Por: Meghie Rodrigues | Foto: Coletivo MultiTÃO
O governo americano publicou a terceira versão do National Climate Assessment (NCA), no início de maio. O documento avalia os impactos presentes e desafios futuros que o país terá de enfrentar por causa das mudanças climáticas. Elaborado por pesquisadores do Programa de Pesquisas sobre Mudanças Globais dos Estados Unidos, o relatório indica uma forte correlação entre aquecimento global e ação humana, ressoando as conclusões do relatório elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), publicado no início de abril.
Agricultura afetada por secas cada vez mais frequentes e aumento do risco de queimadas em florestas do nordeste dos EUA estão entre as previsões que o documento assinala para os próximos anos. Diante de tal quadro, a Casa Branca planeja lançar uma política regulatória sobre mudanças climáticas em junho – mas não sem ser acompanhada de protestos. Republicanos alegam que o relatório dá apoio a políticas de corte de empregos e desaquecimento da economia, já que pode atrapalhar na votação do Keystone XL – duto que, se aprovada a construção, levará petróleo de areias asfálticas do Canadá ao Texas.
Oposicionistas também colocam em dúvida qual seria a parcela de atividade humana responsável pelas mudanças climáticas.
O embate segue, oferecendo pouco espaço para ações reais que ofereçam contraponto ao aquecimento global. Para o filósofo Bruno Latour, esta inação deriva da tentativa de se discutir o assunto na busca de um panorama completo de todos os fatos acerca de um tema antes que uma decisão palpável seja tomada. Isto, de acordo com ele, é impossível, já que as pessoas nunca agem tendo em vista um conhecimento total dos fatos. Em seminário no último mês de setembro no Peter Wall Institute em Vancouver, Canadá, Latour asseverou que “todos sabemos que agir significa assumir riscos e fazer apostas”.
Ele considera que as pessoas têm, antes de decidir sobre sua opinião e ação, a possibilidade de escolher se esperam um “consenso da comunidade científica” ou se observam as posições de grupos variados de cientistas que não concordam entre si. Ele enfatiza que não podemos mais “nos esconder atrás do veredito da ‘comunidade científica’ como um todo”, porque consensos estão cada vez mais difíceis de ser alcançados.
Torna-se mais delicada a separação entre fatos científicos e elaboração de políticas para se lidar com eles – embora um elemento deva complementar – não anular – o outro.