Paisagem arrebatada | Beá Meira
Paisagem arrebatada
Em 2016, no ano seguinte ao desastre ambiental de Mariana (MG) – causado pelo rompimento da barragem de rejeitos da extração de minério de ferro em Bento Rodrigues – realizei um trabalho de formação de professores de Arte em Colatina (ES). A partir dessa experiência, vivenciei as consequências da mineração no Rio Doce e passei a pesquisar de modo sistemático o impacto da mineração industrial na paisagem. É uma atividade ineficiente que movimenta milhares de toneladas de terra, devastando territórios, para explorar alguns quilos de minério e substâncias terrosas.
Olhar para mineração me colocou em modo de atenção para a aceleração dos processos de predação a que estamos submetidos no Antropoceno. Ao produzir imagens, expresso minha percepção e o incômodo de viver num mundo ruinoso, movido pela cobiça de poucos e manipulado por desinformação e forças messiânicas.
Partindo de vivências, fotografias, dados e mapas, busco descrever de forma política, ética e estética as violentas transformações que decorrem da geo-história da TERRA. Nesse processo, variados agentes – natureza e cultura; humanos e não humanos; sujeitos e objetos – fazem emergir, de forma indistinta e acelerada, a fricção de tempos ancestrais e futuros, que revela uma TERRA animada: Gaia.
A hipótese de Gaia foi criada em 1965 por James Loverlock, no estudo de Marte, o planeta inerte, realizado no Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, Califórnia e depois desenvolvida em colaboração com a microbiologista Lynn Margulis. Loverlock compreendeu que o desequilíbrio químico da atmosfera da Terra a torna um planeta vivo – o que representou uma nova forma de conceituar, entender e imaginar a relação entre os seres vivos e a paisagem da TERRA. Conceber um mundo onde tudo está em atividade, em que as vidas interagem com o ambiente, e em que a Terra responde com ciclos de retroalimentação, é desafiador. Que essa hipótese esteja sendo revelada ao mesmo tempo em que um novo regime climático da TERRA nos coloca diante de uma catástrofe, é algo de uma dimensão que resistimos a compreender. Todo o esforço de expressar tais questões parece insignificante.
Imagem 01 | Lama e luta, 2016
Imagem 02 | Vazamento de óleo no oceano, 2019
Imagem 03 | Mudança do regime termodinâmico global, 2020
Imagem 04 | Óleo na costa brasileira, 2019
Imagem 05 | Lembrança do dia do fogo no Parque Nacional do Jamanxim, 2019
Imagem 06 | Garimpo no Tocantins, 2020
Imagem 07 | Fogo no Passo do Lontra, 2020
Imagem 08 | A partida do A 68, 2020
Imagem 09 | A ruptura do A 68 na Georgia do Sul, 2020
| FICHA TÉCNICA |
Imagem 01 | Tinta acrílica e guache sobre papel, 95 x 55 cm
Imagem 02 | Nanquim e acrílica sobre papel, 100 x 110 cm
Imagem 03 | Guache e caneta sobre papel, 40 x 50 cm
Imagem 04 | Guache e caneta sobre papel, 40 x 50 cm
Imagem 05 | Guache e caneta sobre papel, 50 x 76 cm
Imagem 06 | Caneta sobre papel, 35 x 95 cm
Imagem 07 | Guache e caneta sobre papel, 40 x 50 cm
Imagem 08 | Guache e caneta sobre papel, 25 x 35 cm
Imagem 09 | Guache e caneta sobre papel, 25 x 35 cm
Beá Meira
Instituto Pavão Cultural
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MEIRA, Beá Paisagem arrebatada. ClimaCom – Desastres [online], Campinas, ano 10, nº. 25. nov. 2023. Available from:https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/paisagem-arrebatada/
SEÇÃO ARTE | DESASTRES | Ano 10, n. 25, 2023
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