotómicas, productivistas, coloniales. A partir de las experiencias vividas entre niños, educadora, otros seres y elementos del proyecto Investigadores de la naturaleza, en la Escuela Comunitaria Amantikyra, en Visconde de Mauá (Río de Janeiro), se pretende destacar la educación como algo que se construye con todo el cuerpo, con los sentidos, la imaginación, la curiosidad, en relación de correspondencia y cuidado (Ingold, 2020) con otros seres, elementos y el mundo. En este sentido, los niños y sus relaciones con los demás tienen mucho que enseñar. Entonces, ¿por qué no infanciar (Kohan; Fernandes, 2020) la educación ambiental?  

PALABRAS CLAVE: Educación Ambiental. Relaciones sociedade y naturaleza. Niños e naturaleza. Infancia.

 


ANDRADE, Júlia Flecher de. Por que não infanciar a educação ambiental? Por corpos que dancem, sintam, descubram, brinquem, imaginem com o mundo. ClimaCom – Desvios do “ambiental” [online], Campinas, ano 11, n. 27., dez. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/por-que-nao-infanciar/