Os relatos multiespécies de Donna Haraway e Anna Tsing: criando mundos possíveis para além do Plantationocene em diálogo com as cosmovisões indígenas | Marina Souza Leão Araujo e Fagner José Coutinho de Melo | ClimaCom


Os relatos multiespécies de Donna Haraway e Anna Tsing: criando mundos possíveis para além do Plantationocene em diálogo com as cosmovisões indígenas | Marina Souza Leão Araujo e Fagner José Coutinho de Melo


 

Marina Souza Leão Araujo [1]

Fagner José Coutinho de Melo [2]

Plantationocene é um aparato conceitual para se referir e compreender o processo de transformação devastadora de diversos tipos de fazendas, pastagens e florestas geridas pelo homem em plantações extrativistas marcadas pela forte dependência no trabalho escravo e de outras formas de trabalho explorado, alienado e espacialmente transportado, que marcou, notadamente, a invasão e colonização de territórios no hemisfério sul por algumas potências europeias durante o século XVI (Haraway; Tsing, 2019). O termo, cunhado coletivamente por um grupo de pesquisadores durante um encontro que ocorreu na Universidade de Aarhus (Haraway et al., 2016), na Dinamarca, em 2014, tinha como objetivo propor uma alternativa ao termo Anthropocene, que faz referência ao impacto ambiental causado por ações humanas e que é considerado por muitos geólogos como uma era geológica própria (Haraway et al., 2016). A racionalidade por trás do termo Plantationocene, por outro lado, está muito menos relacionada à criação de uma nova era geológica e muito mais ligada à adição de fatores complexos que se somam, contextualizam e situam a ação isolada do homem para explicar as catástrofes ecológicas (Tsing, 2022). É daí que surge a noção de aparato conceitual, na medida em que o Plantationocene faz uso de uma série de conceitos como o colonialismo, o capitalismo e a perpetuação de hierarquias e distinções raciais para entender como o sistema de plantação escravagista foi o modelo e o motor para o desenvolvimento carbon-greedy machine-based factory system (Haraway, 2015), responsável por grande parte dos impactos ambientais observados hoje.

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 01/03/2024

Aceito em: 01/06/2024

 

[1] Estudante de mestrado no Programa de Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade de Pernambuco. Email: marina.araujo98@gmail.com.

[2]  Professor Adjunto na Universidade de Pernambuco (UPE). Email: fagner.melo@upe.br.

Os relatos multiespécies de Donna Haraway e Anna Tsing: criando mundos possíveis para além do Plantationocene em diálogo com as cosmovisões indígenas

 

RESUMO: O presente ensaio busca explorar a intersecção entre as obras de Donna Haraway e Anna Tsing, especialmente no que tange aos relatos multiespécies como mecanismo de confabular novos mundos, tarefa necessária diante dos desequilíbrios socioambientais característicos deste século. Para tanto, toma-se como referencial de partida o Plantationocene, um aparato conceitual alternativo ao Antropoceno, que envolve uma série de conceitos como o colonialismo, o capitalismo e a perpetuação de hierarquias e distinções raciais para entender o desenvolvimento desses desequilíbrios assentados, sobretudo, na dicotomia homem/natureza. Os relatos multiespécies surgem como forma de superar essa dicotomia e abrir espaços para criação de mundos possíveis para além do Plantationocene, o que o ensaio propõe fazer em diálogo com as cosmovisões indígenas, que oferecem valiosos conhecimentos e práticas que podem informar e materializar esses relatos. 

PALAVRAS-CHAVE: Relatos Multiespécies. Relação Homem/Natureza. Plantationocene. Cosmovisões Indígenas


Donna Haraway and Anna Tsing’s multi-species stories: creating possible worlds beyond the Plantationocene in dialogue with indigenous cosmovisions

 

ABSTRACT: This essay aims to explore the intersection between Donna Haraway and Anna Tsing’s works, particularly regarding multi-species stories as a mechanism to envision new worlds, a necessary task in the face of the current socio-environmental degradation and ecological imbalances. To do so, the Plantationocene is used as an alternative conceptual framework to the idea of Anthropocene, in order to address and take into account a number of concepts such as colonialism, capitalism, and the perpetuation of hierarchies and racial distinctions to understand the development of these entrenched imbalances, primarily in the dichotomy between humans and nature. Within this context, multi-species stories emerge as a way to overcome this dichotomy and to open new pathways to build other possible worlds beyond the Plantationocene, which the essay proposes to do in dialogue with indigenous cosmovisions, which offer valuable knowledge and practices that can inform and materialize these stories. 

KEYWORDS: Multi-species stories. Human/nature relationship. Plantationocene. Anthropocene. Indigenous Cosmovisions.


ARAUJO, Marina Souza Leão; MELO, Fagner José Coutinho. os relatos multiespécies de Donna Haraway e Anna Tsing: criando mundos possiveis para além do Plantationocene me diálogo com as cosmovisões indígenas.ClimaCom – Territórios e povos indígenas [online], Campinas, ano 11, nº. 26. jun. 2024. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/os-relayod-multiespecie/