Pinturas antigas reconstroem história das mudanças climáticas

Uma inusitada relação entre arte e ciência aparece num estudo recente que aponta que é possível, observando-se pinturas de pôr do sol, conhecer a história das mudanças climáticas nos últimos 500 anos.

The Scarlet Sunset circa 1830-40 by Joseph Mallord William Turner 1775-1851

Por: Daniela Klebis | Foto: The scarlet sunset (circa 1830-40)

Uma inusitada relação entre arte e ciência aparece num estudo recente que aponta que é possível, observando-se pinturas de pôr do sol, conhecer a história das mudanças climáticas nos últimos 500 anos. O grupo de cientistas, formado por pesquisadores da Grécia e da Alemanha, observou que as frações de vermelho para verde, medidos nas cores do ocaso em quadros de grandes mestres, são estatisticamente correlacionadas com a quantidade de aerossóis presentes na atmosfera. Quanto mais quentes as cores do poente, maior a concentração dessas partículas no ambiente. Os resultados do estudo foram publicados na revista Atmospheric Chemistry and Physiscs de março.


[icon color=”#333″ size=”30px” name=”moon-file-pdf”] Revista Atmospheric Chemistry and Physiscs de março.


Após a análise de 124 quadros, pintados entre os anos de 1500 e 2000, os estudiosos constataram que os poentes mais impressionantemente alaranjados e vermelhos coincidiam com as épocas das 50 maiores erupções vulcânicas do período. O estudo aponta ainda que a revolução industrial também gerou semelhante impacto nas paisagens, e desde então, observa-se que as tintas quentes tornam-se mais e mais dominantes nessas pinturas. Segundo os pesquisadores, as obras revelam que cinzas e gases dissipadas durante esse eventos alteram as colorações dos raios solares que incidem sobre a Terra, fazendo com que o por do entardecer apareça mais vermelho. Um exemplo são as pinturas de J.M.W. Turner que seguem a erupção do vulcão Tambora, na Indonésia, em 1815.

Christos Zerefos, professor de física atmosférica da Academia de Atenas, na Grécia é quem lidera a equipe de pesquisadores. Segundo ele, entender como o cérebro dos artistas computa os verdes e vermelhos é a chave para compreender como as mudanças atmosféricas podem ser observadas nas pinturas. Para dar suporte maior a tais conclusões, o grupo encomendou pinturas de pôr do sol na ilha grega de Hidra, após a passagem de uma tempestade de poeira pelo deserto do Saara em junho de 2010. O pintor não estava ciente do evento, mas suas pinturas capturaram as alterações nas frações das cores tão precisamente quanto as imagens digitais que serviram de base para comparação.

O estudo cria uma interação entre conhecimentos, científicos e artísticos, ao indicar que a sensibilidade do artista em perceber o ambiente vai muito além da informação objetiva que temos disponível.