Por: Meghie Rodrigues
Colaboradores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) se reuniram no dia 18 de maio, na Malásia, em um simpósio da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado “Além do Produto Interno Bruto (PIB) – Transicionando para a Sustentabilidade”. A intenção foi discutir uma tendência em pesquisas socioeconômicas no mundo inteiro: o valor imaterial como indicador de progresso social de um país.
Em uma reportagem publicada na ocasião do simpósio, o jornal britânico The Independent ressaltou, entre as possibilidades apontadas no encontro, que a soma das máquinas de lavar de uma localidade poderia servir com um indicador da quantidade de casas com acesso à água encanada e energia elétrica. Ou ainda, que número e o som de pássaros na cidade indicariam a presença de biodiversidade em um local.
Incorporando cada vez mais medidas não-monetárias, essa nova geração de indicadores são uma evolução do tradicional Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que cruza PIB per capita, expectativa de vida e níveis de educação. Um exemplo é o Better Life Index, idealizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e que agrega onze variáveis consideradas essenciais para medir a qualidade de vida de um país. Além de saúde, educação, salários e segurança, o indicador observa também equilíbrio entre vida pessoal e profissional, engajamento cívico e cuidado com o meio ambiente. Dos 36 países analisados, o Brasil se encontra em 32o lugar no ranking geral, à frente apenas de Rússia, Grécia, México e Turquia.
Outro exemplo é o Social Progress Index, publicado no início de abril. Pensado pela ONG norte-americana Social Progress Imperative, o índice agrega 54 indicadores sociais e ambientais divididos em três grandes áreas: necessidades humanas básicas, fundamentos do bem-estar e oportunidade em 132 países (ranking no qual o Brasil está em 46o lugar) – segundo a ONG, os de onde foi possível extrair dados para compor o índice.
Para o economista da Universidade Federal do Paraná Flávio Gonçalves, o documento em questão “não é exatamente um índice, mas um relatório”. Para ele, tantas variáveis analisadas acabam por diluir o foco do documento, junto com o que se quer realmente medir. “Isso não ajuda muito na hora de elaborar políticas públicas”, diz. Ele observa que é para a elaboração de políticas que os índices existem. Mas para ser eficazes, precisam ter um foco mais específico, já que esse foco facilita a localizar o problema que se quer resolver.
Ademar Romeiro, economista da Universidade Estadual de Campinas, discorda. “Estes indicadores servem não apenas como balizadores de política, mas também de instrumentos de conscientização”, diz. Conscientização que pode ser também ambiental, já que estes indicadores englobam a qualidade de preservação do meio ambiente entre suas variáveis. “Há economistas ambientais que dizem que o PIB soma o que deveria subtrair. Se você investe em um sistema de filtragem do ar na sua casa por causa da poluição, isto é um gasto defensivo que deveria entrar negativamente, e não positivamente, para o PIB”, explica Romeiro.
A partir daí, foram criados vários índices que se debruçam exclusivamente sobre o tema, como o Environmental Sustainability Index, encabeçado pela Universidade de Columbia, ou os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, idealizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Gonçalves lembra, no entanto, que, a fim de se ter um foco mais preciso sobre os reais problemas, é preciso, além da diminuição de variáveis analisadas por relatório, que a metodologia funcione sob medida para cada país ou região analisada. As necessidades de cada população difere no tempo e no espaço. “Dizer que todas as sociedades podem ser representadas pelo mesmo agente é algo muito forte”, pondera. Romeiro, por outro lado, não vê problemas na abrangência destes índices e considera que “a consequência em termos de políticas vai depender de como a democracia funciona em cada país, de como os governantes são responsabilizados ou de como a população pressiona seus governos. Depende da vitalidade da sociedade civil de cada país”.
Colaboradores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) se reuniram no dia 18 de maio, na Malásia, em um simpósio da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado “Além do Produto Interno Bruto (PIB) – Transicionando para a Sustentabilidade”. A intenção foi discutir uma tendência em pesquisas socioeconômicas no mundo inteiro: o valor imaterial como indicador de progresso social de um país.
Em uma reportagem publicada na ocasião do simpósio, o jornal britânico The Independent ressaltou, entre as possibilidades apontadas no encontro, que a soma das máquinas de lavar de uma localidade poderia servir com um indicador da quantidade de casas com acesso à água encanada e energia elétrica. Ou ainda, que número e o som de pássaros na cidade indicariam a presença de biodiversidade em um local.
Incorporando cada vez mais medidas não-monetárias, essa nova geração de indicadores são uma evolução do tradicional Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que cruza PIB per capita, expectativa de vida e níveis de educação. Um exemplo é o Better Life Index, idealizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e que agrega onze variáveis consideradas essenciais para medir a qualidade de vida de um país. Além de saúde, educação, salários e segurança, o indicador observa também equilíbrio entre vida pessoal e profissional, engajamento cívico e cuidado com o meio ambiente. Dos 36 países analisados, o Brasil se encontra em 32o lugar no ranking geral, à frente apenas de Rússia, Grécia, México e Turquia.
Outro exemplo é o Social Progress Index, publicado no início de abril. Pensado pela ONG norte-americana Social Progress Imperative, o índice agrega 54 indicadores sociais e ambientais divididos em três grandes áreas: necessidades humanas básicas, fundamentos do bem-estar e oportunidade em 132 países (ranking no qual o Brasil está em 46o lugar) – segundo a ONG, os de onde foi possível extrair dados para compor o índice.
Para o economista da Universidade Federal do Paraná Flávio Gonçalves, o documento em questão “não é exatamente um índice, mas um relatório”. Para ele, tantas variáveis analisadas acabam por diluir o foco do documento, junto com o que se quer realmente medir. “Isso não ajuda muito na hora de elaborar políticas públicas”, diz. Ele observa que é para a elaboração de políticas que os índices existem. Mas para ser eficazes, precisam ter um foco mais específico, já que esse foco facilita a localizar o problema que se quer resolver.
Ademar Romeiro, economista da Universidade Estadual de Campinas, discorda. “Estes indicadores servem não apenas como balizadores de política, mas também de instrumentos de conscientização”, diz. Conscientização que pode ser também ambiental, já que estes indicadores englobam a qualidade de preservação do meio ambiente entre suas variáveis. “Há economistas ambientais que dizem que o PIB soma o que deveria subtrair. Se você investe em um sistema de filtragem do ar na sua casa por causa da poluição, isto é um gasto defensivo que deveria entrar negativamente, e não positivamente, para o PIB”, explica Romeiro.
A partir daí, foram criados vários índices que se debruçam exclusivamente sobre o tema, como o Environmental Sustainability Index, encabeçado pela Universidade de Columbia, ou os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, idealizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Gonçalves lembra, no entanto, que, a fim de se ter um foco mais preciso sobre os reais problemas, é preciso, além da diminuição de variáveis analisadas por relatório, que a metodologia funcione sob medida para cada país ou região analisada. As necessidades de cada população difere no tempo e no espaço. “Dizer que todas as sociedades podem ser representadas pelo mesmo agente é algo muito forte”, pondera. Romeiro, por outro lado, não vê problemas na abrangência destes índices e considera que “a consequência em termos de políticas vai depender de como a democracia funciona em cada país, de como os governantes são responsabilizados ou de como a população pressiona seus governos. Depende da vitalidade da sociedade civil de cada país”.