Oficina “Plantas companheiras” | Alessandra Ribeiro, Emanuely Miranda e Susana Dias (Coord.)
Título | Oficina “Plantas companheiras”
Precisamos, urgentemente, reinventar nossa relação com as plantas e aprender a percebê-las como companhias vitais em nossas trajetórias. Foram as plantas que criaram uma Terra habitável, que geraram as condições climáticas que tornam a vida que conhecemos possível. São as plantas que oferecem alimento, proteção e cura para os humanos, nas mais diversas culturas. No entanto, a maioria de nós esqueceu disso. Vivemos um tempo presente marcado por catástrofes que resultam de uma severa desconexão com a Terra e com as plantas, o que fez com que se iniciasse uma especulação em torno a um novo nome para nossa era: Antropoceno, Capitaloceno ou Plantantionoceno. Nomes que, de diferentes modos, dão a ver a nefasta aliança entre o capitalismo, o colonialismo, as monoculturas e catástrofes como a sexta maior extinção de espécies e as mudanças climáticas. Os quilombos urbanos, particularmente, são lugares de florescimento de relações com os vegetais em bases não antropocêntricas e utilitaristas e que fazem frente aos sistemas de exploração através de diversos ritos e práticas ancestrais. Esta proposta de oficina busca criar diálogos múltiplos com as práticas e experiências com as ervas em um quilombo urbano de Campinas: a Casa de Cultura Fazenda Roseira da Comunidade Jongo Dito Ribeiro. Para isso, articula ontoepistemologias de matriz africana, artes visuais, botânica, estudos multiespécies e divulgação científica e cultural na produção coletiva de imagens e textos na relação com as ervas e ritos da Comunidade Jongo Dito Ribeiro. A proposta da oficina nasce das experiências do grupo de pesquisa e criação “multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências educações e comunicações” (CNPq), do Labjor-Unicamp, junto a diversas pessoas e plantas que têm se reunido em aulas e oficinas nas salas de aula da pós-graduação, nos quilombos, nas praças, nas ruas… Investigações, aulas e criações coletivas com as plantas resultaram, nos últimos anos, em diferentes livros- objeto: Floresta de luz (Dias, Wiedemann, 2017), Floresta2 (Dias, Penha, 2019), Árvores companheiras (2020) e Experiências de arvorecer (Dias, Vilela, 2021). São experiências que buscaram pensar as plantas como companheiras de ensino, pesquisa e extensão. Trata-se de uma perspectiva inspirada nos “estudos multiespécies” que aposta na noção de “alteridade significativa” para gerar novas sensibilidades para os seres mais que humanos (Haraway, 2021). Tais ações e materiais tiveram a revista ClimaCom como espaço privilegiado de divulgação, em suas diversas seções (Livros, Artes, Lab-Ateliê, Residências ClimaCom, entre outros). Consideramos, com essas experiências, que pensar nas plantas em termos de “espécies companheiras” (Haraway, 2021) é uma postura potente diante do tempo de catástrofes que vivemos, cuja denominação está em disputa: Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno… (Haraway, 2016). Um tempo que nos convoca a levar a sério uma crítica ao antropocentrismo e a dar atenção aos emaranhados entre humanos e diversos seres-coisas-forças-mundos que tornam as vidas possíveis. Particularmente, interessa pensar com as plantas porque elas criaram a Biosfera tal como a conhecemos, produziram um clima propício à vida na Terra e foram tratadas, durante muito tempo, em uma perspectiva moderna, ocidental e monocultural, como meros recursos disponíveis a exploração pelos humanos, como objetos que compunham um pano de fundo inerte das atividades humanas (Coccia, 2018). No entanto, essas perspectivas não são as únicas, há entre os povos africanos e da diáspora africana uma relação com as plantas de respeito e responsabilidade, através de práticas e rituais ancestrais de cultivo, uso medicinal e religioso, bem como através de ações políticas e culturais que visam a preservação das culturas, das matas e de seus donos e protetores. Destacamos em Campinas a atuação da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, que se consolidou em 2003 e que, desde então, busca fortalecer as raízes através de diversos projetos e eventos na cidade. Em 2008, como conta a historiadora e líder da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, Alessandra Ribeiro, a Associação Jongo Dito Ribeiro “protagonizou, junto a outras organizações parceiras, a fundação de um novo espaço de encontro, educação ambiental e cultura afro: a Casa de Cultura Fazenda Roseira” (Ribeiro, 2021, p. 80). Um espaço que estava à beira da destruição, onde trabalharam povos escravizados, e que foi ocupado pela comunidade que hoje “reaviva as multiplicidades da matriz africana” (Ribeiro, 2021, p. 74). Uma ocupação que pressupõe uma relação com as plantas de companhia vital cotidiana, seja nas práticas de cuidado com jardins e agrofloresta, ou na cozinha, nas salas e altar, ou nas rodas de jongo, com cantos e danças. Também entre os biólogos e botânicos encontramos práticas de pesquisa que visam sua proteção e a compreensão de seus papéis no ecossistema, bem como a constituição de arquivos (herbários) que permitem um amplo acesso e defesa dos modos de existir singulares de cada planta. Entre os artistas, localizamos práticas ligadas à fotografia, ao desenho, à colagem, à poesia, à pintura, entre outras, que buscam gerar novas visualidades e sensibilidades para o reino vegetal, que se fazem desde uma perspectiva multiespécie e decolonial. Essas práticas e praticantes, de diferentes modos, interrogam as lógicas antropocêntricas e capitalistas e propõem alianças com as plantas para florescer novos modos de habitar o mundo. No entanto, na maioria das vezes, essas práticas estão isoladas e pouco dialogam. Esta oficina desabrocha a partir do pressuposto de que o diálogo entre essas perspectivas poderá ampliar a potência dessas práticas de afetarem e serem afetadas por diversos públicos. O diálogo poderá, também, experimentar convivências e cocriações entre distintas ontoespistemologias, entre diferentes artes, ciências e filosofias, e colaborar com o combate, simultaneamente, ao racismo epistêmico e ao negacionismos. Propusemos nesta oficina três movimentos que já temos realizado em outras oportunidades para experimentar a relação com as plantas companheiras: a criação de seres encantados com plantas, palitinhos e argila (já feitas anteriormente em ações por Ana Lúcia Alves Lucchese e Susana Oliveira Dias); a criação de encontros entre elementos, texturas, figuras de diferentes fotografias e desenhos (com a técnica do carbono de Rafael Ghiraldelli); e a experimentação de fotoperformance com as plantas (já experimentada por Susana Dias em sua proposta Ecologia de devires).
| FICHA TÉCNICA |
Concepção e realização | Alessandra Ribeiro, Emanuely Miranda e Susana Dias (Coord.)
Criações | Alessandra Ribeiro, Aline G. Souza Arena, Juliana A. Manfrinato, Talita Maiana Cardoso, Mariana G. Vicente, Elinderléia Aparecida Ferreira, Emanuelly Miranda, Evandro dos Santos, João Fernando Ferreira e Susana Dias
Projetos | Esta oficina foi oferecida para o Programa de Educação Ambiental da Rede (ProgEA), da Rede Municipal de Ensino de Campinas, como uma proposta dos projetos: “Plantas companheiras: ervas e ritos da comunidade Jongo Dito Ribeiro” (aprovado no Prêmio de arte e Cultura dfa Dcult – Unicamp) e “Perceber-fazer floresta – alianças entre artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno” (Fapesp 2022/05981-9), coordenados por Susana Oliveira Dias.
Grupo | Grupo multiTÃO (CNPq) do Labjor-Unicamp.
Local | Labjor-Unicamp
Data | 28 de maio de 2024
RIBEIRO, Alessandra; MIRANDA, Emanuely; DIAS, Susana (Coord.). Oficina “Plantas companheiras”. ClimaCom – Territórios e povos indígenas [online], Campinas, ano 11, nº.26. jun. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/plantas-companheiras-oficina/
SEÇÃO ARTE | TERRITÓRIOS E POVOS INDÍGENAS | Ano 11, n. 26, 2024
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