O carrego colonial e a possibilidade de invenção nas frestas | Evandro Arruda de Martini
Evandro Arruda de Martini [1]
SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018. 124 p.
SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz. Flecha no tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019. 112 p.
Existem muitas frestas.
Nos espaços deixados operam muitos contragolpes,
[…] outras possibilidades de invenção do mundo. (Simas & Rufino, 2018, p.97-98)
Introdução
Em dois livros lançados em 2018 e 2019, Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino buscam refletir sobre uma série de violências que nos formaram enquanto sociedade brasileira.
“O chamado Novo Mundo é uma invenção colonial. Ao mesmo tempo em que alçou o Ocidente na modernidade, nos lançou em um abismo onde somos herdeiros dos genocídios, estupros, assaltos, subalternizações e precariedades de um sistema de dependências que nos mantêm servis às políticas/economias/racionalidades/ideologias do Ocidente europeu (Simas & Rufino, 2018, p.97-98).”
Simas e Rufino dialogam com autores já clássicos sobre o colonialismo, como Aimé Césaire e Frantz Fanon, bem como com brasileiros que, ao falarem sobre o samba e as cidades (Sodré, 2005) ou sobre relações entre povos indígenas e missionários jesuítas (Viveiros de Castro, 2002), também estão sempre abordando como pano de fundo o “empreendimento de morte” (S. & R., 2018, p.101) [2] que foi a história da colonização das Américas. Nesta resenha, apresento dois aspectos relevantes desses dois livros escritos a quatro mãos: (i) a preocupação dos autores em interpretar o Brasil a partir de conceitos que refletem os conhecimentos acumulados nas práticas populares e ancestrais; (ii) a lembrança constante da violência genocida do processo civilizatório, reiterada não como mero lamento, mas associada à discussão sobre aquilo que foi inventado nas encruzilhadas e frestas deixadas pela racionalidade dominante.
Antes, porém, faço breves comentários sobre a biografia dos autores e sobre a forma desses dois livros que transitam entre o estilo leve do melhor da crônica brasileira e o objetivo – mais pretensioso – de discutir temas espinhosos da contemporaneidade sem aderir a epistemologias, conceitos ou métodos de apresentação típicos das ciências humanas universitárias que, queiram ou não, são herdeiras – mais críticas ou mais enquadradas – de um método científico eurocêntrico.
(Leia a resenha completa em PDF).
Recebido em: 15/10/2023
Aceito em: 15/11/2023
[1] Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Email: evandroevandro@gmail.com