NoctilucaScreen Project: Incertezas

NocticulaScreen Project: Incertezas
por Hambre | espacio cine experimental + ClimaCom


Noctiluca scintillans são faíscas de mar, pequenos seres bioluminescentes que produzem o mareel ou o Milky seas effect. Elas transformam o mar numa grande tela bioluminescente, numa grande tela não-humana.

Fazer aparecer essa grande tela não-humana é o desafio de um cinema que abraça as incertezas e tem a coragem de se abismar na aventura da criação de novas matrizes perceptivas. Um cinema que não tem medo de delirar blocos sensíveis outros que abram o humano ao afirmar que não podemos controlar nosso olhar e muito menos nosso olhar pode controlar o mundo. O único que pode tornar potente nosso olhar é fazer dele passagem de mundos, fluxo de cosmos. Fazer dele a posição relacional que faz brilhar o mar, que faz da tela a moradia de seres de luz, de bioluminescências entre sonoridades e visualidades.

No entanto, talvez seja pertinente começar por diagnosticar esse nosso olhar humano demais sobre o mundo. A série “Human Nature” de Robert Todd abre entre sonoridades e visualidades um tempo de meditação e contemplação, um sutil vácuo perceptivo que apresenta, mas ao mesmo tempo faz divergir a forma-homem que impomos sobre o mundo querendo domesticá-lo, querendo controlá-lo… Um mundo antrópico nos é apresentado por Todd, um mundo que mesmo assim abre fugas e acolhe a incerteza no paradoxo de não se adequar ao tempo do controle, do extracionismo e consumismo que sufocam o cosmos e fazem do mundo um conjunto de commodities. A tela faz escoar cintilâncias não humanas, pois mesmo estando num mundo antropomórfico o tempo já é o do cosmo.

A incerteza da vida, do estar vivo insiste no diferir pictórico e cromático que Anders Ramsell propõe nas suas variações do clássico “Blade Runner”, como se a incerteza do vivente passasse por um perder o contorno que nos faz sentir que a matéria é pura vibração.

Pura vibração e variação são modos como sentimos que um certo cinema pode apostar em fazer aparecer novas matrizes perceptivas e onde a incerteza ganha consistência como procedimento estilístico singular.  Os trabalhos de Juan Pablo Villegas, Pablo Mazzolo, Wolfgang Lehmann e Scott Barley, nos fazem sentir a vertigem de um olhar que já não reconhece mais um horizonte claro e distinto, mas que é pura dissolução de mensurabilidades, onde as sonoridades e visualidades são pura fuga rítmica. Não sabemos mais onde começa e onde termina o céu, a terra e o mar, eles se encontram e confundem, eles afirmam sua potência em infinitas direções. A matéria é reanimada, ganha vivacidades novas, fazendo do mundo essa grande tela de luzes vivas onde o tempo do cosmos pode proliferar, onde podemos co-habitar o mundo com e entre as bioluminescências.

Sebastian Wiedemann
Curador


https://vimeo.com/nocticulascreen

Robert Todd’s Human Nature Series

Blade Runner – The Aquarelle Edition

FE

OAXACA TOHOKU

Meer

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