“Nós temos que romper com a lógica antropocêntrica e pensar na vida para além da vida humana” – Entrevista com Édson Kayapó | Emanuely Miranda

Em entrevista à Climacom, Édson Kayapó afirma que o reconhecimento das múltiplas formas de existir faz parte do currículo de escolas indígenas

Por | Emanuely Miranda

Editora | Susana Dias

Desde a invasão dos portugueses, os modos de existir dos povos originários sofreram ataques nas formas de genocídios, ecocídios e epistemicídios. Essas violências, que se retroalimentam, atingem os indígenas desde o começo da vida. Nesse sentido, a escola se consagra como um espaço de afirmação e resistência. No entanto, não basta qualquer escola. Faz-se necessário prezar por uma educação que coloque as línguas e as cosmologias tradicionais em um lugar de respeito e protagonismo.

O historiador e pesquisador Édson Kayapó (doutor em Educação, História, Política e Sociedade pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) dedica-se a estudar e fomentar o desenvolvimento de escolas indígenas. Em entrevista à Climacom, ele fala a respeito, bem como lança um olhar histórico sobre o processo de colonização que seu deu em território brasileiro e enfatiza a importância de pensar a vida em todas as suas dimensões.

ClimaCom: No artigo Os Karipuna do Amapá e a educação: tensões sociais e resistência na fronteira com a Guiana Francesa, você comenta sobre um sistema educacional diferenciado para a população indígena, que leva em conta tanto as línguas originárias quanto as cosmologias dos povos tradicionais. De que modo essa autonomia favorece a formação de crianças e adolescentes sensíveis às questões ambientais?

Édson Kayapó: Quando os portugueses chegaram aqui no Brasil, não pediram licença e não dialogaram com os nossos povos. Muito pelo contrário! Fizeram um movimento de expropriação dos territórios. Realizaram por aqui um movimento de epistemicídio, considerando que as formas próprias de organização indígena e seus modos de pensar e de organizar as coisas eram inferiores. Na verdade, pensaram, inclusive, na ideia de que os indígenas eram inferiores como um todo: biologicamente e culturalmente inferiores. E, a partir daí, houve toda uma montagem de uma estrutura de imposição de uma nova língua, e de um novo modo de postura. Houve a imposição de um modelo educacional que não dialogava com as tradições dos nossos povos. Assim foi durante séculos. E esse processo, obviamente, não foi sem perdas. Elas foram muito grandes e muitas delas irreparáveis.

(Leia a entrevista completa em PDF).