Orvalho, ou caos úmido | Sabina Simón
Título | Orvalho, ou caos úmido
“Eu sou o caos úmido, a umidade que preserva a natureza e dá vida. Eu passo de plano, sou o orvalho celeste e fertilizo a terra. Sim, estou perto de todos os seres vivos que respiram e lhes dou, com um sopro de manto congelado, o êxtase de um novo dia.” Para a autora e pesquisadora na intersecção entre arte e ciência, Sabina Simon (Barcelona, 1980 – Rio de Janeiro), a água é o elemento-chave para (re)formular nossa presença neste fascinante planeta, pois ela contém a biodiversidade que já existiu e existirá. Como um dos múltiplos gestos da metamorfose da água, o fenômeno conhecido como “ponto de orvalho” representa um evento cada vez mais escasso dado o aumento das temperaturas no planeta. Neste acontecimento, cada partícula elementar da união entre hidrogênio e oxigênio é petrificada pela inclemência de uma noite longa e fria, que derrete-se com o calor dos primeiros raios de sol. Elas brilham com a Estrela por alguns minutos e então sua matéria se transforma em um mundo líquido, perdendo-se nas profundezas da terra que nutre. A fragilidade e impermanência deste evento escapa ao controle humano, que percebe tudo como um recurso para si. Como disse o filósofo indígena Ailton Krenak, “A vida é inútil”, e desta vida sem utilidade, a natureza tira a poesia e a força para continuar existindo. Como parte da residência artística “Pós-humanismo / Antropoceno, Outros Seres e Arte Ecológica” (janeiro de 2025, Ras de Terra, Espanha), Sabina Simon criou uma série de 4 desenhos de grande formato sobre frágil papel artesanal, utilizando grafite e aquarela hidratada com o orvalho coletado durante as frias noites do inverno europeu. O orvalho no trabalho representa a natureza delicada e incomensurável da manifestação da água sob condições específicas de temperatura e umidade, tornando o trabalho site-time-specific. Como resultado, a instalação final apresenta as 4 lâminas juntas com a água de orvalho latente, formando uma obra de grande formato colocada sobre uma superfície de vidro que conecta o interior do espaço com o mundo exterior. Por meio desse arranjo, a artista busca enfatizar a interdependência entre arte, natureza e experiência sensorial, promovendo uma reflexão sobre a geopoética da água e a importância de escutá-la.
(As imagens anexas e o link dos vídeos mostram tanto a pesquisa inicial, o processo de
congelamento dos desenhos pelo orvalho, assim como a instalação final no Open Studio)
| FICHA TÉCNICA |
TÍTULO DA OBRA | “Rocío, o caos húmedo” (PORT. “Orvalho, ou caos úmido”)
AUTORA | Sabina Simón
ESPAÇO DE PRODUÇÃO | Ras de Terra (Espanha)
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA COLABORATIVA | “Antropoceno / Posthumanismo, otros seres y un arte ecológico” (PORT. “Antropoceno / Pós-humanismo, outros seres e arte ecológica”)
CURADORIA DA RESIDÊNCIA | Mónica Sánchez-Robles
CO-FINANCIAMENTO | Programa PICE RESIDENCIAS da AC/E (Ação Cultural Espanhola, programa do governo da Espanha) e Residência Ras de Terra (Espanha)
TÉCNICA | 4 desenhos feito com grafitto, lápiz de cor e aquarela com água de orvalho sobre papel japonés de arroz 9gr, 97x63cms cada. Juntos fazen um total de 194x126cms.
PAÍS DE PRODUÇÃO | Espanha
ANO DE PRODUÇÃO | 2025
OPEN STUDIO | 26/01/25 nas instalações de Ras de Terra, Espanha
LINKS INFO | <https://www.instagram.com/aderivalab/> ; <https://www.rasdeterra.com/programacion/antropoceno-posthumanismo/>
SIMÓN, Sabina. Orvalho, ou caos úmido. ClimaCom – Manifesto das águas. [online], Campinas, ano 12, n. 28 jun. 2025. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/orvalho-ou-caos-umido/
SEÇÃO ARTE | MANIFESTO DAS ÁGUAS | Ano 12, n. 28, 2025
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